Base de Greca “tratora” e Câmara mantém urgência de repasse às empresas de ônibus

Líder do governo disse que uso da expressão não passou de uma brincadeira

Vereadores da base do prefeito Rafael Greca (DEM) conseguiram barrar o requerimento que pedia extinção do regime de urgência do projeto que retoma o repasse emergencial às empresas do transporte público. O pedido, protocolado pela vereadora e líder da oposição Carol Dartora (PT), com a assinatura de outros 12 parlamentares, foi votado nesta quarta-feira (22) no embalo de um “tratoraço”.

A expressão – jargão político usado para descrever a tramitação acelerada de propostas, sem passar por análises de comissões específicas – foi usada pelo próprio líder do governo, o vereador Pier Petruziello (PTB), para se referir à votação do requerimento.

“Viu, vamos deixar eles inverterem pauta. A Carol vai pedir para inverter a pauta. Deixa inverter e vamos tratorar em cima, sem piedade”, diz Petruziello no áudio. A fala parece ser dirigida ao vereador Marcelo Fachinello (PSC), mas o parlamentar nega que tenha participado da conversa. Ele disse que seu nome só é citado porque, naquele momento, chegava à bancada.

O áudio foi compartilhado por Dartora nas redes sociais. Petruziello disse que tudo não passou de uma “brincadeira”, mas a repercussão não foi pouca. Depois do episódio, o líder do governo sequer brigou contra a proposta de que a votação do requerimento fosse nominal.

Apesar do caso vir à tona, o requerimento foi rejeitado por 20 votos contrários. Com o regime de urgência mantido, o projeto que mantém repasses fixos às empresas de transporte será apreciado em plenário já na próxima segunda-feira. Mesmo assim, as críticas não devem cessar. O ponto central dos vereadores contrários à tramitação acelerada é falta de transparência em relação aos cálculos do sistema.

“Como  se vota um projeto de tamanha magnitude, que envolve milhões de reais, sem que a gente tenha informações suficientes para isso? Que segurança cada um dos vereadores vai ter para fazer essa votação?”, questionou o vereador professor Euler (PSD) durante sessão nesta quarta.

Ao contrário do projeto anterior, incluindo as mensagens de renovação da lei, o novo texto encaminhado à Câmara não anexa documentos de cálculos operacionais, o que embasa a crítica dos parlamentares. A Urbs, gestora do transporte coletivo, não reconhece que novo projeto tenha chegado com menos informações e disse ainda que os custos “serão amplamente expostos e debatidos com os vereadores no decorrer da tramitação do projeto”.

Ao Plural, Petruzielo informou que o presidente da Urbs, Ogeny Maia Neto, deverá ir à Câmara prestar mais esclarecimentos.

“É lamentável a gente ver isso com um projeto que toca a vida da população de Curitiba, porque é dinheiro público indo para as mãos dos donos do transporte público. De uma maneira infundada eles pediram regime de urgência, mas não colocaram de quanto vai ser esse repasse, não tem uma justificativa técnica”, explicou Dartora, para quem o episódio do áudio é mais um caso de violência política sofrido desde que assumiu o mandato.

Segundo ela, tanto o uso do requerimento como o apoio de 12 vereadores para protocolar o pedido foram surpresas para a base de Greca, que esperava aprovação do regime de urgência com menos sufoco.

“Eu especialmente, como uma mulher negra, de esquerda, feminista, antirracista, estou vivendo um contexto de absoluta violência política. Quando eles perceberam que eu consegui essas doze assinaturas, ontem à tarde recebi uma ligação extremamente constrangedora, dizendo que eu tinha que pensar melhor no que eu fazia, que eu tinha que conversar mais com os vereadores e respeitar o líder do prefeito. Me aconselharam até a mandar uma caixa de chocolate para um futuro possível líder do prefeito”, contou a vereadora.

Assim como os demais parlamenteares que se posicionaram contra o trâmite urgente do projeto, a líder da oposição questiona os repasses e e também a brecha do novo projeto de abrir caminho para demissões seguidas no sistema.

O novo texto redigido pelo prefeito elimina da lei o artigo que assegurava emprego a motoristas e cobradores e ao mesmo tempo garantia a eles a manutenção das funções, após o fim da vigência da lei, pelo mesmo período que durasse o regime emergencial. Na prática, isso significa que, se aprovado, nenhum trabalhador do sistema terá mais esta garantia.

“Agora eles querem mandar embora mesmo porque a gente sabe também que sempre teve esse rodízio muito grande. E é isso que esta acontecendo. Curitiba tem uma das passagens mais caras do Brasil, mas isso, pra eles, não é o que importa”.

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