Curitiba precisa do dobro de chuva diária até o fim do ano para normalizar reservatórios

Projeção é praticamente impossível de ser cumprida, de acordo com a média histórica da capital

Para que os reservatórios de água de Curitiba e região metropolitana voltem aos níveis normais, será necessário chover 20% acima da média histórica, de acordo com informações da Sanepar. Como a média histórica anual é de 1.500 milímetros de chuva, seriam necessários 1.800 mm para a recuperação dos níveis das barragens.

Até esta terça-feira (21), choveu aproximadamente 692,6 mm no ano. Assim, faltaria chover 1.107,4 mm até 31 de dezembro, para completar os 1.800 mm necessários. Como faltam 101 dias para acabar 2021, deveria chover aproximadamente 10,96 mm por dia. No entanto, de acordo com dados do Simepar, essa média é praticamente impossível de se concretizar, visto a máxima média histórica de chuva de Curitiba, inferior a esse valor. 

De acordo com o Simepar, a máxima média histórica de chuva (mm) em 2020 nos últimos quatro meses do ano foi de 140 mm em setembro; 140mm em outubro; 130mm em novembro; e 190mm em dezembro. Considerando uma média desses valores, em 2020 houve 5mm de chuva por dia. Atualmente, para normalizar os reservatórios, seria necessário mais do que dobrar a precipitação diária neste mesmo período. 

* Dados de 2020

Fonte: Simepar, Sanepar e Inmet

Rodízios de água

Nesta terça-feira (21), o nível médio dos reservatórios que compõem o Sistema de Abastecimento Integrado de Curitiba e Região Metropolitana (SAIC) está em 50,88%. O nível de cada barragem está em torno de Iraí (38,04%), Passaúna (58,96%), Piraquara I (60,43%) e Piraquara II (57,63%). Esse total está longe dos 80% ideais. A previsão para chuvas na capital também não é boa. Segundo o Simepar, de quarta a domingo desta semana, a previsão é de apenas 1,3mm de precipitação acumulada. 

Para evitar a total falta hídrica em Curitiba e Região Metropolitana, em 15 março de 2020 a Sanepar implantou um sistema de rodízio para o fornecimento de água, em que uma parte da população fica algumas horas sem água e algumas horas com água. 

O atual rodízio, implementado dia 11 de agosto, conta com uma operação de 36 horas de abastecimento e 36 horas de suspensão de água. Essa restrição é consequência da falta de chuvas e o baixo nível de água das barragens. Para decidir a progressão do rodízio, a Sanepar avalia a evolução do consumo, o nível de reserva, o histórico e a projeção das chuvas. 

A partir de uma análise comparativa entre os níveis das barragens no último dia do mês e a precipitação de chuvas acumuladas (ver gráfico abaixo), é possível notar que, a depender do nível de chuva, o nível das barragens também se altera e, consequentemente, os rodízios ficam mais restritivos. Em março de 2021, as barragens encerraram o mês com 60,79%. Nesse período, o rodízio era de 60 horas com fornecimento de água e 36 horas de suspensão. Com a constante queda do nível dos reservatórios, atingindo em julho 50,18%, em agosto o rodízio se tornou mais restritivo.

**Agosto 2020: implementação campanha META 20 da Sanepar

Fonte: Simepar e Sanepar

Para saber a programação do rodízio por endereço, clique aqui.

Vítimas da falta de água

A seca traz impactos que vão além da distribuição de água para o abastecimento público. As perdas na produção agrícola, o aumento de ocorrências de incêndio e problemas respiratórios estão diretamente ligados à falta de chuva e umidade na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

Conforme o diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Julio Gonchorosky, o que está acontecendo atualmente é uma consequência dos efeitos de degradação ambiental em todo o planeta, ao longo dos anos.  “Além de fazer uso racional da água, se faz necessária a preservação de florestas e mananciais”, afirma, em nota. Para o diretor, é indiscutível que haja a preservação da Serra do Mar, que é o local que garante água para o abastecimento público na RMC.

As perdas provocadas pela estiagem repercutem em toda a cadeia alimentar devido à falta de chuvas significativas no Paraná. A estiagem impactou no plantio de grãos e contrasta no bolso dos produtores agrícolas, afirma a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento. “Estamos dentro de uma estiagem terrível, estamos a poucos dias de começar a semear soja no Paraná, já começamos a plantar feijão, então há a tentativa de renovar a vida”, disse o secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.

O boletim semanal 36/100 publicado na última quinta-feira (16) pelo Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura (Deral), explica que, devido à dificuldade com a seca, a oferta de matéria prima às indústrias é menor e a ociosidade da capacidade instalada vem aumentando. A falta de água foi uma das principais ações que afetou a agricultura. O grão passou a custar 124% mais caro do que no ano anterior, com contraste na criação de frango, peixe e porco. 

Para Sonia Morais, moradora de São José dos Pinhais, que está no sistema de rodízio desde o início de 2020, a falta de água afetou diretamente o modo de vida em sua casa. “Com a programação do dia para efetuar os serviços básicos do lar, como lavar as roupas, e limpeza da casa, precisei me adaptar e passei a fazer ainda mais a economia e aproveitamento da água”.

Sonia acredita que o rodízio ainda é a melhor opção para a economia de água. “Acredito que só assim todos se conscientizaram da necessidade de economizar para não faltar. Nesse momento de pouca chuva, não tem muito o que ser feito, apenas a economia de água e rodízio até que as chuvas sejam o suficiente para abastecer nosso reservatório”, acrescenta.

Obras em barragens

As obras mais atuais da Sanepar são a implementação de uma adutora que transportará 200 litros por segundo da barragem do Rio Verde, em Campo Largo, até a barragem do Passaúna, em Curitiba; e a transposição do Rio Capivari para o Rio Iraí, que irá acrescentar cerca de 700 litros de água por segundo ao sistema. Juntas, elas irão aumentar em 900 litros por segundo ao SAIC, o que corresponde a 10% da captação do sistema integrado. 

A construção da barragem do Rio Miringuava, na cidade de São José dos Pinhais, iniciada em 2017, ainda está em andamento e com atrasos na finalização. De acordo com a Segunda Inspetoria de Controle Externo do TCE-PR, o cronograma da Sanepar previa que em dezembro de 2020 cerca de 60% da construção da barragem estaria concluída, mas, com a inspeção, foi observado que apenas 40% da obra estava finalizada. 

Em nota, a Sanepar afirma que este atraso foi causado devido ao registro de um surto de casos de Covid-19 entre os trabalhadores da construção e a ocorrência de chuvas no local da futura barragem ao longo do segundo semestre de 2020.

A futura barragem de captação de água da Sanepar, atingirá em 10 anos a capacidade de armazenar 38 bilhões de litros de água e tem como objetivo abastecer exclusivamente os moradores da cidade de São José dos Pinhais.

Para melhorar a situação, a Sanepar também começou algumas obras para melhorar a captação de chuva, além do projeto META20, que estimula a redução de consumo de água. De acordo com a Companhia, essas ações somadas com o efeito do rodízio, essas medidas incrementaram ao SAIC cerca de 70 bilhões de litros de água.

Outra ação é a distribuição e instalação de caixas d’água para famílias inscritas na Tarifa Social e que são afetadas pelo rodízio. 

Por Maria Luísa Cordeiro e Tayná Luyse, do Comunicare, portal dos estudantes de jornalismo da PUC-PR, sob orientação do professor Renan Colombo

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1 comentário em “Curitiba precisa do dobro de chuva diária até o fim do ano para normalizar reservatórios”

  1. Números e estimativas sempre pregando o terror hídrico.
    Comecem captando na represa do Capivari, acabando com a palhaçada da Copel em esvaziar o lago a fornecer energia para São Paulo. Isso acaba com o Turismo e lazer na Região.

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