Covid-19: Paraná testa mais que média brasileira, mas ignora falsos negativos

OMS alerta para falsos negativos, resultado de problemas na coleta de amostra de secreção do paciente

Há falta de exames suficientes para a Covid-19 em todo o Brasil, problema que tanto os governos estaduais quanto o Ministério da Saúde tentam solucionar. No Paraná, a Secretaria de Estado da Saúde está importando testes rápidos da China, mas enquanto eles não chegam, os exames disponíveis são poucos e o estado não sabe qual porcentual resulta em falsos negativos.

Essas limitações podem prejudicar a correta mensuração da dimensão da ação do novo coronavírus no Paraná. Atualmente, o Brasil e o Paraná realizam exames RT-PCR para diagnóstico em pacientes com sintomas graves e profissionais de saúde. Bastante preciso, o teste detecta o vírus ao identificar seu RNA na amostra de secreção coletada do paciente.

A dificuldade com esse tipo de exame, no entanto, começa antes de o laboratório receber o material para análise. Segundo alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) – replicado pela FDA, agência americana que regulamenta remédios e outros itens ligados à saúde nos Estados Unidos – resultados negativos não devem ser considerados definitivos.

É que a forma como se faz a coleta do material, bem como o momento de desenvolvimento da doença na ocasião da coleta influenciam as chances de identificação do vírus. Entre os problemas listados pela OMS estão:

  • má qualidade do material coletado
  • coleta realizada muito no início ou muito no final da infecção
  • transporte e manuseio incorretos do material
  • a possibilidade de mutação do vírus

Na prática, a OMS está recomendando que o conjunto de sintomas, exames de imagem e o histórico de paciente sejam levados em consideração antes de descartar a possibilidade dele estar com covid-19. E que medidas de isolamento e proteção de outros pacientes, familiares e da equipe médica sejam tomadas mesmo com o exame negativo.

Questionada pelo Plural, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) diz não ter registros de falsos negativos para os resultados obtidos do Laboratório Central do Estado. Mas a resposta contemplou os pontos destacados pela OMS.

Quantas pessoas são testadas?

Até o momento, o Paraná realizou quatro mil testes de covid-19, um índice de 299 exames para cada um milhão de habitantes. Mais do no Brasil inteiro, que terá feito 250 exames por cada milhão de habitantes quando se esgotarem os 50 mil kits produzidos pela Fiocruz. Também perto do índice norte americano, que é de 313 exames por milhão (segundo dados coletados no último dia 19 de março).

Mas ainda bastante atrás da França (559 por milhão), Alemanha (2.023 por milhão e Itália (3.498 por milhão). A falta de exames no país fez o Ministério da Saúde recomendar a restrição deles a casos graves, uma medida corroborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no caso de falta de recursos.

Mas a instituição também insiste que a coleta de mais testes ajuda a dimensionar a pandemia, assim como alimenta com melhores dados os pesquisadores que tentam decifrar o comportamento do vírus em diferentes países. Em português claro: com poucos exames o país tem dados menos confiáveis para que os cientistas consigam fazer previsões e estabelecer protocolos de atendimento dos pacientes.

Mais rápidos, menos precisos

Os exames rápidos que devem chegar em breve no Paraná devem ajudar a aumentar rápido o número de pacientes testados. Mas não resolvem inteiramente o problema de falsos negativos. A explicação está na natureza dos exames.

O atual exame RT-PCR é mais preciso, mas depende de uma estrutura laboratorial e de pessoal especializado mais cara e menos comum em todo país. Da chegada do material coletado do paciente ao laboratório até a conclusão do exame o processo leva, pelo menos, 48 horas, mas com o aumento da demanda os exames estão sendo feitos no Lacen, em média, em 72 horas.

Ou seja, a capacidade de ampliação desse tipo de testagem é bastante limitada.

Já os exames rápidos, como os primeiros 500 mil kits comprados pela Vale da China para o Ministério da Saúde, prometem resultados em 15 minutos a partir de uma gota de sangue do paciente. Os testes detectam anticorpos que sinalizam a reação do corpo a doença.

O problema, que tem sido noticiado pela imprensa de outros países que já compraram os mesmos kits, é que nos primeiros cinco dias da infecção a quantidade de anticorpos é baixa demais para o teste detectar.

Na República Tcheca, por exemplo, o Instituto Nacional de Saúde Pública recomenda que os testes tenham apenas uma função de “apoio” ao diagnóstico. Ou seja, a recomendação permanece a mesma, a de manter as medidas de isolamento se outros fatores indicarem a possibilidade de contaminação pelo novo coronavírus.

Devo fazer o teste?

Enquanto os testes rápidos não chegam, a decisão de fazer ou não o teste vai depender da análise da equipe clínica. De qualquer forma, a indicação da FDA e da OMS é de manter os cuidados para prevenir a contaminação mesmo em casos de teste negativo.

Segundo a FDA, quando o resultado é negativo “a possibilidade de um falso negativo deve ser considerada no contexto da exposição recente do paciente e a presença de sinais clínicos e sintomas consistentes com a Covid-19”. A recomendação deve ser seguida, indica a agência americana, principalmente quando “testes diagnósticos para outras doenças são negativos”.

A orientação leva em consideração que um falso negativo apresenta riscos para o paciente como “atraso ou falta de tratamento, falta de monitoramento de indivíduos infectados e de seus familiares e outras pessoas em contato com o paciente resultando em aumento de risco de contaminação por covid-19 na comunidade”.

Já no caso dos testes rápidos, o Instituto Nacional de Saúde Pública da República Tcheca indica que sejam feitos após os 14 dias de quarentena, de forma a verificar se houve a infecção.

O mais importante, no entanto, é não perder de vista que a pandemia é de uma doença nova, cujos exames, procedimentos e até tratamentos estão sendo definidos rapidamente e com pouco tempo de análise. Enquanto isso, a observação de sintomas e o isolamento social seguem sendo as principais recomendações para conter o avanço da doença e, assim, dar tempo para o sistema de saúde se preparar adequadamente para o atendimento dos doentes mais graves.

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