Curitibano é destaque em campanha pela língua indígena

Fundo Aryon Rodrigues arrecada doações para registrar culturas antes que sejam extintas

Aryon Rodrigues nasceu em Curitiba, em 1925, e viveu até 2014. Em seus 88 anos, dedicou-se à pesquisa da linguística brasileira, sendo um grande estudioso das línguas indígenas, para as quais desempenhou seu trabalho e a formação de novos profissionais. Em sua homenagem, a Associação Brasileira de Linguística (Abralin) cria um financiamento coletivo – Fundo Aryon Rodrigues – para arrecadar doações e, assim, contratar novos linguistas para manter viva a cultura indígena no Brasil.

A ideia é que os profissionais possam registrar as línguas indígenas antes que elas se percam. Segundo a Unesco, 190 línguas correm o risco de desaparecer em meio às aldeias brasileiras. “Uma língua e suas variantes constituem um elemento fundamental da identidade de um grupo, sendo veículo de tradições e conhecimentos milenares”, afirma a Abralin. 

A arrecadação servirá para projetos de documentação e de descrição de línguas indígenas brasileiras, que correm maior risco com a pandemia e as queimadas. Elas estão acelerando a extinção das culturas indígenas. Muitos anciãos, que são detentores de conhecimentos culturais e linguísticos milenares, estão morrendo e levando consigo tradições e conhecimentos. 

Para evitar essas perdas, a Abralin considera essencial que especialistas se dediquem a fazer o registro e a descrição das línguas ameaçadas. Os estudos demandam custos para viagens e permanência dos linguistas em tribos indígenas por longo tempo, assim como o uso de equipamentos caros. É para cobrir esses custos que o Fundo Aryon Rodrigues foi criado. O dinheiro arrecadado será utilizado para contratar pesquisadores selecionados pela Abralin, por meio de edital. Para ajudar, você pode escolher com quanto contribuir.

A situação das línguas indígenas brasileiras é extremamente grave, seja do ponto de vista da perda do conhecimento linguístico e cultural que o desaparecimento de qualquer língua implica, seja do ponto de vista da desintegração social e espiritual de cada um dos povos que, com a perda da língua sob pressão externa, têm destruídos seus valores tradicionais sem tempo para a incorporação ou o desenvolvimento de novos valores, o que os leva ao empobrecimento e à marginalização social“, citou Rodrigues ainda em 1993, no texto: ‘Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas’.

Aryon Rodrigues

Foto: Saulo Tomé/Secom UnB

Curitibano, nascido em 4 de julho de 1925, Aryon Rodrigues se formou em Letras pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Durante sua longa carreira linguística, o professor Aryon Rodrigues Dall’Igna publicou cerca de 150 trabalhos e 17 obras sobre as culturas e as línguas indígenas. Foi mestre e doutor no assunto, renomado em toda América Latina. Seu acervo bibliográfico tem mais de 20 mil livros e revistas sobre o tema.

Em 1963, o se mudou para Brasília, onde criou o Departamento de Linguística do Instituto de Letras da Universidade de Brasília (UnB) e concluiu seu Mestrado em Linguística. Em 1965 escreveu o artigo “Tarefas da Linguística no Brasil” que é considerado um manifesto em defesa do estudo das línguas indígenas brasileiras por vários linguistas indigenistas.

Aryon foi promotor de diversas outras iniciativas para a introdução da linguística no Brasil, entre elas a Abralin, que o teve como seu primeiro presidente. “O Professor Aryon Rodrigues trabalhou incansavelmente para que as línguas indígenas brasileiras fossem objeto de estudo nas universidades, na Unicamp, na UnB, orientando, proferindo palestras, ministrando cursos, formando, incentivando”, descreve a Abralin.

Segundo a Associação, um grande número de línguas indígenas foram descritas por linguistas que ele formou. “Outro tanto por linguistas que seus orientandos formaram. E mais ainda continuam sendo descritas, estudadas, revitalizadas sob a égide do seu esforço pioneiro. E é por isso que fechamos este mês dedicado à área da Linguística Indigenista com o seu perfil, propondo-lhe o título de Patrono da Linguística Indigenista.”

Diante do atual contexto “de pouquíssimo investimento público em pesquisa científica, propomos esta alternativa para financiamento de projetos de documentação e descrição de línguas indígenas brasileiras. Contamos com a participação de todos”, conclui a Abralin.

Para ajudar, clique aqui e faça sua doação!

Colaborou: Maria Clara Braga


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