E se você dissesse para a ginecologista que não sente prazer no sexo?

Mesmo que você, profissional de saúde, não receba queixas de pacientes sobre falta de prazer, fale sobre isso

Dia 6 de setembro é o dia mundial do sexo. Tá e daí? Daí que podíamos criar uma rede de profissionais que ensinasse às mulheres como podem ter prazer quando se relacionam sexualmente com suas parcerias. Mas quem faria parte desta rede?

Duas contas do Instagram que trabalham com educação para o prazer de pessoas com vulva fizeram este chamamento no dia 04 de setembro, aproveitando a data que celebra o dia mundial da saúde sexual. “Já pensou se sua ginecologista tivesse falado com você sobre como ter prazer? Sua vida teria sido diferente? Marque a profissional de saúde que precisa falar de clitóris com pacientes” foi o post de @meuclitorisminharegras em parceria com @prazerclitoris

O comentário de uma seguidora resume a relação que muitas pacientes têm com suas ginecologistas: “Falei pra minha gineco que não conseguia ter orgasmos e ela respondeu assim: Não sou sexóloga”. Ginecologistas estudam os órgãos reprodutivos femininos a fundo, porém, a resposta desta médica pode indicar que talvez ela mesma não saiba nada sobre o orgasmo feminino. E que ainda se chateou ao ser perguntada sobre isso. É fato dado que prazer sexual é um tabu tanto para mulheres quanto para homens, mas profissionais que atuam com sexualidade precisam ter outro comportamento. Quantas pessoas já tentaram entrar no assunto com médicas e médicos e foram sumariamente caladas?

Apesar de se saber que homens ejaculam na maioria das vezes que fazem sexo e têm orgasmos com frequência, será que eles sabem reconhecer se a parceira teve orgasmo? Uma boa dica para responder a esta questão pode ser: se você tem de perguntar sempre “Foi bom pra você?”, possivelmente, não tenha sido “bom pra ela”. E se você não sabe onde fica o clitóris, e acha que manipular este órgão feminino faz parte das preliminares, talvez você nunca tenha presenciado um orgasmo feminino. Sinto muito lhe dizer isso, assim, mas é verdade.

Os orgasmos femininos têm sinais físicos. Do mesmo jeito que homens ejaculam, há respostas fisiológicas nas mulheres: como liberação de adrenalina, aumento da frequência cardíaca, dilatação da pupila, espasmos e contração involuntária das genitais e, claro, um pico de relaxamento. Hoje se fala muito do “squirting” que é a ejaculação feminina. Sim, muitas mulheres têm esguichos durante o orgasmo liberando um fluido vaginal.     

Voltando à celebração do dia do sexo, podíamos fazer um combinado ou alguns combinados. Se você é profissional de saúde que atende pessoas com dificuldades de ter prazer (ginecologistas, urologistas, psicólogas) pesquise sobre o clitóris, aprenda, tenha orgasmos, e fale sobre isso com pacientes. Antes de medicar (prescrever remédios), que tal indicar que as mulheres se toquem, usem vibradores, descubram o prazer que vem do próprio corpo? E para os homens, que tal explicar que talvez a famosa pílula azul nem seja necessária se eles souberem que penetração não é a principal fonte de orgasmos femininos. 

Mesmo que você, profissional de saúde, não receba queixas de pacientes sobre falta de prazer, fale sobre isso. Pergunte, indique leituras, sites, técnicas. Explique que as mulheres têm clitóris e que não ter orgasmo pode não ter a ver com alguma disfunção, mas com falta de conhecimento de anatomia. Pesquisas mostram que muitas pessoas não sabem apontar onde fica o clitóris, onde fica a vagina, nem o que é a vulva. Mil mulheres participaram de uma pesquisa da ONG inglesa The Eve Appeal que pedia a elas para apontar em um desenho onde ficava a vagina. Metade das mulheres com idade entre 26 e 35 anos errou.

No livro O Orgasmo é para Todas, a Dra. Agatha Lee Harper estima que entre 40% e 58% das mulheres têm queixas relacionadas ao orgasmo. Ela afirma que qualquer pessoa consegue ter prazer, basta desenvolver uma sexualidade consciente. A especialista lembra o fato de a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhecer a sexualidade como parte da personalidade de cada pessoa, sendo uma necessidade básica e um aspecto da humanidade que não pode ser separado de outras necessidades vitais. 

No livro, coloca em prática dois artigos (5° e 11°) da Declaração dos Direitos Sexuais: o direito ao prazer sexual e o direito à saúde sexual. A declaração foi publicada pela primeira vez no 13° Congresso Mundial de Sexologia, em 1977, em Valência na Espanha e foi revisada pela World Association for Sexology, em 1999, em Hong Kong na china durante o 14° Congresso Mundial de Sexologia. 

Ter direito ao prazer sexual é entender que sexo e sexualidade são coisas diferentes. Dra. Harper explica que “Enquanto a maioria das espécies animais usam o sexo somente para procriação, o homem/mulher usam para satisfação pessoal, já que o sexo é fonte prazer”.  Então, se somos livres para transar com quem quisermos, temos de ser livres para ter prazer e para explicar para nossos parceiros homens que quando eles ejaculam e nós não temos prazer, há muito o que conversar. E que o problema não será resolvido com penetração, na maior parte das vezes. A maioria de nós gosta de sexo, não somos frígidas, o que não gostamos é de não gozar. Simples assim.

Referências:

Declaração dos Direitos Sexuais. Disponível em: 

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/dedi/declaracao_direitos_sexuais.pdf

Harper, Agatha Lee. O Orgasmo é para Todas. Editora: Ginecologia Quântica. Amazon Kindle, 2020. 

Sobre o/a autor/a

3 comentários em “E se você dissesse para a ginecologista que não sente prazer no sexo?”

  1. Texto bem claro e importante para a saúde sexual da mulher. É fundamental conhecer a si mesma para saber como obter prazer durante o ato sexual, ele não acontece por acaso…

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