Câmara vota “xepa” da vacina e diz buscar mais transparência no uso das doses

Projeto estabelece criação de cadastro para uso das doses restantes, e com validade curta, de frascos abertos

Vereadores de Curitiba votam nesta terça-feira (29), em regime de urgência, a criação de um cadastro para a aplicação de doses remanescentes de imunizantes, a chamada “xepa” da vacina. A discussão mira dar mais transparência ao manejo das doses, já que, hoje, a capital paranaense não tem um protocolo oficial sobre o uso das frações que sobram no fim de cada dia de vacinação.

“Não dá para a população criar falsa expectativa de que com a xepa vai se resolver o problema [da vacinação lenta]. Não é isso. É para ter transparência e organizar nos casos de sobra”, afirma o autor do projeto, o vereador jornalista Márcio Barros (PSD). Segundo ele, não se trata de uma proposta de fiscalização, mas de controle por causa da escassez das substâncias.

Caso aprovado, o projeto criaria uma fila de espera nas unidades de vacinação para quem ainda aguarda vez de se imunizar, com aplicação sujeita à remanescência de doses de frascos já abertos. Ou seja, a imunização seria por convocação e de acordo com a quantidade de doses restantes do ou dos frascos que foram abertos no dia e cujo restante precisar ser utilizado para não perder a eficácia.  

“Não existe uma regulamentação oficial sobre o uso das chamadas doses remanescentes, que são aquelas que ficam no frasco após o fim do horário da vacinação. Por isso não há uma lista de espera oficial e unificada para essa aplicação”

Pelas condições de manutenção e armazenamento definidas por cada laboratório, a prática seria viável com quatro das três vacinas que hoje fazem parte do plano de imunização de Curitiba: Comirnaty (Pfizer/BioNTech), Coronavac (Butantan) e a da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.

A bula do imunizante da Pfizer, com seis doses por frasco, indica uso por completo em até 6 horas – assim como a Janssen, de dose única e cujos frascos têm capacidade para cinco doses. Já a Coronavac, com dez doses por frasco, dura até 8 horas. Nenhuma delas, portanto, pode ser deixada em aberto de um dia para o outro, ao contrário do imunizante da Oxford-AstraZeneca, produzida em parceria com a Fiocruz e que, sob refrigeração, pode ser mantida por até 48 horas após a retirada da primeira dose.

Sem dimensão

Segundo vereador Márcio Barros, Curitiba não tem uma média de doses diárias “de sobra”, pois a logística da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) é não abrir novos frascos se não há quantidade de pessoas suficiente para o esgotamento das doses.

“Eu estou falando do que eu vi no Pavilhão da Cura. Lá eu vi que existe uma logística para que não tenha sobras, mas não posso afirmar que todo mundo esteja agindo assim. A ideia é que a gente tenha transparência e evite qualquer suposição de erro”, salienta o parlamentar. “Segundo a secretária [da Saúde, Márcia Huçulak], essa logística já vinha sendo feita, mas não tem como. Em alguns casos, vai sobrar dose”.

O texto do projeto cita informação cita declaração da secretária que indica que o destino das doses remanescentes é definido de acordo com a determinação de gestores individuais. “Como a Secretaria Municipal de Saúde informou à reportagem da Gazeta do Povo, cada um dos distritos sanitários de Curitiba mantém seu próprio controle de quem poderia receber essas doses, que de outra forma seriam jogadas fora”, diz o trecho.

A “xepa” da vacina é uma prática comum em várias cidades do país. Embora com critérios diferentes, já é realidade em capitais como Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Campo Grande, por exemplo. Mais recentemente, São Paulo adotou o esquema.

Apesar de ser um mecanismo para agilizar a execução dos planos de vacinação e tirar máximo proveito dos estoques, a alternativa esbarra nos limites da própria campanha – com adesão tardia à vacinação, o Brasil tem enviado remessas a conta-gotas.

Neste domingo (27), a prefeitura de Curitiba anunciou nova paralisação no esquema vacinal contra a Covid-19 por falta de doses. O atendimento desta segunda-feira foi apenas na unidade-sede do Parque Barigui e somente para gestantes, puérperas e de repescagem de pessoas com 47 anos ou mais completos nascidos no primeiro semestre. Os demais pontos de vacinação suspenderam as aplicações até o envio de novos lotes pelo Ministério da Saúde, o que ainda não tem prazo. As últimas vacinas a serem recebidas, da Janssen, foram reservadas para caminhoneiros e motoristas e cobradores de ônibus, que começaram a ser vacinados nesta semana.

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