Curitiba investe em antibiótico sem eficácia contra Covid-19

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) gastou verba para enfrentamento da pandemia para adquirir 328 mil comprimidos

Um antibiótico usado no tratamento de doenças sexualmente transmissíveis e infecções respiratórias é a principal “estrela” do “kit covid” em Curitiba. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) gastou R$ 608 mil da verba para enfrentamento da pandemia para adquirir 328 mil comprimidos, o suficiente para tratar, a princípio, cem mil pessoas.

Estudos clínicos que analisaram a eficácia da medicação contra a Covid-19, no entanto, concluíram que não há evidência que suporte o uso da substância no tratamento da doença. Em um deles, realizado por uma coalisão em 57 centros no Brasil acompanhou pacientes em estado grave que foram submetidos a protocolos de tratamento com azitromicina e hidroxicloroquina.

A conclusão do estudo, que foi parcialmente financiado pela fabricante de medicamentos EMS, é que é incerto se é seguro e eficaz usar o remédio no tratamento da Covid-19.

Na prefeitura de Curitiba, o uso da azitromicina, informou a SMS teria o objetivo de debelar outras infecções concomitantes a Covid-19. “A covid-19 é uma doença multissistêmica e deixa os pacientes suscetíveis a outras infecções. A azitromicina é um dos principais antibióticos para o tratamento de infecções respiratórias”, informou a instituição.

Para o médico da família Rogerio Luz Coelho, o uso do antibiótico no tratamento da Covid-19 é um risco. “A azitromicina é um antibiótico com alto risco de desenvolver resistência bacteriana. Podendo causar até uma doença grave e de difícil ou impossível tratamento chamada colite pseudomembranosa (infecção por Clostridium difficile) que pode ser fatal. E o aumento do uso de azitromicina nos casos de doença viral como a COVID já foi rechaçado por todos os países e pela maioria das entidades de infectologia no mundo”, afirma.

Coelho alerta que o aumento da resistência ao antibiótico pode dificultar o tratamento, no futuro, de doenças sexualmente transmissíveis e outras infecções bacterianas. Além disso, a azitromicina aumenta o risco de arritmia no paciente.

Tratamento “precoce”

A indicação de medicamentos sem eficácia para tratamento precoce ou regular da Covid-19 ganhou as ruas do Brasil graças ao incentivo do presidente do país e do ministro da Saúde.

Entre os medicamentos utilizados equivocadamente num suposto tratamento capaz de reduzir a gravidade da doença estão, além da azitromicina, a ivermectina (indicada para tratar piolho e parasitas), o sulfato de hidroxicloroquina (indicado para tratamento de malária e lúpus) e a Nitazoxanida (usada no tratamento de parasitoses).

Em Curitiba, foram vendidas 244 mil caixas desses remédios segundo os dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados da Anvisa. No caso da ivermectina, do sulfato de hidroxicloroquina e da nitazonaxida a exigência de receita só passou a existir em 2020, depois que essas substância começaram a ser promovidas como tratamento para Covid.

Ou seja, não há dados de anos anteriores para verificar se houve aumento no consumo. Mas de janeiro a novembro (dados disponíveis no momento), foram mais de 60 mil caixas vendidas em farmácias da capital.

Além das unidades vendidas nas farmácias, a capital pediu e recebeu do Ministério da Saúde 11 mil comprimidos de disfofato de cloroquina (3 mil solicitados pela Secretaria Municipal e 8 mil pela Secretaria de Estado da Saúde) e 442 mil comprimidos de Fosfato de Oseltamivir, mais conhecido como Tamiflu.

Segundo a SMS, o Oseltamivir é utilizado exclusivamente no tratamento da influenza. Já no caso da cloroquina, a secretaria estabeleceu um fluxo de fornecimento do medicamento que aponta que seu uso não é recomendado, mas determina que a apresentação de prescrição médica em duas vias, o número total de comprimidos para todo tratamento, a assinatura de um termo de ciência e consentimento e a anotação do CPF do paciente.

No caso da venda de azitromicina nas farmácias, houve, na realidade, uma redução de 6% nas vendas em relação a 2019 (considerando os números de janeiro a novembro de 2020 comparado com janeiro a novembro de 2019). Ainda assim a substância ficou em sexto lugar entre os remédios controlados mais vendidos na cidade no ano.

CRM-PR não vê problema

O Plural procurou o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) para saber se há investigações em aberto em relação a profissionais da medicina que estão receitando kit Covid apesar de seguidos estudos sobre o assunto demonstrarem falta de provas de eficácia das substâncias no tratamento da doença.

Como resposta, o CRM informou que não houve nenhuma denúncia sobre o assunto. “O Conselho Regional de Medicina do Paraná lembra que somente o médico pode fazer diagnóstico de doenças e prescrever tratamentos, respeitando os ditames de sua consciência e seu conhecimento científico. Nesse sentido, a autonomia do paciente e do médico deve ser preservada, sendo motivo de repúdio qualquer interferência nessa independência”, diz a nota enviada ao Plural.

O Conselho informou ainda que eventuais denúncias serão apuradas “mediante procedimento de sindicância”.

Para Coelho, o CRM e outras entidades de classe “deveriam estar apoiando os protocolos da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) , da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade) e pedindo para que os médicos ou prefeituras ou estados que querem fazer tratamento preventivo ou precoce de COVID o façam na forma de estudos clínicos”.

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3 comentários em “Curitiba investe em antibiótico sem eficácia contra Covid-19”

  1. Nem dá para ler mais esse plural,!disseminando desinformação . Médico ruim esse hein. Quem nunca teve uma gripe forte e não bromou azitromicina. Nem precisa ser médico para ver a inveja desse péssimo medico. Temos que levar-nos-emos nome ao conselho de medicina,

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Olá Robson, a azitromicina tem ação antibacteriana. A Covid-19 é uma doença viral, ou seja, causada por vírus. É simples assim. Obrigada

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