Comércio reage contra restrições e pressiona prefeitura com política “anti-Greca”

Em live com participação de dono da das lojas Havan, presidente da ACP chegou a pedir renúncia de Greca

O comércio curitibano está em alvoroço, e a causa não é festiva. Decreto da prefeitura que determinou fechamento completo de estabelecimentos não essenciais, publicado na última sexta-feira (28), recrudesceu movimento organizado por lojas, bares, restaurantes e academias contra a política de restrição máxima adotada pela administração municipal frente a uma nova onda de Covid-19 – com indícios de ser a mais forte de todas até agora. A revolta levou empresários às ruas nesta terça-feira (1) em uma carreata pela região central da cidade e, em mais um esforço de pressão política, a onda de protestos já soma até pedidos pela renúncia de Rafael Greca (DEM).

A solicitação para que o prefeito de Curitiba deixe o cargo veio do presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Camilo Turmina, durante live nesta segunda (31) para convocar manifestantes. “Prefeito Greca, nunca é tarde para renunciar. Nós aceitamos. A sociedade precisa que você faça alguma coisa de bem para essa cidade tão inteligente que é Curitiba”, apelou o empresário antes de passar a vez de fala a outros representantes, entre eles o dono da rede de lojas Havan, Luciano Hang, que já chegou a ser impedido pela justiça do Paraná de vender arroz e feijão em uma de suas lojas no Estado numa tentativa de burlar medidas de restrição.  

Ao Plural, horas antes da manifestação desta terça, o presidente da ACP voltou a defender a substituição do prefeito pelo vice, Eduardo Pimentel, por ele ser “receptivo” e “ter diálogo”. “Acho que, como tudo hoje, os novos substituem facilmente os velhinhos. Como acontece nas empresas, por que não no serviço público? É uma bênção, tomara que isso possa acontecer. É um desejo meu, pessoal, mas tomara que dê certo”, declarou Turmina.

O posicionamento marca uma fissura na relação até então fraterna do prefeito com os comerciantes de Curitiba. Empurrado por empresários ao seu segundo mandato consecutivo nas eleições municipais do ano passado, Greca tinha a Associação Comercial do Paraná como um de seus principais palanques políticos e mantinha com a entidade uma relação simbólica. Em uma das suas primeiras ações ao retornar ao Palácio 29 de março, de 2017, Greca lavou o calçadão da Rua XV de Novembro, e o começo da “faxina” foi justamente em frente à sede da associação, que enalteceu o gesto.

Mas a decisão de manter o comércio fechado até o próximo dia 9 – no segundo período sob bandeira vermelha vivido por Curitiba – quebrou o clima de paz e amor entre a prefeitura e o setor, vínculo que já mostrava indícios de esgotamento desde que a crise da Covid-19 exigiu mudança na rotina dos estabelecimentos. Segundo a ACP, estatísticas da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que, desde o início da pandemia, 15 mil negócios fecharam no Paraná, sendo 5 mil em Curitiba. A estimativa é que as falências tenham custado entre 300 e 400 mil empregos.

“O que eu vi aí é que tem muita gente pedindo para ele jogar a toalha. Afinal de contas, já deu. Ultimamente ele não tem dado uma bola dentro. Aquela festividade no São Lourenço deixou o pessoal  de eventos muito triste, afinal, só ele pode fazer festa quando ele quer, e os outros não podem”, disse Turmina, referindo-se a um evento organizado pela prefeitura que descumpriu as regras de biossegurança vigentes e acabou em denúncia ao Ministério Público do Paraná (MPPR). “Se nós insistirmos em enxugar gelo, que são essas medidas paliativas de fechar só Curitiba e deixar todo o Paraná trabalhar numa outra bandeira, poderíamos seguir a hierarquia e ficar com o Governo do Estado”.

Greca e Camilo Turmina, da ACP: relação entre gestão e entidade tremeu após decretos de restrição. Foto: Facebook Rafael Greca/ Reprodução

A vigência da bandeira vermelha somente para Curitiba, sem se estender pelos demais municípios da região metropolitana de forma igual, também fez comerciantes recorrerem à Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde para questionar a medida, além de uma proposta de apoio tributário diante dos prejuízos.

Um dos pedidos é que o limite máximo de 50% de passageiros no transporte público seja fiscalizado, sob a avaliação de que ônibus e terminais também têm de ser controlados. Na semana passada, a prefeitura divulgou resultado de um levantamento que afirma que 99,9% dos cerca de 300 mil passageiros diários do sistema não têm diagnóstico de Covid-19 – dados que vêm sendo interrogados na Câmara Municipal.

Nesta segunda, em um aceno para os donos de negócios com portas fechadas, a vereadora Indiara Barbosa (Novo) percorreu terminais para verificar a lotação dos espaços. “Sabemos que o momento é crítico, mas é difícil restrições tão pesadas para setores que seguem os protocolos e não são pontos de contaminação. O comerciante chegou ao seu limite e não aguenta mais esse abre e fecha!”, postou a parlamentar no Twitter no dia em que as medidas mais rígidas foram anunciadas.

Já o vereador Dalton Borba (PDT) solicitou mais dados sobre a metodologia do estudo. Recentemente, também endossando o coro dos comerciantes, o vereador enviou uma sugestão ao Executivo para a elaboração de um protocolo sanitário paralelo que permitiria aos curitibanos completamente imunizados frequentar livremente comércio, bares e restaurantes, desde que comprovada a vacinação – embora esta não seja uma prática reconhecida por especialistas quando há baixa concentração de vacinados.

Outra bandeira levantada pelo setor tem sido a redução, em caráter extraordinário, da cobrança de impostos. No começo desta semana, moradores e donos de negócios fizeram um pequeno ato em frente à empresa Glória, uma das consorciadas do sistema de transporte, para relembrar do subsídio milionário sugerido pelo prefeito e aprovado na Câmara e cobrar iniciativas de alívio fiscal a donos de negócios afetados.  

Na esfera legal, a gestão de Greca já enfrenta o primeiro recurso em relação ao decreto, interposto pela Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce). A entidade entrou com pedido de liminar para garantir a reabertura dos shoppings da cidade e disse, em nota, que “não concorda com os fechamentos”. “O abre e fecha do comércio gera inseguranças e os shoppings, mesmo sem operar, continuam pagando impostos como IPTU e ICMS. O setor já perdeu R$ 90 bilhões em vendas, 110 mil empregos e 12 mil lojas fecharam”.

O Sindicato dos Lojistas dos Comércios Estabelecidos em Shopping Centers de Curitiba (Sindishopping), instituição que também aderiu ao movimento organizado pela ACP, informou não ter dados sobre o fechamento de lojas de centros comerciais em Curitiba, mas garante que o prejuízo é generalizado.

“Não é o comércio [onde se propaga Covid], e a gente sabe disso. No começo, os shoppings foram os mais punidos, sendo que os shoppings hoje são os que mais controlam tudo”, rebate Carolina Assis, presidente do Sindishopping. Segundo ela, a prefeitura deveria concentrar ações em fiscalizar e punir quem descumpre medidas estabelecidas, como realizadores de eventos clandestinos, por exemplo, sem mirar no comércio como primeira opção.

“Eu não quero deixar o comercio aberto porque eu acho que a doença não é real. É super real. Mas não acho que fechar o comércio é a solução porque não é ali que está sendo transmitido”.

“União de forças”

O movimento organizado engloba também o setor de eventos e alimentação fora do lar que nas últimas semanas intensificou as críticas aos que os empresários chamam de “lockdown seletivo” que prejudica em específico a área da gastronomia.

“Todo mundo botou a cabeça para fora. É bom porque até agora eu estava brigando sozinho. Essa junção de forças demonstra que não é uma luta minha pessoal [contra o prefeito]”, diz o presidente da Associação de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), Fábio Aguayo.

A entidade está por trás de faixas e cartazes de protesto contra as medidas restritivas que nos últimos dias pipocaram nas fachadas de diversos bares e restaurantes. Empresários afirmam que o delivery não é suficiente para sustentar os negócios e pedem a reabertura do atendimento presencial.

Como no movimento de lojistas, a pressão sobre o prefeito tenta se insinuar também na relação política entre Greca e o vice-prefeito, Eduardo Pimentel. Esse último passou a ser apoiado abertamente pelo setor que pede também a renúncia do prefeito.

“Greca não está assumindo a responsabilidade. Ele é presidente da associação dos municípios da região metropolitana, mas não é ele quem participou da última reunião. Foi o vice. Então ele que assuma”, diz Aguayo.

O presidente da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel), Nelson Goulart, reclama da falta de diálogo do poder público que impõe medidas duras de cima para baixo. “É um falso lockdown, seletivo, em que o setor da alimentação fora do lar e os pequenos comerciantes pagam o preço, mas os ônibus continuam lotados, sem fiscalização”, afirma. Segundo o empresário, a carreata desta terça não tem cunho ideológico, mas busca pressionar o poder público para que o ônus da pandemia não recaia apenas sobre o setor.

Nesta quarta-feira, os empresários devem realizar outro protesto em frente à Câmara Municipal para pedir descontos nos impostos municipais. “Enquanto as empresas de ônibus receberam dinheiro a fundo perdido, nós temos que pagar IPTU com aumento”, reclama Goulart.

O setor da gastronomia está em polvorosa. No último fim de semana, donos de restaurantes ameaçaram descumprir o decreto que proíbe o atendimento presencial nos salões. Já outro empresário comparou o próprio negócio ao serviço prestado pelos restaurantes populares que atendem a população vulnerável e continuam funcionando mesmo na bandeira vermelha por serem considerados um serviço essencial.

Colaborou Cecília Zarpelon

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3 comentários em “Comércio reage contra restrições e pressiona prefeitura com política “anti-Greca””

  1. Os novos substituem facilmente os velhinhos vale também pra ACP? O presidente da ACP na verdade é um “velhinho” sem noção de ridículo…

  2. Boa noite. Excelente matéria. Sugiro que vocês façam uma matéria esclarecendo a população o que significa 50% da lotação de um ônibus. Vejam no site da URBS que um ônibus comum pode levar mais de 80 pessoas. 6 por m2. 50% disso seriam 3 por m2. No comercio e restaurantes, a regra é 1 por 9m2.

    Pode isso?

  3. E quase inacreditável o Prefeito Greca com essas atitudes com povo trabalhador Curitibano, por favor não termine sua linda função pública com valores de não carrega em seu Espírito e sua Alma, e possível passar com dignidade… Eu creio

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