Audiência pública discute crise hídrica em Curitiba

Situação de emergência hídrica foi decretada em 7 de maio de 2020; rodízio segue acontecendo

Na próxima quinta-feira (29), às 14h, a Comissão de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Assuntos Metropolitanos da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) realizará uma audiência pública para discutir a situação da falta de água que afeta a Grande Curitiba desde o ano passado.

A reunião, que será transmitida ao vivo pelo YouTube, Facebook e Twitter, irá abordar a origem dos problemas de abastecimento de água na cidade, o racionamento, a situação atual da crise hídrica e a política tarifária. 

“A crise hídrica está bem clara, estabelecida há muitos meses já, e não se chega em um consenso”, afirma a vereadora Maria Leticia (PV), presidente da Comissão. A parlamentar aponta que, antes de chegar a uma conclusão a respeito do planejamento e medidas para solucionar a questão da água na cidade, é preciso entender quais responsabilidades são do município e quais são da empresa prestadora de serviço, a Sanepar. “Existe um contrato que foi renovado. No mínimo a gente tem que compreender quais são as relações que existem nesse documento, para ver o que ele previa, em termos de reajustes e taxas.”

Para a vereadora, a crise hídrica vai muito além da falta de chuva: “Essa falsa sensação de que há falta de água pelo consumo desmedido é uma responsabilidade que querem impor para os cidadãos de maneira injusta. Na verdade, isso é má gestão ligada à questão ambiental”, defende. 

Maria Leticia reforça ainda a importância da participação da população no debate, com comentários e sugestões por meio do chat do YouTube ou das redes sociais.

Também participam da audiência representantes da sociedade civil e do poder público, membros de movimentos ambientalistas, pesquisadores de universidades e representantes da Sanepar, Prefeitura de Curitiba, de outras cidades da Região Metropolitana e Governo do Estado.

A crise hídrica

A crise hídrica que acomete Curitiba está longe de terminar. Com o agravamento da estiagem e a diminuição dos níveis dos mananciais, em maio de 2020, o Governo do Estado decretou situação de emergência hídrica, adotando o rodízio no abastecimento da água, que segue até hoje.

De acordo com a Sanepar, nesta sexta-feira (23), o nível médio dos reservatórios do Sistema de Abastecimento Integrado de Curitiba e Região Metropolitana (SAIC) ficou em 56,7%. O mês de março terminou em 61%, mais baixa porcentagem registrada nesse período desde que a empresa passou a fazer medição mensal das barragens, em 2010. Em março de 2020, o nível estava em 69%; em 2019, 93%. 

Com uma precipitação de apenas 0,6 milímetros em Curitiba e Região Metropolitana (RMC) na primeira quinzena de abril, a Sanepar reforçou o alerta para o uso econômico da água. Isso porque há um déficit hídrico que só será superado quando houver chuvas acima da média por um período regular, e isso ainda não ocorreu. “Embora as informações meteorológicas disponíveis no momento indicam que estamos a caminho da superação da crise hídrica com o término do fenômeno La Niña ainda no primeiro semestre, é preciso precaução.” E acrescenta: “Tanto o rodízio como a economia por parte da população podem assegurar níveis de reservação suficientes para os próximos meses.”

Rodízio

Desde o dia 15 de março, a Sanepar adotou o modelo 60hx36h de rodízio – dois dias e meio com água e um dia e meio sem. “Qualquer alteração ou término do rodízio depende das condições pluviométricas, da evolução do consumo de água pela população e dos níveis de reserva das barragens do SAIC.”

Na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), o rodízio no abastecimento continua em vigor há mais de um ano. No primeiro trimestre de 2021, segundo dados do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), as chuvas na RMC somaram 380 milímetros, abaixo da média histórica para o período, que é de 460 mm. Em 2020, o volume de precipitações do primeiro trimestre foi de 247 mm.

Obras 

Segundo a Sanepar, as obras e investimentos da empresa são planejados com base em um Plano Diretor de Abastecimento Integrado que leva em conta vários fatores, como “projeção populacional, disponibilidade hídrica existente, estudos de potencialidade para exploração de mananciais e balanço histórico pluviométrico”. 

“A ocorrência da atual crise hídrica não encontra precedente nos últimos 50 anos, ou seja, nenhum sistema de abastecimento é projetado em função de eventos que ocorrem com tão grande espaçamento de tempo. No entanto, desde a crise hídrica que afetou a Região Sudeste (São Paulo), em 2014, a Sanepar passou a incluir no seu Manual de Obras cálculos que preveem estiagem severa”, afirma a empresa por meio de nota.

Caso tivesse sido concluída há 11 anos, como o planejado, a Barragem do Miringuava, que terá capacidade de 38 bilhões de litros de água, poderia estar ajudando a frear a crise hídrica na Região Metropolitana de Curitiba. Atualmente, cerca de 97% das estruturas de concreto estão finalizadas. A conclusão da obra está prevista para 2021.

“Neste estágio, as condições climáticas impõem o ritmo da construção, uma vez que o teor de umidade do solo é determinante para a execução das obras dentro dos critérios técnicos do projeto de engenharia, visando a garantia da segurança e estabilidade da barragem. Nos últimos meses de 2020 e no primeiro trimestre de 2021, as chuvas naquela região trouxeram dificuldades à obra. Em dezembro, por exemplo, os intervalos entre as chuvas foram de três a quatro dias. Na primeira quinzena de março, praticamente não houve intervalo. Esse espaçamento curto entre as chuvas impede a secagem do solo e a movimentação da terra.”

Além da Barragem do Miringuava, estão em andamento outras quatro obras de reforço à reserva e distribuição integrada de água da Grande Curitiba. Segundo a Sanepar, as construções vão elevar a capacidade de reservação para 414 milhões de litros e aumentar em 107 quilômetros a rede de distribuição na RMC. “Esse conjunto de obras atualiza o modelo de distribuição de água para atender ao crescimento populacional e melhorar a integração do sistema de abastecimento da RMC.”

Os novos reservatórios estão sendo construídos nos bairros Santa Quitéria (10 milhões de litros), Sítio Cercado (10 milhões de litros), Lamenha Pequena (3 milhões de litros) e Butiatuvinha (2,2 milhões de litros). Ainda neste semestre devem ser concluídos os de Lamenha Pequena e Butiatuvinha. O restante deve ser concluído em 2022. 

Também está em andamento a obra de transposição do Rio Capivari, em Colombo, que irá incrementar 713 de litros de água por segundo à Barragem do Iraí no Sistema de Abastecimento Integrado. Por conta da estiagem, o projeto, que estava previsto para ser implementado em 2025, foi antecipado. O prazo para conclusão é setembro deste ano.

Colaborou: Maria Cecília Zarpelon

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