Entrevista: ex-vereador Cristiano Santos se recupera das sequelas da Covid-19

“Essa doença é cruel, viu?”, diz o apresentador, que segue andando com o apoio de muletas

Dois meses após deixar o hospital, Cristiano Santos conta que ainda se sente bastante fragilizado. O apresentador da Band estava terminando seu mandato como vereador de Curitiba, no ano passado, quando foi contaminado pelo coronavírus e teve de passar Natal e Ano Novo longe da família, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 

Por telefone, ele contou ao Plural que foram 62 dias de batalha e 26 quilos perdidos, mas as sequelas ainda são muitas. Além de ter que lidar com a vulnerabilidade emocional e o medo de contrair a nova cepa, ele ainda faz fisioterapia para conseguir andar sem o apoio de muletas, enfrenta a queda de cabelo e a mudança no paladar. 

Plural: Como foram os seus primeiros sintomas?

Cristiano: Eu comecei a sentir que tinha algo errado comigo no dia 13 de novembro, uma sexta-feira. Tive uma tosse enquanto estava na Band, de manhã. No sábado, o nariz escorreu, deu bastante dor de cabeça e dores pelo corpo, parecia que tinha tomado uma surra. Foi quando decidi ir à Santa Casa e testar, porque se desse positivo eu nem apareceria no trabalho na segunda-feira, pra não correr o risco de contaminar ninguém. Deu positivo, eu os avisei e procurei um médico. Comecei a tomar alguns remédios para tentar segurar – não era nada de Cloroquina… Mas não resolveu muito, não. Segui ruim e a minha saturação começou a baixar na terça-feira. Fiz contato novamente com o médico e ele me pediu para ir ao hospital no dia seguinte. Na quarta-feira eu fui internado. Fiquei dois dias no quarto e me transferiram para a UTI, aí começou a luta. Se não me engano, foram uns 50 dias de UTI. 

Sinto muito.

Pois é. E olha que eu imaginava que se viesse a pegar a doença, não passaria por tudo isso, porque não tinha nenhum fator de risco, comorbidade, obesidade, nada disso… Fazia exercícios regularmente, não tinha nenhum vício, a minha alimentação eu considerava correta… É lógico que eu cuidava, né? Ficava o tempo todo de máscara, qualquer coisa que pegava já passava álcool gel na mão, em casa eu já tirava o sapato na garagem e ia direto para a lavanderia tirar a roupa…

Você sabe onde pegou?

Não tenho ideia. Até quando eu usava o cartão, passava álcool na ponta dos dedos. Eu estava meio neurótico, mas mesmo assim aconteceu d’eu pegar.

Em qual hospital você ficou?

No Vita da BR. Ele estava lotado, mas não o caos de agora. Graças a Deus, consegui quarto na hora e também me transferiram para a UTI de imediato. 

Quanto tempo ficou, no total?

Foram 62 dias. Fui intubado. Pelo que os médicos falaram, atingi o ponto mais catastrófico da doença, o pulmão ficou bem comprometido. Na chapa, ele aparecia todo branco. Depois que eu acordei, um dos médicos me disse: “Olha, Cristiano, teve um dia aqui que a gente olhou um pro outro e não sabia mais o que fazer. A gente já tinha feito tudo o que estava ao nosso alcance e você não reagia”. Eu acredito muito em Deus e a minha família também, eles pediram muitas orações. Pra mim, não tem explicação. Eu estava lá desacordado, não reagia fazia praticamente um mês… Eles me intubaram no dia 28 de novembro, e no dia 28 de dezembro, curiosamente, acordei da sedação e comecei a evoluir de forma muito positiva, dia após dia. No dia 11 de janeiro, deixei a UTI, fui pra UTI humanizada e tive alta no dia 21.

Como foi a vivência no hospital?

Fui super bem amparado. Esse pessoal tem mesmo o dom de cuidar dos outros. Porque eu vou te falar, é um negócio assim que a gente não deseja pra ninguém. Começando pelo fato de que eu era super ativo… Acordava todos os dias às 4h30 para ir ao trabalho, dormia às 21h, trabalhava até no fim de semana… E de repente estava dependendo dos outros para tomar banho, limpar as minhas necessidades…. É algo que mexe muito com a cabeça da gente, sabe? Preciso tirar o chapéu para o dom dos enfermeiros e enfermeiras, como eles amparam a gente… 

E como foi acordar?

Eu acordei e percebi que tinha algo de errado com o meu corpo. Pelo tempo que fiquei sedado, tive uma inflamação nos nervos fibular e tibial, que ficam do joelho pra baixo. Eu saí de lá sem sentir o pé esquerdo e sigo na fisioterapia. Parece um pé quebrado, todo mole. Sinto dor, mas não consigo firmar no chão. Cheguei a usar o andador, que dava mais apoio, mas agora, com a evolução da fisioterapia, passei pra muleta. Se Deus quiser, o próximo passo é conseguir me equilibrar sozinho, mas é um processo lento. A gente acaba se tornando criança de novo, precisa reaprender a se alimentar. Até pra mastigar os alimentos, no começo, há uma certa dificuldade. Andar, mastigar… Parecem coisas tão básicas que a gente faz todos os dias, né? No automático. E, de repente, a gente perde todas essas possibilidades. 

Ex-vereador se recupera em casa. Foto: arquivo pessoal

Que sequelas ficaram?

Queda de cabelo, a questão do paladar… Eu sinto o gosto de tudo, mas é muito estranho, comidas que antes eu gostava, agora não consigo mais comer. Se forço, tenho vontade de vomitar. Além disso, as duas pernas, principalmente o pé esquerdo, ficaram ruins. E tô muito cansado. Do banheiro até o quarto eu já fico ofegante. A nutricionista disse que é porque eu perdi toda a musculatura da perna. Emagreci 26 quilos. Entrei no hospital pesando 90 e saí pesando 64. Já recuperei 6, agora tô com 70. 

E o emocional?

Fiquei mais emotivo, sabe? Eu não era tanto, mas fiquei mais chorão. A gente vê as matérias, depoimento de família, putz, dá mais medo da doença. Tô ansioso pra tomar a vacina. Tô ansioso, medroso, inseguro. Essa doença é cruel, viu?

Já deu pra retomar as atividades profissionais?

Ainda não. Na semana retrasada, comecei a voltar, aos poucos, para a TV. Ainda não estou apresentando o programa, era mais pra fazer bem pra a cabeça, pra não ficar só em casa, na cama, no quarto… Em seguida, entrou na Bandeira Vermelha e eu preferi segurar em casa. A gente viu que intensificou a taxa de ocupação de leitos, enfim. Considerando que eu estava fortinho, peguei a doença e foi tudo isso, imagina agora, meio debilitado. Já tive uma segunda chance, mas posso não ter a terceira. Então, tô em casa. Mas tô me programando pra voltar na primeira segunda de abril.

Que mensagem você deixa para as pessoas depois de toda essa experiência?

Se cuidem. Cada um, claro, dentro de suas condições. Eu sei que não dá pra dizer “fique em casa” pra todos. Nós somos trabalhadores, temos que sustentar a família, sei que bate o desespero, mas que cada um tenha muita responsabilidade. Ao usar a máscara adequadamente, passar álcool gel, praticar o distanciamento… Tudo isso é amor ao próximo. A gente está extremamente vulnerável. O vírus está muito mais perto do que a gente imagina. A gente fica achando que só acontece com os outros… Não. Todo mundo conhece alguém que já pegou. Alguns passam pela doença sorrindo, outros nem tanto. Então, responsabilidade acima de tudo.

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