Eles pediram demissão do emprego. E agora estão sem bolsa

Alunos chegaram a pedir demissão, por ter a bolsa supostamente garantida

O jornalista Nilton Kleina tomou uma decisão corajosa – mas bem informada. Chegou um dia a seu emprego, no site Tecmundo, e avisou que estava indo embora. O sonho da carreira acadêmica estava mais perto, e ele precisava aproveitar a chance. A bolsa de doutorado não era nenhuma maravilha,mas daria para se virar.

“Não tomei nenhuma decisão precipitada”, diz Nilton hoje, que por uma decisão completamente inusitada do governo Jair Bolsonaro (PSL) sem a bolsa e sem o emprego. “Fiz a seleção, entrei no doutorado. Fiz a segunda seleção para conseguir a bolsa. Estava tudo certo. Só depois pedi demissão”, conta.

Nilton seria um dos quatro alunos da primeira turma de doutorado da Comunicação da UFPR a ter bolsa. As bolsas ficaram apenas para os quatro primeiros colocados. E não são um valor alto: apenas R$ 2,2 mil por mês. “Ia ter que continuar fazendo frilas, conciliando. Não é a situação ideal, mas estava decidido”, afirma.

O corte das bolsas foi um choque. O governo disse que cortou bolsas “ociosas”, mas na verdade eram recursos que já estavam com destino selecionado. Só faltava, em muitos casos, a burocracia de ligar a bolsa existente ao aluno escolhido.

De repente, os frilas que iriam servir apenas como complemento de renda terão de passar a responder pela renda inteira de Nilton. Recém-casado com a também jornalista Olivia Baldissera, ele teria de se virar para poder continuar estudando.

A história dos bolsistas prejudicados pelas decisões bruscas do MEC de Abraham Weintraub cortando custos mostra como as políticas aleatórias do governo afetam vidas reais – e não apenas números. No caso de Kleina, o emprego foi embora quando podia não ter ido.

Manoela Fortes Fiebig, colega de turma de Nilton, teve um azar ainda maior. Aprovada no mesmo programa de Comunicação, conseguiu a bolsa e deu início aos preparativos para mudar de vida. No caso dela, isso incluía se mudar de Passo Fundo para Curitiba.

Na universidade, Manoela, que é filha de professora e balconista de farmácia, começou de cara fazendo Iniciação Científica, para ter bolsa e poder se manter. Depois veio o mestrado. E agora era a vez do doutorado. Mas, sem a bolsa, não vai dar.

“Não tenho mais como me sustentar indo toda semana pra Curitiba, sem emprego e sem bolsa”, diz ela, que também pediu demissão. “Só de passagens eu estava gastando cerca de 300 reais por semana. Dá mais ou menos uns 1.500 só de deslocamento e alimentação, por mês.”

Embora ainda tenha esperanças de reverter a situação, ela praticamente se considera fora do programa. “Então neste momento, eu já desisti do doutorado. Fica inviável financeiramente” diz ela.

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