A rede privada de ensino Elite enviou às famílias uma ‘Cartilha de Retorno das Aulas Presenciais’, afirmando estar pronta para receber os alunos. No documento, a instituição diz que aguarda as definições dos órgãos públicos, mas que a expectativa é de retornar às atividades presenciais no início de agosto, com atenção a medidas de prevenção ao coronavírus, como distanciamento, sanitização e monitoramento.
“Queridos alunos, já estamos preparados para receber vocês novamente
na nossa escola. Estamos com muita saudade e ansiosos para o reencontro!”, diz um trecho da cartilha. “Estamos muito felizes que o dia de ter novamente nossos alunos dentro da nossa escola está chegando.”
Logo abaixo, o documento explica as medidas de distanciamento definidas pela instituição, como sanitização, máscaras, limite de alunos por turma, não compartilhamento de materiais e brinquedos e o fechamento de cantina, biblioteca, salas de estudo e parques.
A cartilha fala também de revisão e reposição de aulas, avaliações e do “ensino híbrido, que mescla momentos em que o aluno estuda de forma autônoma, aproveitando ferramentas on-line, e momentos em que a aprendizagem acontece de forma presencial, valorizando a interação entre alunos e o professor”.
Quando recebeu o comunicado, no dia 7 de julho, a bancária Patrícia Carbonal, mãe de uma aluna da unidade de São José dos Pinhais, se indignou com a possibilidade do retorno prematuro às aulas, em meio à pandemia do coronavírus. As escolas particulares têm, segundo ela, feito pressão para retorno a todo custo. “Os meus filhos não voltam. Eles podem perder o ano letivo, mas não vão voltar. Como fazer um distanciamento dentro de uma sala de aula com 38 alunos?”, questiona Patrícia.
O Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR) reforça que “as aulas presenciais foram suspensas por conta de um decreto estadual sanitário e somente poderão retornar quando este perder validade”. A entidade informa que foi criada, pelo Governo do Estado, uma comissão para avaliação da retomada das aulas “com o objetivo de estabelecer um plano comum de retorno das atividades presenciais nas Redes Pública e Particular de Ensino.”
Manifesto e preocupação
Embora os decretos em vigência determinem a suspensão do ensino presencial até dia 2 de agosto, não há previsão de retorno antes de setembro, já afirmou o governador Ratinho Jr (PSD).
Em uma carta de manifesto enviada à instituição, Patrícia questiona a “decisão unilateral da escola em somente informar e impor, sem debater com a comunidade escolar […] a intenção de retomada das atividades presenciais para cumprimento do restante do calendário escolar 2020 num contexto de pandemia mundial de coronavírus”.
Ela pede que – quando houver claramente definição do Poder Executivo sobre a continuidade ou não da suspensão das aulas – “se inicie o diálogo com os responsáveis pelos alunos, para que todos se sintam em segurança para enviar seus filhos para escola”.
Risco de Contágio
A mãe recorda estudo recente da Universidade de Granada, na Espanha, em que uma turma com 20 crianças, considerando interações escolares e familiares, têm potencial de contato com outras 74 pessoas no primeiro dia de aula. No segundo dia, esse círculo de interação pode chegar a 808 indivíduos.
“Sem considerar que essas pessoas poderiam entrar em contato com outras em mercados e transporte público. É sempre uma angústia pensar no risco a que todos estamos submetidos e saber que não somos somente responsáveis por nossa própria exposição e saúde mas, sim, somos responsáveis coletivamente, especialmente pelas pessoas em situação de risco”, diz a mãe. “Manter as crianças fora do ambiente escolar não diz respeito somente ao não contágio entre elas, mas a muitas outras pessoas de sua convivência.”
Comunicado seria para DF e MT
Após a manifestação, a escola entrou em contato com Patrícia para esclarecer o comunicado. Segundo ela, o colégio alegou ter se equivocado no envio do e-mail. A rede de ensino tem unidades em diversos Estados e a intenção teria sido enviar o documento apenas às famílias das escolas do Distrito Federal (DF) e do Mato Grosso (MT).
O Plural solicitou a posição da instituição, mas até o momento da publicação desta reportagem, a escola não se manifestou sobre a ‘Cartilha de Retorno às Aulas Presenciais’.