Bandeira laranja chegou, só a prefeitura de Curitiba não viu

Índice de reprodução da Covid-19 aumentou significativamente, indicando uma evolução rápida dos casos nas próximas semanas

Curitiba está no centro de uma nova onda de transmissão da Covid-19. A média móvel de novos casos confirmados praticamente dobrou nas últimas duas semanas. Mais do que isso, a tendência de queda nos índices de transmissão da doença se inverteu bruscamente antes que a cidade tivesse chegado perto do número de casos anterior ao início da onda, que foi de meados de junho ao começo de setembro.

A onda que chegou agora já era visível há pelo menos duas semanas. Os próprios indicadores criados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) – que foram considerados inadequados e pouco transparentes pelo Ministério Público do Paraná em informação contida no processo movido pelo órgão contra a Prefeitura – já estavam apontando a mudança de bandeira desde 4 de novembro.

Em 6 de novembro a administração municipal foi na contramão do que os dados mostravam e ampliou a liberação de atividades não essenciais através de decreto.

Para epidemiologistas ouvidos pelo Plural (e que pediram para não ser identificados), os casos registrados agora são resultado de infecções ocorridas há duas semanas. Ou seja, mesmo que maiores restrições sejam implantadas na próxima sexta-feira (20), a cidade ainda terá pelo menos 15 dias de pico de casos antes de qualquer efeito de redução na transmissão começar a ser sentido.

Nesta terça-feira (17), o indicador do Monitor de Covid-19 da prefeitura completou o terceiro dia seguido com valor acima de dois – portanto, indicando reinstituição da bandeira laranja. A cidade também teve uma ampliação significativa no R0, o índice que mede a transmissibilidade do vírus na cidade.

Quando está próximo de 1, o índice aponta estabilidade. Abaixo de zero, ele indica redução na transmissão. Em Curitiba, o R0 chegou a 1,11 na semana que terminou em 6 de novembro. Na semana passada, o R0 subiu para 1,25.

Na prática, isso quer dizer a expectativa de crescimento de 11% da primeira semana de novembro para a segunda. E da segunda para terceira, o crescimento esperado é na ordem de 25%.

Aumento acentuado de casos já estava claro há duas semanas. Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba

A implicação é clara: o sistema público de saúde da Capital não chegou a ter um momento de respiro e já está novamente sob pressão. Em números, entre 28 de setembro, quando entrou em vigor a atual bandeira amarela, e o último dia 16 de novembro, a cidade desativou apenas 72 leitos de UTI e conseguiu reduzir a ocupação para 66%.

Mas durou pouco. Nas últimas duas semanas já havia sinais de aumento nos casos. A ocupação das UTIs ficou acima de 70%, chegando a passar de 80% diversas vezes apesar da reabertura de 9 leitos. Esta semana, os hospitais Evangélico Mackenzie, do Idoso e o Hospital do Trabalhador apareceram com ocupação de 100% de seus 102 leitos de UTI no levantamento divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (SESA).

Segundo a documentação técnica do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), a ocupação de leitos de UTI entre 71% e 85% já é um indicador de situação de alerta, com alto risco e indicação de medidas de distanciamento.

Outro ponto que ilustra a pressão sofrida pelo sistema é a comparação entre junho, quando a cidade estava com bandeira laranja e várias medidas de restrição de atividades, e agora. Em 16 de junho a Capital havia aberto 227 leitos de UTI e tinha mais de 100 livres. A cidade só foi chegar à oferta de leitos de UTI que temos hoje (283) quase um mês depois (em 10 de julho chegou a 293 leitos abertos, com 248 ocupados).

No último mês, a cidade manteve, em média, 283 leitos de UTI exclusivos para Covid-19 abertos, e 347 leitos de enfermaria (em junho eram 284 leitos clínicos exclusivos abertos).

Suspensão de cirurgias

Em bom português, apesar do relaxamento nas medidas restritivas, a cidade nunca chegou perto de voltar a patamares de normalidade no atendimento de saúde. Nesta terça, a cidade voltou a suspender as cirurgias eletivas após menos de um mês da retomada, adiando mais uma vez o atendimento a pacientes que estão na espera desde março.

Ao divulgar a suspensão, a prefeitura minimizou seu significado. “Com a experiência sobre o comportamento da doença e com os casos novos, é possível que tenhamos um aumento de internamentos na próxima semana e a medida é de precaução para tenhamos um pouco mais de leitos de covid-19 disponíveis e que ninguém fique sem assistência”, disse Márcia Huçulak, secretária municipal da Saúde de Curitiba, em release divulgado nesta terça.

A suspensão, no entanto, se deu porque as UTIs da Rede Particular já estão apresentando alto índice de ocupação. Epidemiologistas calculam que será inevitável a reabertura de leitos do SUS em breve. Resta saber se o caixa da prefeitura e a saúde das equipes médicas irão suportar este novo desafio.

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4 comentários em “Bandeira laranja chegou, só a prefeitura de Curitiba não viu”

  1. Bom dia
    Eu entendo que exercer o direito de voto é importante ,mas a saúde é mais importante,uma irresponsabilidade do estado brasileiro,E está irresponsabilidade será paga com uma moeda : a vida

  2. Era evidente o que estava por vir, mas o importante é que pudéssemos exercer o nosso direito de cidadãos que vivem numa democracia, fomos às urnas(é claro que acho relevante podermos votar).

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