Cria da Vila Torres, o mecânico Tanaka se tornou liderança importante para a comunidade

O mecânico Valdemilson Osório de Campos, 43 anos, é uma das lideranças da Vila Torres, em Curitiba. Mas se você perguntar por lá pelo nome completo nenhum morador saberá responder. Campos é popularmente conhecido como “Tanaka”, embora não tenha nenhum ancestral japonês.

Membro de uma família numerosa, com pai, mãe e 11 irmãos, Tanaka hoje tem a sua própria – quatro filhos e uma esposa. A renda da família sai da oficina mecânica que fica na rua Manoel Martins de Abreu.

Há cinco anos – e pelo segundo mandato – Tanaka foi eleito presidente da associação de moradores da Vila Torres. De espírito forte, sempre esteve envolvido nas questões do bairro, onde mora desde os 5 anos de idade.

A personalidade destemida sempre foi uma característica do mecânico. Aos 9 anos ele participou de um projeto da associação dos Meninos de Curitiba – que não existe mais. Foi aluno do cientista social Juarez Sandeski, de 62 anos, que desde cedo viu que o menino poderia se tornar uma liderança. “Eu consegui ajudar bastante: com formação, emprego, carteira de motorista…”, relembra Sandeski, que hoje é padrinho de um dos netos de Tanaka.

Na Vila Torres, de acordo com a associação de moradores, 70% das pessoas têm renda atrelada à reciclagem. Muitas destes cidadãos foram fortemente impactados pela pandemia e, nos últimos três anos, precisaram de ajuda para sobreviver. Tanaka, aos dez anos, catava papelão com os irmãos.

A ajuda veio por meio da iniciativa SOS Vila Torres e da articulação feita por Tanaka junto a igrejas, ONGs e poder público. “Eu faço bastante reunião. Antes iam 30, 40 pessoas, mas agora já conseguimos mais de 300. O povo está mais articulado agora, estão entendendo que a gente tem que se unir senão não sai nada”, diz.

Duas horas de caminhada pelas principais ruas do bairro demonstram que as demandas estão longe de acabar. Algumas pessoas pedem orientação sobre como acessar serviços públicos. Outros cobram Tanaka pela falta de infraestrutura e há quem só queira jogar conversa fora. O mecânico para e ouve todo mundo e encerra a conversa da mesma forma. “Mas tem que ir na reunião para anotar tudo isso no papel”. “A reunião” é o encontro da associação de moradores que acontece periodicamente. A próxima será em julho.

Mesmo com a antecedência no convite, há pessoas que não conseguem participar das conversas, porém a tecnologia quebra o galho nestas ocasiões. “Eunão posso ir, não Tanaka. Cuido do meu irmão doente, não saio muito de casa, mas depois te mando um zap”, justifica a moradora Solange da Silva, que vive perto da trincheira da rua Chile.

Na oficina

De segunda a sexta-feira a oficina do Tanaka atende aos clientes, sem muito protocolo: o cliente deixa o carro lá, diz onde é o problema, e o pessoal começa a ‘mexer’, depois liga quando estiver pronto.

Aos sábados, porém, a empresa vira sala de aula. Tanaka foi professor de um curso técnico para mecânicos durante 9 anos e agora continua ensinando quem quer aprender a profissão ali mesmo na oficina.

O projeto é tocado com apoio da capela Nossa Senhora Aparecida, com forte engajamento do padre Joaquim Parron, e atende sobretudo imigrantes. Não tem custo para participar, mas é preciso se inscrever com antecedência pelo telefone (41) 3264-8117.

Pretensões

A atuação de Tanaka nas questões do bairro expandiu as pretensões do mecânico. Pode ser que ele seja candidato à Câmara de Vereadores futuramente. “Você sabia que muita gente fala isso?”

Enquanto não define o futuro político, Tanaka trabalha em questões mais urgentes: como o desassoreamento do rio Belém, que pode diminuir riscos de enchentes para quem mora nas imediações e também a construção da sede própria da associação.

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