Cerca de 35% dos refugiados têm ensino superior, revela pesquisa

Porcentual é o dobro do nível escolar do país. Levantamento inédito é da ONU

Uma pesquisa inédita da ONU revela os refugiados que vivem no Brasil têm escolaridade acima da média brasileira. De acordo com o levantamento feito com base em entrevistas com cerca de 481 pessoas, 35% dos refugiados concluíram ensino superior, sendo que 3% cursaram especialização, mestrado ou doutorado. Um outro levantamento, feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), destaca que no Brasil o total de pessoas com nível superior completo chega a 15%.

O Perfil Socioeconômico dos Refugiados no Brasil foi realizado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e pela Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM). Dos mais de 480 entrevistados, 70% eram provenientes de quatro países: Síria (31,4%), República Democrática do Congo (23,8%), Angola (8,6%) e Colômbia (7,3%). Mais da metade dos entrevistados são residentes de São Paulo. O Paraná responde pelo quarto maior percentual de refugiados que participaram da pesquisa.

Com alta qualificação educacional, contudo, os refugiados têm tido dificuldades na revalidação dos diplomas no país. Segundo o levantamento da ONU, menos de 10% dos 166 entrevistados que têm nível superior completo conseguiram revalidar.

Afora os dados de educação superior, os conjunto de entrevistas realizadas pela ONU aponta alta taxa de escolarização também no nível médio. Enquanto a PNAD contínua aponta que metade da população brasileira tem apenas o nível fundamental completo e 30% o nível médio, o levantamento do perfil dos refugiados aponta que 80% têm no mínimo o ensino médio completo.

Nos últimos sete anos, segundo dados do governo federal, foram recebidas pouco mais de 126 mil solicitações de refúgio no país. Quase metade vieram de Venezuela (33%), Haiti (14%) e Senegal (13%). O total de refugiados reconhecidos no país, contudo, não chega a 10% das solicitações. Segundo o governo, são pouco mais de 10 mil refugiados no Brasil.

O reconhecimento como refugiado é fundamentado por situações de fundado temor, perseguição relacionada a raça, religião, nacionalidade, pertencimento a determinado grupo social ou opinião política. Dos 10 mil, pouco mais da metade continuam no país na condição de refugiado, sendo que 52% moram em São Paulo, 17% no Rio de Janeiro e 8% no Paraná. Atualmente, a população síria representa 35% da população refugiada com registro ativo no Brasil.

Vítimas de discriminação

De acordo com o levantamento, 200 dos 481 refugiados disseram ter sofrido algum tipo de discriminação após chegar ao Brasil. Dentro deste universo, 73% alegaram que o motivo foi o fato de serem estrangeiros.

Na lista de motivações apontadas, o racismo fica em segundo lugar, sendo indicado como motivo da discriminação em 52% das vezes. “Como vimos que os congoleses, segundo grupo de refugiados no Brasil, são majoritariamente negros, é possível afirmar que esse grupo nacional é o que mais sofre obstáculos aos processos integrativos”, analisa a pesquisa.

O levantamento identifica ainda a origem dos agressores. A maior parte é de brasileiros, com destaque para 28 autoridades policiais, ou seja, 14% das agressões, e 34 servidores públicos, que respondem por 17% dos casos de discriminações apontadas. Confira o resumo executivo no site da ONU

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