Curitiba tem 94% dos leitos ocupados e UPAs lotadas

Pacientes são atendidos em cadeiras e corredores, enquanto outros aguardam na ambulância ou no chão

Este foi o fim de semana com o maior número de atendimentos e internações de pacientes com Covid-19 em 2021 no Paraná, que atingiu o recorde de 96% de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) SUS para Covid-19. Em Curitiba, o índice é de 94% neste domingo (28), com apenas 21 vagas disponíveis. Com o agravamento da pandemia, faltam leitos, profissionais e o sistema de saúde municipal – com 864 vagas exclusivas para a doença – já anunciou que não tem mais para onde expandir. O reflexo são hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) lotados, com pacientes esperando em ambulâncias e até no chão. Alguns atendimentos são feitos no corredor e em cadeiras.

Foi o que houve com um homem (que pediu para não ser identificado) na UPA do Boa Vista. Positivado para coronavírus, obeso, com problemas cardíacos, diabetes e sem conseguir respirar, ele passou a noite numa cadeira, no corredor. “Não tem nem maca, ele ficou com a cabeça encostada no azulejo, com oxigênio no rosto. Passou a noite assim”, conta um familiar. “Deram corticoide, ele respondeu bem e mandaram para casa.”

O Plural recebeu, nos últimos dias, vários relatos de UPAs lotadas e com demora no atendimento. Alguns esperaram, no chão, por 7 horas, e acabaram sendo transportados no próprio carro por falta de ambulâncias.

Ambulâncias não param de chegar. Foto: Giorgia Prates/Plural

A reportagem esteve na Unidade do Boa Vista neste sábado (27), onde confirmou uma grande fila para fazer o cadastro para o atendimento. Dentro, as pessoas aguardavam sem conseguir manter o afastamento necessário.

Pacientes esperam atendimento. Foto: Giorgia Prates/Plural

Muitas esperavam do lado de fora, enquanto outras eram transferidas e novos pacientes não paravam de chegar.

Pessoas chegam a todo momento. Foto: Giorgia Prates/Plural

Dentre os que chegam, nem todos estão com o sintomas de Covid. Muitos têm demandas clínicas diversas. Mas quem precisa desse atendimento, acaba tendo que esperar muito, e corre riscos, já que as UPAs acabam funcionando como uma extensão dos hospitais, que não têm mais vagas, nem na Rede Pública nem na Particular.

De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), o aumento registrado no período de 15 a 21 de fevereiro foi de 18% na procura de atendimento nas UPAs. Depois de quase 30 dias funcionando na Bandeira Amarela, com 5 e cada 6 leitos ocupados, Curitiba retomou a Bandeira Laranja na última quinta-feira (25), com data prevista até 10 de março, segundo o Decreto 380/2021.

No segundo dia de medidas restritivas – que incluem o fechamento de todas as atividades não essenciais, suspensão de aulas presenciais e toque de recolher entre 20h e 5h – há filas para iniciar atendimento, pessoas aguardando do lado de fora, Unidades de Saúde lotadas, UTIs no limite dos leitos ocupados, vacina com prazos indefinidos, tendo apenas 2% do público estimado imunizado, e a Cidade com o registro de 19 casos da nova variante P1 do coronavírus. Diante desse cenário é inevitável a pressão em todo o sistema de saúde municipal, que já anunciou não haver mais para onde expandir leitos.

O pior

Conforme mostrou a reportagem da jornalista Angiele Maros, para o Plural, o quadro é o pior da pandemia até agora. “A verdade hoje é que estamos no pior momento nesse um ano de enfrentamento da pandemia”, afirmou o governador durante coletiva de imprensa nesta sexta (26). Mas as medidas chegam tarde e março ainda será difícil para o Paraná.

Pacientes esperam do lado de fora da UPA. Foto: Giorgia Prates/Plural

Segundo os médicos, as restrições anunciadas por Governo do Estado e Prefeituras levarão semanas para aliviar os hospitais e UPAs. “A gente já sabia que chegaria nisso desde o Réveillon, do Carnaval, com várias pessoas viajando e se aglomerando. Todos sabiam o que ia acontecer e isso foi uma tragédia anunciada. Agora estamos com uma taxa de contágio muito maior e com profissionais exaustos, há um ano trabalhando nisso. Parece uma realidade distópica”, avalia a psiquiatra e especialista em Medicina da Família e Comunidade, Claudia Paola Aguilar, diretora do Sindicato dos Médicos do Estado do Paraná (Simepar).

A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba anunciou a criação de novos leitos neste sábado (27), porém, assumiu que o Município atinge sua capacidade máxima de expansão de leitos de UTIs exclusivos para a Covid-19. “O momento é delicado e precisamos de toda a colaboração da população para reduzir a transmissão da doença. Nosso sistema hospitalar não tem mais para onde expandir. Estamos fazendo o possível e o impossível para não faltar assistência para os curitibanos”, disse a secretária de Saúde Márcia Huçulak.

Segundo a SMS, metade dos atendimentos de pacientes de coronavírus em Curitiba são feitos pela Rede Pública e a outra metade pela Privada, que também já está com as vagas no limite. A Capital ainda recebe pessoas doentes vindas de outras cidades da Região Metropolitana.

O Plural solicitou retorno da Prefeitura sobre os atendimentos e a lotação na UPA Boa Vista, mas não houve retorno até o fechamento desta reportagem.

Veja os dados atualizados sobre a Covid-19 em Curitiba no Monitor Plural.

“Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo Representativo, com o apoio do Google News Initiative”.

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1 comentário em “Curitiba tem 94% dos leitos ocupados e UPAs lotadas”

  1. Jaqueline Balthazar Silva

    Ontem precisei colher o exame de PCR na Ouvidor Pardinho. Marquei pelo aplicativo. Cheguei uns minutos antes da 10h ( horário agendado). Sai de lá quase 13h da tarde. Depois soube que faleceu uma enfermeira de lá com covid. Fiquei triste pensando no quanto essas equipes estão se desdobrando. Perdendo colegas e tendo que continuar essa rotina tão desgastante. Aguardei pacientemente porque vi que estavam em poucos. Muito triste.

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