Após reportagem sobre pobreza menstrual, mulheres se mobilizam e doam

Absorventes e coletores menstruais chegaram à Penitenciária Feminina de Piraquara depois que o Plural mostrou a insuficiência e baixa qualidade dos produtos ofertados

“Depois que foi noticiada a dificuldade de acesso das presas aos absorventes tradicionais, a comunidade se mobilizou muito”, conta Juliana Duarte, vice-presidente da Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP), na Região Metropolitana de Curitiba. Em agosto, o Plural mostrou que os produtos entregues às custodiadas eram insuficientes e de baixa qualidade, oferecendo risco à saúde das mulheres – e, desde então, as doações não param de chegar. São absorventes, coletores menstruais, materiais de higiene, livros e muita sororidade.

Na semana passada, o projeto Igualdade Menstrual esteve na unidade prisional para entregar 160 coletores menstruais e tirar todas as dúvidas da equipe sobre o uso dos produtos. Inicialmente a ideia é testar a receptividade das presas à novidade, mas no futuro as doações serão estendidas – inclusive às agentes penitenciárias. 

“O processo precisa acontecer por adesão espontânea, não pode ser de maneira imposta. Então, agora, a nossa enfermeira, que é uma pessoa sensacional, vai fazer um trabalho de conscientização com as meninas. E acredito que vai ter, sim, boa adesão”, comemora Juliana. 

Até lá, as presas vão poder contar com o estoque de doações que receberam: o @mulheres.projeto doou 400 kits de higiene com livros para as detentas; o Conselho da Comunidade entregou mil pacotes de absorventes; um grupo de alunas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) levou outras centenas de produtos de higiene; a Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB PR) acrescentou mais absorventes. Isso tudo além das várias pastorais carcerárias de igrejas que se engajaram na causa.

Doações de alunas da PUCPR. Foto: PFP

“Hoje, meu coração é só gratidão e amor. Acho que essas duas palavras resumem bem como é ver um bom trabalho realizado em conjunto. A gente precisa muito de ajuda. O Estado não pode tudo. Se a comunidade participar, o resultado sempre será melhor”, diz a vice-diretora.

Saúde e sustentabilidade

“A gente tem um carinho especial pelos coletores menstruais. Já vínhamos buscando uma alternativa aos absorventes comuns, não só por higiene e saúde mas também pela sustentabilidade, que é tendência no mundo inteiro”, afirma Juliana. Segundo ela, atualmente a PFP tem problemas na tubulação por causa do mau descarte dos absorventes comuns.

“Fizemos um estudo sobre a viabilidade dos coletores, mas o nosso receio era sobre a forma de higienização. Não queríamos que isso gerasse qualquer problema para as internas. Até que, recentemente, conversando com pessoas da área da saúde e fabricantes dos coletores, constatamos que a imersão em água fervente é suficiente para fazer a correta higienização”, esclarece. “Pra nós, foi um passo bem importante!”

A vice-diretora também diz que pediu ao projeto Igualdade Menstrual que estendesse o benefício às agentes e a proposta foi bem aceita. “A gente se surpreendeu porque muitas também não conheciam essa alternativa, mas tendo mais acesso à informação, elas poderão estimular as presas. Existe muito diálogo entre elas.”

Igualdade Menstrual

“A ideia de criar o projeto surgiu quando eu li um artigo chamado Menstrual Poverty. Fiquei intrigada com o termo, pois nunca havia escutado. Procurei mais sobre o assunto e encontrei bastante coisa; vi documentários sobre a pobreza menstrual em vários lugares do mundo. Pensei: se há em todo lugar do mundo, no Brasil não estaríamos livres disso”, relembra Adriana Rebicki, fundadora do grupo Igualdade Menstrual.

Após ler que uma em cada quatro meninas deixava de ir à escola, de se formar, de ter boas oportunidades profissionais pelo fato de menstruar, ela foi em busca de soluções. Primero buscou apoio de vereadores para propor projetos de lei na esfera municipal e chegou até o deputado estadual Goura Nataraj, que montou uma comissão especial sobre o assunto. “Escrevemos dois projetos de lei que já foram apresentados no município de Curitiba e no estado do Paraná. O primeiro propõe a distribuição de absorventes pela Rede Pública de Saúde e de Ensino. O segundo que seja um item da cesta básica. Ainda estão sendo analisados.”

Os próximos passos foram criar uma conta no Instagram para informar as pessoas sobre o assunto e buscar parceiros e doações – como a que ela articulou com a Penitenciária Feminina após ler a reportagem do Plural. “Com o apoio da Fleurity nós estamos, aos poucos, distribuindo coletores juntamente com um folder explicativo do projeto e um treinamento de uso do objeto doado. É claro que é uma novidade e sempre gera curiosidade e receio, mas acho que foi bem recebida e será um sucesso.”

A entrega dos coletores na Penitenciária Feminina do Paraná. Foto: Mariana Tanaka Savelli

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