Bar ligado a assessor da prefeitura funciona na quarentena

Nas redes sociais, Allan Johan divulga o Odara Café e defende: “As pessoas que usufruam de acordo com as consciências delas”

“Fique em casa. Mas se não aguentar, conte conosco”, anuncia o Odara Café nas redes sociais. Trata-se de um bar gay só para homens, com playground e lounge, mas sem serviço de cozinha. Allan Johan é um dos investidores do negócio – ele também atua como assessor das políticas da diversidade sexual da Prefeitura de Curitiba, além de ser pré-candidato a vereador pelo PSB.

Na última sexta (24), a página do Odara no Instagram informou a um cliente que o espaço receberia no máximo 15 pessoas até meia-noite. A entrada custava R$ 20 com um quilo de alimento não perecível ou R$ 30 sem o alimento.

No Instagram, a divulgação segue a todo vapor. Foto: reprodução Instagram

Não foi a primeira vez que eles abriram as portas durante a quarentena. No dia 16 de março, um comunicado informava aos seguidores que o bar seguiria funcionando com entrada limitada a 50 pessoas. No dia 23 do mesmo mês, houve um recuo e foi anunciada a quarentena. A próxima publicação, no dia 8 de abril, é um convite para três noites de festa no feriado de Páscoa, também com arrecadação de alimentos – todos repassados ao Grupo Dignidade. A essa altura, a Prefeitura recomendava que comércios não-essenciais se mantivessem fechados. 

No dia 17 de abril, quando a abertura do comércio foi liberada, Johan convidou seus seguidores do Facebook para o Odara. Na ocasião, compartilhou uma matéria da Revista Lado A, da qual é dono.

A publicação menciona a polêmica em volta do bar e diz que internautas “prometeram boicotar o estabelecimento e denunciar a reabertura”, mas garante que a casa “afirmou que bares não estão no decreto estadual que fechou estabelecimentos em março”. O texto também informa que agora o Odara abre nas sextas, sábados e domingos e recebe apenas “15 pessoas em seus 250 m², uma pessoa a cada 16m²”. Apesar de haver falas dos proprietários na matéria, seus nomes não aparecem.

No perfil de Johan no Facebook, um seguidor ironizou a informação: “Isso é para rir, né? Então ninguém bate papo, paquera, se beija… cada um no seu (16m) metro quadrado. Hummmm çei (sic)”. Ele rebateu: “É a regra. As pessoas que usufruam de acordo com as consciências delas.”

Procurado pelo Plural, Johan preferiu não dar entrevista. O proprietário seria Thiago Silva, que é mencionado em outras publicações da Revista Lado A. O bar também não quis se posicionar.

Próximas festas já têm data marcada. Foto: reprodução Instagran

Bares seguem reunindo pessoas em Curitiba

O Odara não é o único bar aberto na quarentena. Na sexta (24), O Torto abriu as portas. Uma foto enviada por um leitor do Plural mostra o dono, Arlindo Ventura, sem máscara, assim como os clientes que bebiam e jogavam sinuca no local. O estabelecimento, que habitualmente serve bolinhos de carne, estava com a estufa vazia. O proprietário foi contatado, mas não se manifestou sobre o caso.

O Torto esteve aberto na sexta (24). Foto: Plural.jor

O Distrito 1340 também optou por voltar a funcionar. O espaço recebe até 100 clientes simultâneos e serve comida. É preciso entrar de máscara, mas lá dentro é permitido tirar para consumir. O dono do bar chegou a ser entrevistado pela equipe do Plural, mas depois desautorizou a publicação da conversa.

Ainda no fim de semana, a influencer Bic Müller usou o Twitter para mencionar o prefeito Rafael Greca e reclamar dos bares cheios em Curitiba. Outros internautas entraram na conversa e expuseram mais dois desses comércios: o Porks do Museu do Olho e o Claymore do Água Verde – ambos estariam concentrando aglomerações, de acordo com os seguidores. 

Influencer divulga fotos do Claymore Água Verde. Foto: reprodução Twitter

A foto do Claymore postada por Bic é de uma seguidora, que deixou seu relato: “Os caras me pediram nudes e me mandaram lavar louça enquanto fotografava e o dono do bar tretou com a gente e chamou meu marido de FDP. Depois a polícia apareceu e fechou o bar. Mas hoje tá aberto de novo.”

Marcos Baldissera, gerente do Claymore, defende que a casa serve comida e vem alertando os clientes para não ficarem aglomerados, além de disponibilizar álcool em gel e máscaras. “Mas eu não posso obrigar o cliente a usar máscara. A escolha é dele”, diz.

A assessoria do Porks informou apenas que o bar reabriu seguindo todas as normas indicadas pela Prefeitura de Curitiba. 

Quem pode abrir

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Curitiba esclarece que casas noturnas estão proibidas de funcionar.

Por isso, a Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) recomenda que apenas os bares que servem comida abram as portas. “Muitos bares de Curitiba só têm o serviço de bebida e/ou música. Esses nós orientamos que não abram, até porque podem ser enquadrados como Casa Noturna”, alerta o diretor Fábio Aguayo.

Ainda de acordo com a Prefeitura, nunca houve proibição para outros tipos de bares, apenas era recomendado o fechamento. Mas desde que o prefeito Rafael Greca liberou a abertura do comércio, no dia 17 de abril, esses espaços podem retomar as atividades cumprindo algumas regras.

As medidas previstas em decreto são: respeitar o número máximo de uma pessoa para cada nove metros quadrados; manter distanciamento de um metro e meio entre pessoas; garantir o uso de máscaras e álcool em gel por funcionários e clientes nos ambientes internos e externos; higienizar sanitários constantemente e dispor de sabonete líquido, papel toalha e lixeira com pedal; manter fechadas as áreas de convivência, entre outros detalhes. Confira o decreto na íntegra

Caso descumpra o decreto, o bar pode até mesmo ter o alvará cassado. 

A assessoria da Guarda Municipal esclarece que o órgão tem feito um trabalho de orientação “sempre que constata aglomerações nas mais diversas situações, como em praças, parques e estabelecimentos comerciais”. Além das rondas, os policiais também verificam denúncias feitas pela população via telefone de emergência 153 e 156. 

Quanto aos bares mencionados na reportagem, a Guarda respondeu que ainda ainda não tem dados das operações de fim de semana. Caso a redação do Plural receba mais informações sobre essas denúncias após o fechamento, o texto será editado.

Outro lado

Depois da publicação da reportagem, o Odara Café enviou uma nota ao Plural. Pediu direito de resposta, que foi negado por não haver qualquer erro de apuração ou qualquer motivo que justifique a publicação neste formato. No entanto, o Plural decidiu reproduzir o texto do café, abaixo, reforçando sempre que não vê razões para qualquer correção no texto além de pequenas mudanças que foram realizadas.

O Odara Café Lounge foi aberto em fevereiro de 2020 e vem esclarecer sobre matéria veiculada neste blog jornalístico. Primeiramente, lamentamos imensamente as informações não verídicas apontadas na matéria, bem como a tentativa de criar polêmica atribuindo ao bar qualquer ligação com ente público ou transformar a abertura do bar em um ato político ou de desobediência.

Desta forma, esclarecemos que reduzimos em mais de 90% a circulação de pessoas no Odara, passando a reduzir em três horas o horário de atendimento. Deixamos de abrir quatro dias na semana e estamos trabalhando com público reduzido em 80%. Não fazemos festas, damos um nome para cada final de semana para poder divulgar de forma eficiente. Nosso limite é de 15 pessoas e até o momento atingimos o pico de seis pessoas no bar nas últimas duas semanas.

Apesar de não termos cozinha, oferecemos comidas industrializadas. Seguimos todas as regras pré-estabelecidas de distanciamento e uso de máscaras, álcool gel, limitação por metragem e ainda aferimos temperatura corporal. Os clientes assinam um termo de responsabilidade ao entrar. Ainda, monitoramos os clientes por 15 dias após suas visitas. Não temos conhecimento de nenhum estabelecimento com tantas regras e cuidados.

A forma com que o Plural retratou o Odara e outros bares que abrem neste momento de crise não retrata a realidade. O Odara abriu no Carnaval, fechando três semanas depois e reabriu na Páscoa para manter empregos e garantir a sua sustentabilidade. Não há crime algum, não estão sendo violadas as normas. Por se tratar de um bar gay, entendemos que o local é necessário para oferecer um ambiente seguro para esta comunidade e ainda manter empregos de pessoas que não encontrariam oportunidades de trabalho facilmente. Por conta dessa divulgação desnecessária, entendemos também que agora corremos risco de nos tornar alvos de homofobia em suas diversas formas.

A situação do Odara é diferente pois abrimos um mês antes da crise. Apoiamos a quarentena mas diversas questões não relativas a ter lucro envolvem a reabertura do bar. Uma delas é a campanha de solidariedade que mantemos, em que já doamos mais de 20 cestas básicas neste período para a comunidade LGBT carente. Outra, é uma forma de integrar e alertar a comunidade, principalmente aqueles que não respeitam a quarentena, sobre a importância dela. Nossos clientes são incentivados a permanecer em quarentena e a saberem os riscos que correm, como se proteger, isso está em nosso termo de responsabilidade que todos assinam.

Novamente, lamentamos a perseguição aos estabelecimentos que precisam funcionar e a lamentável exposição desnecessária de pessoas que apostaram no nosso projeto.

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