Denúncia de maus-tratos em escola do Água Verde abala Curitiba

Escola fechou nesta semana, depois que dezenas de pais exigiram rescisão de contrato

Mais de cem pais e mães de alunos de uma escola particular se reuniram num salão de festas de Curitiba no último domingo. A reunião foi convocada às pressas. Horas depois, os pais sairiam dali chocados. No dia seguinte, segunda-feira, a escola começou a receber uma enxurrada de casais que exigiam a rescisão imediata do contrato.

O Plural optou por não divulgar o nome da escola porque o caso ainda está sob investigação e envolve crianças.

A escola, que funcionava no Água Verde, se viu de repente reduzida a pouquíssimos alunos. As duas décadas de história acabaram do dia para a noite e as portas foram fechadas.

O motivo da fuga em massa foi uma série de denúncias iniciada por professoras. Duas delas começaram a relatar aos pais casos de maus-tratos que segundo elas aconteciam diariamente e que incluíam castigos extensos, agressões físicas e alimentação forçada.

Além dos relatos das funcionárias, haveria dois vídeos feitos por professoras que comprovariam as agressões. O Plural não teve acesso aos vídeos. Os pais que viram as cenas dizem ter ficado chocados.

“Foi uma choradeira”, diz um áudio de uma mãe a que o Plural teve acesso – na gravação, ela conta a outros pais de alunos a reação geral depois de todos verem as gravações.

Hoje, quem passa em frente à escola vê apenas portões fechados. Uma pessoa próxima aos donos ouvida pela reportagem afirma que houve precipitação e que os vídeos “têm uma história”, que seria possível explicar.

Agora, como os pais fizeram denúncia à polícia, o caso está sendo investigado oficialmente. O Nucria, responsável pelo inquérito, deve ouvir 31 pessoas daqui até o fim de semana. Os advogados dizem que a diretora da escola, principal acusada, se comprometeu a comparecer para depor.

O que diz a denúncia

Segundo uma das mães, os pais demoraram tanto tempo para perceber as agressões porque a diretora sempre se antecipava às queixas dos alunos. A diretora, diz ela, ligava para os pais para contar que naquele dia o aluno agredido tinha ficado de castigo ou isolado do grupo, o que justificaria possíveis mudanças de humor ou de comportamento em casa.

Áudios de conversas de pais, a que o Plural teve acesso, revelam que as agressões teriam se estendido a todos os alunos, que “apanhavam desde o primeiro dia, chegavam a ficar horas de castigo, sem poder se mexer, e eram obrigados a comer – e se vomitasse apanhava”. A reportagem tenta entrevista com a direção da escola sobre todas as denúncias.

As declarações dizem que os maus-tratos teriam partido da diretora e que os professores e funcionários defendiam as crianças e eram coagidos a não contar. Até que resolveram filmar e denunciar.

Em redes sociais, outros pais também relataram sobre a reunião de domingo, na qual estavam presentes muitos responsáveis. Nos posts eles confirmam a existência dos vídeos e opinam que, em algum momento da vida escolar, “todos os alunos da escola podem ter sofrido tortura, como asfixia, palmadas na boca, bumbum, beliscões, puxões de cabelo e de orelha, chacoalhões”.

Em nota, a escola diz que respeito e confiança sempre pautaram as relações entre a instituição, pais, alunos e ex-alunos durante as mais de duas décadas de atuação. “A denúncia não define a conduta e atuação da escola, a qualidade de seu histórico, nem a credibilidade de toda a equipe de profissionais que nela ou com ela trabalham.”

O texto diz ainda que “os responsáveis pela escola estão à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários e se dedicam para, acima de tudo, preservar os alunos e conceder segurança no relacionamento com os pais e prestadores de serviço envolvidos com a instituição.”

O Nucria não deu mais informações sobre o caso e deve conceder uma coletiva de imprensa sobre o assunto nesta quinta-feira (4).

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