Curitiba registra queda média de 9,2 pontos percentuais na cobertura vacinal de crianças

Baixa adesão a vacinas do calendário nacional se acentuou de 2020 para 2021. Especialistas temem volta de doenças quase extintas

Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba mostram que de 2017 a 2021 a cobertura vacinal de crianças de 0 a 4 anos – que vinha crescendo desde o início dos anos 2000 – registrou um declínio acentuado em 2021. Na média dos imunizantes do calendário vacinal para a faixa etária, a retração de 2017 para 2021 foi de 9,2 pontos percentuais, 4 pontos percentuais de 2020 para 2021.

Parece pouco, mas são pelo menos 4,9 mil crianças de um total de 53 mil entre 0 e 4 anos, com base no Censo Populacional de 2010, último dado disponível já que o levantamento previsto para 2020 não foi realizado.

Mas para especialistas a falta do Censo é apenas um entre vários elementos que contribuíram para a reversão na tendência de crescimento do elogiado programa brasileiro de imunização. Detentor do maior sistema público de saúde – o SUS – o Brasil disponibiliza dezenas de imunizantes de graça em todo país para diversas faixas etárias, uma política que ajudou, entre outras coisas, a erradicar doenças como a poliomielite, o sarampo e a varíola.

“O próprio sucesso do programa fez a percepção [das doenças] diminuir”, aponta o pediatra e diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Alcides Oliveira. Com a erradicação da pólio, por exemplo, gerações inteiras deixaram de conviver com pessoas com sequelas da doença. Para Oliveira, a rotina de vacinação era “bem sólida nas famílias” e é preciso que a população volte “a ter confiança” no programa. “O sistema de saúde não deixou de ofertar as vacinas e realizar a aplicação”, completa.

Cobertura vacinal em Curitiba, de 2017 a 2021. Dados da Secretaria Municipal de Saúde.

O biomédico Cristiano Teodoro Russo, professor de imunologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), concorda. “Há um relaxamento natural. É um caso diferente, mas o HIV também teve uma melhora com o aprimoramento da medicação seguido pelo registro de salto no número de casos de 2018 a 2020”, aponta.

Russo credita a momentos de reversão no incentivo a queda nos índices vacinais. “Com o HPV nós tivemos uma publicidade grande a uma situação adversa, além da resistência dos pais em achar que dar a vacina em adolescentes seria dar carta branca para elas fazerem sexo”, defende. Apesar disso, vacinar contra o HPV resulta em prevenir uma doença que no Brasil tem uma alta taxa de mortalidade.

Para Russo, ainda não temos informações suficientes para identificar todos os elementos que podem ter contribuído para a queda no índice. Mas aponta que é uma tendência mundial.

“Temos que restabelecer a relação de confiança e identificar onde a dinâmica mudou para ajustar o sistema”, antecipa Oliveira. E aponta uma das vantagens da capital e do estado do Paraná no assunto: a obrigatoriedade de apresentação da carteira de vacinação nas escolas.

Segundo Alcides Oliveira, “são muito poucos os casos em que realmente há contraindicação de vacina para crianças”. “Só em casos de doenças com supressão imunológica ou impedimentos temporários, como neoplasias [câncer]”, explica.

“A vacina pode ter efeitos adversos, mas o benefício é muito maior”, aponta.

Ainda segundo Oliveira, os efeitos da queda no índice vacinal de crianças podem ainda não estar visíveis porque uma boa parte das escolas permaneceu fechada em 2020 e 2021. Mas com a reabertura das instituições públicas e privadas, a existência de bolsões de não vacinados pode possibilitar a volta da circulação de vírus antes quase erradicados, como aconteceu com o Sarampo em 2019.

Para os pais, a recomendação é vacinar e verificar se o esquema vacinal da criança está completo. Mesmo quando o pediatra se declarar contrário. “São poucos os casos em que a vacina não é recomendada”, completa Oliveira. Na dúvida, acrescente, “siga o calendário”. “As vacinas têm não só a indicação dos fabricantes, mas também a experiência dos sistemas de saúde e de décadas de programa de imunização. Se a criança é vacinada, ela está protegida”, conclui.

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