Curitiba ganha museu interativo sobre água

Museu Planeta Água conta com exposição inédita e será o primeiro museu interativo do país sobre a temática

Devido ao uso rotineiro, seja para beber, lavar ou fabricar, a água tornou-se imperceptível. Partindo do propósito de trazer a água para o centro da discussão que surge o Museu Planeta Água, primeiro espaço interativo do Brasil sobre a temática, que será inaugurado na próxima quarta-feira (29) em Curitiba.

“Essa invisibilidade nos dessensibiliza para o quão rara a água é. Nós a temos, mas não valorizamos, e isso precisa mudar”, aponta a jornalista Maria Celeste Corrêa, responsável pela pesquisa e conteúdo da exposição, e uma das curadoras do museu junto de Wilgor Caravanti, Ericson Straub e Aurélio Sant’Anna.

Abrigado em cima da primeira estação de tratamento de água do Paraná, que foi fundada na década de 1940, o museu adota uma abordagem multidisciplinar, além de muita criatividade e tecnologia, para retratar a história da água e sua relação com a Terra e os seres humanos.

A exposição interativa e sensorial, que levou 10 anos para ser concebida, apresenta os mais variados aspectos relacionados à água, seus usos e funções – ambientais, científicos, educacionais, históricos, sociais, tecnológicos, de abastecimento e de saúde.

“Acreditamos que as várias linguagens ajudam a atrair o público. É um espaço interativo, analógico e sensorial (com cheiros e sons, por exemplo). Isso vai transportar o visitante para a atmosfera que o museu quer mostrar.” 

Maria Celeste Corrêa, jornalista e curadora do Museu Planeta Água

Destaques

Logo na entrada, um esqueleto de baleia azul de 23 metros de comprimento, construído com 40 mil itens de embalagens plásticas, paira sob as cabeças dos visitantes. Segundo Corrêa, o objetivo da peça é convidar as pessoas a refletirem sobre a urgência da preservação dos oceanos.

Embaixo do esqueleto há um monitor que apresenta imagens sobre o descarte de lixo nos oceanos. Foto: Tami Taketani/Plural

Ao lado do esqueleto do maior animal do planeta, há um espaço sobre a disponibilidade da água na Terra. Cinco esferas representam em proporções equivalentes a quantidade de água salgada; nas geleiras; as subterrâneas e inacessíveis; a umidade do ar; e a doce presente em rios, lagos e aquíferos superficiais disponível para toda humanidade em relação ao tamanho do planeta. 

Há também um mapa mundi com mais de 90 camadas do relevo que através de projeções de vídeo mapeadas mostra a história dos deslocamentos humanos pelos mares, o lixo nos oceanos e a formação dos Rios Voadores sobre a Amazônia, responsáveis pela formação de chuvas em boa parte do território nacional.

Vale mencionar a balança em que o visitante poderá medir o quanto de água existe no corpo e órgãos, assim como a quantidade de água que a pessoa que está sobre o equipamento precisa beber diariamente para se manter saudável. “Isso que a gente está ensinando aqui não existe em nenhum outro museu”, garante Corrêa.

Basta colocar informações de altura e idade que a balança calcula a quantidade de água no corpo do visitante. Foto: Tami Taketani/Plural

Percurso

O primeiro espaço do museu é dedicado ao retrato detalhado do surgimento da água na Terra e como ela se distribui no planeta (rios, oceanos, geleiras e florestas), passando pelo fenômeno dos Rios Voadores até chegar na evolução da Terra do ponto de vista geológico e o papel da água nessa história.

O percurso segue então para a exposição da relação da água com a morte. Em uma sala reservada, são mostradas imagens de tragédias envolvendo desabamentos, rompimentos de barreiras e derramamentos de óleo. De Brumadinho, Minas Gerais, o museu trouxe uma quantia de barro retirado após o desastre e o uniforme de um bombeiro paranaense que auxiliou na busca das vítimas.

“Por mais paradoxal que seja, a água, que é fonte da vida, também pode ser morte quando o ser humano influencia naquilo que é natural.”

Maria Celeste Corrêa
Itens nas vitrines exemplificam a influência do ser humano na natureza, segundo Corrêa. Foto: Tami Taketani/Plural

Após mostrar catástrofes provocadas pelo excesso de água, a próxima sala reproduz um cenário de ausência do recurso, realidade que pode ser vista e sentida na pele, à medida que a temperatura aumenta gradativamente até passar dos 50ºC. No fim do caminho cheio de vegetações secas e avermelhadas, o visitante é levado a uma escultura realista de uma mulher com uma criança morta no colo, por conta da falta de água. “Quando o verde desaparece acontece a desertificação. E não estamos falando de desertos naturais, mas daqueles que a gente construiu.”

A exposição avança para o andar de baixo para debater sobre a geração de energia elétrica a partir da água e ainda traz uma linha do tempo que mostra, com ilustrações e itens – alguns originais – como tecnologias para captar, purificar e distribuir a água mudaram a vida de diferentes sociedades. Além disso, conta em detalhes a história do saneamento no Paraná, desde a primeira estação de tratamento até a crise hídrica de 2022. No último painel, o museu traz o futuro da água: a recente descoberta de água na lua e a investigação de oceanos fora da Terra.

De acordo com Corrêa, durante a pesquisa, que durou quatro anos, sempre que os curadores encontravam algo interessante, eram buscadas pelo menos três fontes que confirmassem a informação. “Nesse processo, houve um esforço de trazer exemplos da realidade brasileira com o intuito de aproximar ainda mais o visitante do museu”, afirma.

Linha do tempo mostra também como a água foi e é usada como forma de combater doenças, a exemplos da peste bubônica e da covid-19. Foto: Tami Taketani/Plural

Um copo meio cheio ou meio vazio?

No fim, Corrêa explica que o principal objetivo do museu é despertar a reflexão nas pessoas de que é preciso lutar pela natureza e pela preservação da água porque, afinal, sem ela, a vida não é possível.

“É um questionamento, né? Diante de tantos desafios, qual o futuro que a gente deslumbra? Em 2050, o nosso copo de água vai estar meio cheio ou meio vazio? Isso depende das escolhas que a gente vai fazer até lá.”

Maria Celeste Corrêa

Visitação

Idealizado pela Associação Brasileira do Conhecimento (EGEO) e desenvolvido pela Straub Design, o Museu Planeta Água será aberto a grupos especiais (universidades, conselheiros, patrocinadores e idealizadores) em julho deste ano. A previsão é que em 1° de setembro o espaço seja aberto para visitação de escolas e, em novembro, para o público em geral. 

De acordo com Corrêa, o museu terá visitas guiadas, que durarão no mínimo 1 hora e 30 minutos, assim como visitas avulsas. A visita será gratuita, mas será necessário agendá-la por meio do site do museu. Para mais informações e atualizações sobre a abertura, basta acompanhar o Instagram ou Facebook do Planeta Água.

O museu, que fica na Rua Engenheiro Antônio Batista Ribas, 151, no bairro Tarumã, funcionará de terça a sábado.

O projeto da instituição é patrocinado pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), CTG Brasil e Compagás e conta com o apoio do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE) e da Unesco. Recentemente, o museu conquistou o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Instituto Fashion Revolution e The Nature Conservancy (TNC). E foi realizado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).

Sobre o/a autor/a

2 comentários em “Curitiba ganha museu interativo sobre água”

  1. Um museu didático que é fechado nos domingos?!

    Só filho de pai e mãe que não trabalham durante a semana que podem ter acesso ao museu?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima