Baixamos a guarda e pandemia voltou a se agravar em Curitiba. Prefeitura diz que ainda é cedo para reabrir leitos

Indicadores apontam para piora da pandemia na cidade mas prefeitura garante que a situação está sob controle

Apesar do avanço da vacinação contra a Covid-19, o cenário da pandemia voltou a piorar em Curitiba. Neste mês, a capital tem registrado agravamento dos principais indicadores da crise epidemiológica, como o aumento de casos e internações. Mesmo assim, Curitiba continua com medidas restritivas brandas, mantendo as regulamentações da bandeira amarela há 47 dias.

Para a infectologista do Hospital Santa Casa e da Fundação Estatal de Atenção em Saúde (FEAS), doutora em Ciências e professora do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), Viviane de Macedo, a inversão na tendência de queda no número de casos pode estar relacionada com o afrouxamento das medidas de segurança não apenas pelo governo, mas também pela população, que passa a se expor cada vez mais.

“Acredito que muitos estão relaxando as precauções apenas com uma dose da vacina, ou mesmo sem vacina, já que a média de idade dos casos novos é de 39 anos. Associado a isso podemos ter a interferência da variante delta, porém não temos como precisar o impacto porque os estudos moleculares de monitoramento são escassos.”

Em Curitiba, a taxa de pessoas com o esquema vacinal anticovid completo é de 28%, considerando a população total da cidade de 1.948.626, de acordo com a estimativa do IBGE de 2020. Até este sábado (21), foram vacinadas 1.245.777 pessoas com a primeira dose, 522.994 com as duas doses e 37.719 com a dose única da Janssen.

Indicadores

Desde 6 de agosto, mesmo dia em que a Fiocruz divulgou um alerta para o risco de agravamento da pandemia no Brasil devido a variantes como a delta, o número de novos casos do Sars-COV-2 na capital paranaense se mantém acima de 500. Nesta quinta-feira (19), Curitiba atingiu um total de 7.252 casos ativos, o que corresponde a um aumento de quase 25% em duas semanas, quando foram registradas 5.798 pessoas ainda transmitindo o vírus. 

A média móvel de casos, que está em 658, também teve um aumento significativo: o número subiu 44% em relação há duas semanas, quando correspondia a 442. Atualmente, a concentração de casos confirmados na cidade se encontra na faixa etária de 30-39 anos, seguida das pessoas entre 20 e 29 anos. 

Imagem: Painel da Covid-19 em Curitiba, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

A média móvel de óbitos (são 17 a cada 7 dias) também alerta para um agravamento do cenário. Nesta quinta-feira (19), o número estava 28% mais alto que há 14 dias, quando a média de mortes era de 13.57.

Outro fator em elevação é a taxa de letalidade do vírus, que estava estável em 2% desde o final de 2020. Porém, a partir de 13 de março deste ano, a curva está em ascendência, atingindo 2,57% na última quarta-feira (18).

Imagem: Painel da Covid-19 em Curitiba, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Além disso, pela primeira vez em um mês, a taxa real de ocupação de leitos em Curitiba (que se refere à soma da ocupação de leitos exclusivos Covid-19, leitos comuns e a quantidade de pacientes aguardando na fila) voltou a ultrapassar os 80%. O dado, no entanto, pode parecer mais alarmante caso não seja considerada a desativação de 497 leitos entre 1º de julho e 17 de agosto – sendo 368 de Enfermaria e 129 de UTI.

A partir do dia 25 de julho, o aumento expressivo no número de internações somado ao fechamento de leitos fez o total de vagas para Covid-19 disponíveis na rede pública de saúde em Curitiba encolher para menos de 200. Enquanto durante todo o mês de julho a cidade teve, em média, 292 leitos Covid livres por dia, em agosto, esse número diminuiu para 130. 

No mesmo período, o número de pacientes internados com o vírus, que chegou a ficar abaixo de 600 no início de agosto, voltou a se aproximar de 700, sendo que pessoas acima de 80 anos são mais da metade dos pacientes internados na capital (51,54%).

Imagem: Painel da Covid-19 em Curitiba, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), atualmente, as taxas de ocupação dos leitos de enfermaria SUS exclusivos covid-19 e de UTI são de 67% e 68%, respectivamente.

Aumento da demanda

Nesse novo contexto da pandemia, pelo menos três unidades de pronto atendimento (UPA) de Curitiba – Campo Comprido, Boa Vista e Pinheirinho – já relataram o crescimento na procura por atendimento, tanto de pessoas com o vírus quanto de pessoas não infectadas.

Uma enfermeira da UPA Pinheirinho, que prefere não ser identificada, afirma que como houve uma baixa momentânea no número de casos em julho, a prefeitura “tem sido relapsa com alguns cuidados”. 

“Inicialmente reduziram o número de leitos, deixando apenas a sala de emergência com quatro leitos, a sala de coleta e a sala de estabilização para fazer a medicação de quem precisasse, com três cadeiras. As enfermarias haviam sido fechadas, e os pacientes confirmados para Covid ficavam misturados com os pacientes que ainda não tinham diagnóstico confirmado. Isso é um absurdo!”

Na última semana, com o aumento de casos, novos leitos foram ativados na unidade, mas a profissional diz que ainda falta vaga.

“Tenho visto que colocaram muitas cadeiras para dentro. Mas além das cadeiras fica muita gente aglomerada de pé. Tentei conversar com a população e com a chefia mas vejo que não se importam muito. Tá difícil”, conta um enfermeiro do Cajuru.

Outros depoimentos se somam a esses, demonstrando o sentimento de falta de gestão e despreparo com o avanço da pandemia na cidade. “Parece que eles [gestão pública] abriram a guarda. Na realidade, eu acho que eles já se perderam, não estão sabendo como lidar mais, porque a demanda aumentou muito e no começo eles até restringiam bastante, mas agora parece que não estão nem aí.” 

Para a diretora do Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec), Patrícia da Rosa Mendonça, é preciso levar em consideração que a baixa na taxa de ocupação de leitos era prevista, uma vez que a as medidas da bandeira vermelha aliviaram o sistema de saúde por um tempo. “A prefeitura se precipitou mais uma vez com o fechamento de leitos. Esses deveriam ter ficado somente em stand-by até a vacinação de fato estar em 70 a 80% da população vacinada com a segunda dose. Não vemos algo sendo feito nesse sentido, uma vez que a gestão insiste em não dar ouvidos aos profissionais que estão diretamente na linha de frente e nem seus representantes”, afirma.

EPIs

Em meio ao agravamento dos indicadores da crise sanitária e à lotação das unidades de saúde, profissionais mencionam problemas com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

“As máscaras que estão sendo entregues não são as mesmas de anteriormente, elas não têm a mesma qualidade, não veda direito, machuca o nariz e as orelhas. Os pijamas não estamos recebendo, e quando vem é em pouca quantidade, não tem tamanho certo para todas as pessoas. No último plantão os pijamas que vi nos meus colegas eram duas vezes o tamanho deles”, conta a enfermeira da UPA Pinheirinho, que voltou a utilizar o pijama particular.

“Pijama cirúrgico realmente a prefeitura tem dificuldade em gerenciar com a lavanderia a lavagem, tem dia que tem e tem dia que não tem. A justificativa é que a lavanderia não dá conta, atrasa, etc. Talvez a solução fosse então adquirir mais pijamas…Sobre as máscaras, nunca faltou N95 ou a PFF2. Não é a das melhores, mas tem e protege. O face shield fornecido ultimamente é bem desconfortável porque é de plástico duro na cabeça, não tem espuma, então é praticamente impossível ficar com isso 12 horas no plantão”, conta uma profissional da UPA Cajuru.

Questionada sobre a eficácia contestada das máscaras, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirmou que todos os EPIs adquiridos pela pasta têm certificações de qualidade e passam por avaliação das características antes da aquisição.

O que diz a prefeitura   

Procurada pelo Plural, a SMS informou que o aumento de casos está relacionado à introdução da variante delta, mas também ao relaxamento das medidas de proteção individual por parte dos cidadãos (uso de máscara, álcool em gel e distanciamento). No entanto, isso não significa, necessariamente, um novo avanço da pandemia na cidade.

De acordo com a pasta, a reabertura de novos leitos, caso necessária, pode ser imediata. No entanto, como o aumento nas internações até o momento “não se mostra sustentado” e a taxa de transmissão do vírus R(t) “indica desaceleração da pandemia” – estando em 0,98 – ainda não há planos para a ativação de novos leitos. “O aumento de casos não tem se refletido, até este momento, em aumento sustentado de internamentos. Isto possivelmente está relacionado ao fato de ter mais de 80% da população acima de 18 anos com ao menos uma dose de vacina. Mesmo assim, é importante que todos mantenham as medidas de prevenção para evitar o aumento de casos”, informa a SMS em nota. 

A secretaria ressalta que a cidade está preparada para se remobilizar a fim de combater um possível agravamento da pandemia por meio da reunião semanal do Comitê de Técnica e Ética Médica que avalia os dados e toma as medidas necessárias. 

Reportagem sob orientação de João Frey

Sobre o/a autor/a

2 comentários em “Baixamos a guarda e pandemia voltou a se agravar em Curitiba. Prefeitura diz que ainda é cedo para reabrir leitos”

  1. Tem faculdade que esta 100% presencial. Sem respeitar saude de alunos e de professores. Varias turmas afastadas por terem doentes, mas varias se contaminando.
    E o pior é que o dono é professor. Pelo menos ate ontem… Hoje foi incorporada

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