Cálculo feito pelo Laboratório de Estatística e Geoinformação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostra que o número de reprodução (R0) da Covid-19 em Curitiba voltou a subir depois de 38 dias em queda. Ainda é um movimento tímido, que pode ser atribuído à flutuação normal dos números. Mas também pode indicar que a flexibilização das restrições a atividades não essenciais, feita pela Prefeitura, pode reverter um processo lento de redução de casos na cidade.
Desde de 22 de fevereiro, Curitiba passou a registrar uma queda muito lenta no número de reprodução, um indicador que aponta se a transmissão do vírus na região está estável, aumentando ou caindo. Neste dia, o R era de 1,32. Isso significa que a cada 100 pessoas infectadas, 132 são contaminadas. O R chegou a 0 em 20 de março, quase um mês depois e a 0,83 em 1 de abril. Mas voltou a oscilar para cima nos dias seguintes. Neste dia 7 o R está em 0,87.
Reduzir a velocidade de transmissão é essencial para reduzir o número de casos graves (e que exigem internação) e óbitos pela doença. Uma queda no R0 tende a ser refletida numa redução de óbitos e internações cerca de 10 dias depois. Portanto, se o R0 voltar a crescer, a diminuição de internações e mortes atual poderá vir a ser interrompida nas próximas semanas.
Desde 25 de fevereiro, Curitiba enfrenta uma ocupação real de leitos Covid-19 acima de 100%, com um número crescente de pacientes com a doença em leitos comuns ou na fila aguardando vaga. A partir de 21 de março, a cidade finalmente reverteu a tendência de alta no número de internações e começou a reduzir o déficit de vagas – que chegou a 498 leitos – para menos de 100. Nesta quarta, dia 7 de abril, a cidade tem um déficit de 98 leitos Covid-19 e uma fila de 195 pessoas aguardando internação.
É justamente a falta de recursos para atender todos os pacientes que demonstra o colapso do sistema de saúde, já que faltarão leitos, equipamentos e medicamentos para atender pessoas em estado grave, não só com Covid-19, mas também outras situações graves de saúde.
Se a tendência de alta do R0 se confirmar, Curitiba deve voltar à situação calamitosa de março ainda em abril, sem ter conseguido zerar totalmente a fila por leitos atual. Além disso, a situação limite na qual a cidade permanece mantém seus profissionais de saúde sob pressão, aumentando o risco de adoecimentos e redução de equipe.
Os dados da Prefeitura de Curitiba, por outro lado, indicam uma redução maior do R0 para 0,75 em 1 de abril. O cálculo da PMC é feito sobre a data da coleta dos exames para Covid, enquanto o da UFPR é baseado na data de divulgação de novos casos no boletim diário da Secretaria Municipal de Saúde. Nos dois casos, no entanto, o cálculo é feito somente com base em casos confirmados por exame. Como a cidade testa muito pouco, é provável que o número de reprodução seja subestimado.
Parabéns pelo artigo.
Informação consistente e oportuna, como sempre.
A propósito, gostaria de saber como obter o número de pacientes aguardando leito de UTI, pois não encontro esse número nos boletins epidemiológicos da Secretaria Estadual de Saúde.
Obrigado.
Oi Tyrso, A fila de pessoas aguardando leitos está disponível diariamente aqui: http://www.coronavirus.pr.gov.br/Campanha/Pagina/Transparencia-Leitos-SUS-Exclusivos-para-COVID. Só atente que há dois sistemas regulatórios. O Care é do governo do Estado e vale para o estado todo, o CLIC é administrado pela prefeitura de Curitiba e se refere a fila na RMC. Pode haver sobreposição entre essas duas filas.