Já passa das 19h45 quando a voz de Telma Mello, ativista do movimento Negro de Curitiba, dá início à contagem. “1, 2, 3…”, pronuncia no microfone posicionado em frente às escadarias do prédio histórico da Universidade Federal, na Praça Santos Andrade. “80”, finaliza Telma, ao atingir o número de tiros disparados contra o músico Evaldo dos Santos Rosa, de 46 anos, no Rio de Janeiro.
Nos degraus, quase 60 pessoas acompanham a contagem, e a fala que se segue: “Não foi engano”, declara a ativista. Entre as colunas que ornamentam o prédio, a faixa deixa claro o motivo do protesto: “Quantas de nós precisarão morrer? Vidas negras importam!”.
Da caixa de som, além da voz de Telma, ecoam tiros, uma arma que se engatilha. “Estamos aqui hoje para pedir um basta. 80 tiros não foi engano, não foi um erro” enfatiza. A fala é aplaudida, e o músico Wes Ventura é quem assume o palco.
Além da música, Wes preenche o ar da noite com um discurso de falas contra o racismo. “Essa música é para todos os pretos, todos os brancos, os amarelos, os viados, as lésbicas. Para todos que querem ser quem são”, anuncia. “Quantos pretos morreram até hoje nesse país, por conta dessa injustiça?”, questiona Wes. As cordas do violão vibram, a bateria reverbera, e a Santos Andrade volta a ficar preenchida de música, e vozes negras.