A Aldeia de Queimadas, em Ortigueira, a 250 km de Curitiba, está lutando contra a Covid-19 desde julho, quando o primeiro morador soube que estava contaminado. De lá pra cá, as lideranças da comunidade afirmam que outros 56 indígenas testaram positivo para a doença. Um homem de 37 anos faleceu, 20 pacientes seguem em tratamento e os demais estariam recuperados.
“Agora que nós recebemos o kit dormitório da Defesa Civil e conseguimos montar salas de isolamento na escola da comunidade”, diz Elis Regina Ferreira Gabriel, presidente do conselho local de saúde e secretária do cacique Otavico Cre-vik Correa. Segundo ela, todos os doentes estavam fazendo isolamento em casa até a última sexta-feira (21).
Queimadas tem 1.416 moradores, sendo 236 famílias. Isso significa que, em média, 5 a 6 pessoas habitam cada moradia – algumas com banheiro, outras sem. “E a nossa água… É a Sesai que faz a distribuição, mas não tem tratamento nenhum. Ela é de péssima qualidade”, afirma Elis.
A ajuda com alimentação e testes foi surgindo ao longo do tempo. “O DSEI (Distritos Sanitários Especiais Indígenas) disponibilizou três enfermeiros para fazer a coleta dos exames. Eles também vão entregar cestas básicas para as famílias, que vão montar marmitas para entregar aos pacientes.”
A testagem em massa também promete estar a caminho. De acordo com Elis, a Klabin já doou exames para toda a comunidade. “O que não vem são produtos de limpeza e álcool gel. Fora a água, atualmente é essa a dificuldade das famílias da aldeia de Queimadas.”
Ajuda da Funai
“A nossa preocupação é que tem outra aldeia no mesmo município, Mococa. Fica uma de cada lado da cidade. Muitas vezes, esses indígenas visitam a outra aldeia ou se encontram no comércio da cidade, então estamos bem preocupados com a possibilidade de chegar lá”, diz uma fonte da Fundação Nacional do Índio (Funai) ouvida pela reportagem.
Ela afirma que a Funai está prestando auxílio aos indígenas do Paraná com compras feitas a cada dois meses. Seriam duas cestas por família, adquiridas com o apoio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. “Agora estamos procedendo a compra de mais cestas emergenciais, mas elas não serão suficientes para todo mundo.”
Para suprir essa falta, a sociedade civil vem mobilizando doações – inclusive para ajudar os indígenas de Queimadas. “A Funai tem recorrido a essa ajuda muitas vezes, as pessoas têm nos fortalecido bastante no enfrentamento dessa pandemia. Como existe um decreto prevendo que apenas funcionários da Funai e da Sesai podem entrar em terras indígenas durante esse período, nós fazemos as entregas. Higienizamos tudo o que recebemos e deixamos nas comunidades, muitas vezes sem nem nos encontrarmos com os indígenas.”
Via assessoria de imprensa, a Funai não repassou o número oficial de indígenas contaminados pelo coronavírus na aldeia, nem no Paraná. Apenas informou que realizou a entrega de cestas de alimentos aos indígenas que vivem em Queimadas e segue acompanhando a comunidade.
A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) – responsável pelos atendimentos de saúde e fornecimento de água no local – não respondeu ao Plural até o fechamento desta reportagem.
Como doar
O Projeto Origem, de Curitiba, está organizando doações para enviar à Aldeia de Queimadas. Saiba como ajudar clicando aqui.