A luta dos professores contra a volta às aulas presenciais no Paraná

Educadores exigem a vacinação do grupo antes de retornarem às salas de aula

Enquanto o Paraná caminha para a que pode ser a pior onda da pandemia até agora, com a vacinação de educadores ainda na fase inicial, o Governo do Estado segue com a decisão de manter as escolas funcionando no modelo presencial. Com isso, professores das redes municipais e estaduais de ensino de diversas cidades do Paraná protestaram nesta semana contra o retorno das aulas nesse momento.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) Hermes Leão explica que diante da decisão do governo estadual de retomar as aulas presenciais, a entidade, junto dos sindicatos municipais e frentes de educadores, entrou em processo de greve. “Precisamos fazer essas manifestações – infelizmente necessárias em um momento que deveríamos estar todos em isolamento – por conta do governo expor a vida dos profissionais, tanto professores quanto funcionários das escolas”, afirma.

Leão explica que como as Prefeituras de alguns municípios optaram por manter o ensino remoto, o comando de greve estadual e os núcleos sindicais das cidades deixam a possibilidade de a população se manifestar de acordo com o contexto de cada local.

No momento em que o Paraná atinge mais de 25 mil mortos e 96% dos leitos UTI exclusivos Covid-19 ocupados, Leão afirma que o retorno presencial é incoerente. “Não faz sentido o município ficar com uma das redes com as aulas suspensas e liberar as demais. Isso banaliza o trato da pandemia e a própria vida das pessoas. É muito grave.” 

O presidente da entidade, que representa 120 mil profissionais da Educação no Paraná, ressalta que as manifestações não contam com muitas pessoas justamente para controlar a aglomeração, mas que os atos são necessários para lutar pela vida e saúde dos profissionais e da comunidade.

No próximo sábado (29) haverá uma assembleia estadual da categoria reunindo os 29 núcleos sindicais do Paraná para uma reunião de avaliação do cenário e definição dos próximos passos. 

Pinhais

Em Pinhais, o protesto começou às 17h30 deste domingo (23), em frente à Secretaria de Educação de Pinhais e contou com a participação de professores e lideranças de vários sindicatos municipais. Além das faixas e cartazes exigindo vacinas e o ensino à distância, os manifestantes homenagearam as vítimas da Covid-19. Nesta segunda-feira (24), outro ato aconteceu em frente ao Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco. Essa era uma das unidades escolares prevista para receber o Secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, que não apareceu.

Professores acenderam velas e fizeram um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da Covid. Foto: Emerson Nogueira

Embora idealizada pela Frente de Educadores e Educadoras em Defesa da Escola Pública, que representa as demandas de Pinhais e Piraquara, municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a manifestação contou com professores e pedagogos tanto da rede estadual quanto da municipal.

Há mais de 15 anos dando aulas na rede municipal de ensino de Pinhais, a professora e membro da Frente de Educadores Gisele Schmidt conta que o protesto foi uma tentativa de sensibilizar o governo ao não retorno das aulas nesse momento. “Mais do que qualquer cidadão nós queremos voltar para a escola porque a sobrecarga de trabalho nesse modelo [virtual] é muito desgastante. Nós queremos voltar, mas com segurança e com vacina.” 

Gisele explica que esta é a terceira tentativa de retorno às aulas presenciais na cidade. As outras duas foram canceladas por conta do alto risco de contaminação. “Nós sabemos como as crianças sofrem com a adaptação. Não dá para ficar nesse vai e volta – além do perigo da contaminação há o fracasso do ensino híbrido, porque nós não temos os mecanismos que uma escola particular tem para garantir o ensino dessa forma. Estamos cansados dessas ações arbitrárias – desse ‘cumpra-se’ que vem do governo, mas sem diálogo com a gente. A gente vai continuar na resistência.”

Foto: Emerson Nogueira

A professora da rede municipal de Pinhais Rosana Fernandes também participou da manifestação de domingo. Assim como Gisele, Rosana explica que não é como se os professores não quisessem retornar às salas de aula, mas que é preciso fazê-lo com segurança para todos. “A gente quer voltar. Até porque é muito mais desgastante agora. O aprendizado das crianças é prejudicado, as famílias têm dificuldades. Mas, neste momento, não dá”, afirma.

Rosana tomou a primeira dose da vacina na última quinta-feira (20), mas relata que a segunda será aplicada apenas em agosto. “Além de o governo não cumprir com a vacinação, agora querem que a gente volte para a sala de aula para arriscar as nossas vidas, de nossos familiares, dos alunos e das famílias dos alunos também. Eles brincam com a vida das pessoas como se fosse um jogo, mas isso não é brincadeira.”

Foto: Emerson Nogueira

O professor e presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Educação Pública Municipal de Pinhais-PR (Sindeduc) Geovane Santos destaca que, mesmo Pinhais tendo começado a vacinação dos profissionais da educação no ínicio deste mês, ela só pôde ser retomada no dia 17, por conta do estoque de doses disponível. 

De acordo com Geovane, mesmo com um protocolo de retorno, não há como garantir efetivamente que os profissionais e os próprios alunos não serão infectados com o vírus. “Em um momento grave como esse, Pinhais não tem nenhum hospital. Os pacientes são encaminhados de acordo com a disponibilidade de vagas em outros municípios. Ou seja, não tem nem como tratar os seus cidadãos aqui, mas mesmo assim insiste em retornar às aulas presenciais”, observa.

Foto: Emerson Nogueira

O presidente do Sindicato ainda destaca a falta de recursos de segurança sanitária nas escolas para os professores, como EPIs, máscaras e álcool gel. “Parece que eles [governo estadual e municipal] não levam isso a sério, eles vendem a ideia de que está tudo organizado, mas a gente que está lá no chão da escola vê que não está.”

O ato simbólico na cidade contou com cerca de 60 pessoas, segundo Geovane. Além de tomar todas as medidas necessárias de distanciamento, o ato não foi amplamente divulgado, justamente para não correr o risco de aglomeração. Nesse momento, a entidade faz visitas nas escolas e acompanha professores e funcionários para avaliar o retorno presencial.

Colombo

O dirigente regional da APP-Metronorte (núcleo sindical da APP-Sindicato que representa 14 municípios do norte da Região Metropolitana de Curitiba) Elio da Silva entende que ao permitir o retorno das aulas presenciais, o Governo do Estado desconsiderou que a maior parte das cidades da Região Metropolitana nem começou a aplicar a primeira dose da vacina no grupo de profissionais da Educação. “A APP como um todo sempre defendeu a volta das aulas somente após a vacinação com as duas doses de todos os trabalhadores. A decisão do Governo revoltou os profissionais, que em tese já estavam em greve contra o retorno presencial às salas de aula neste momento desde fevereiro”, afirma.

Elio conta que ao ficar sabendo dos protestos organizados em Pinhais, o Secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, mudou o rumo das visitas que estava fazendo nas escolas da Região Metropolitana e foi para Colombo. Lá, no Colégio Alfredo Chaves, Feder foi recebido com mais manifestações: “Ele veio fazer o que, de certa forma, não conseguiu fazer em Pinhais, mas também recebeu protestos de professores cobrando medidas de segurança e vacina.”

De acordo com Elio, na segunda-feira (24), os diretores das escolas estaduais de Colombo se reuniram e deliberaram, em unanimidade, pelo não retorno das aulas presenciais sem vacinação. “As escolas que retornaram estão com poucos alunos porque os próprios estudantes entenderam que não é o momento para retornar de maneira segura. Nós [os Sindicatos] procuramos fazer essa resistência. Entendemos que é preciso retornar às aulas, mas com segurança. E esta segurança só se dará a partir da vacinação, tanto dos professores quanto da comunidade em geral”, finaliza.

Procurada pela reportagem, a Secretaria do Estado da Educação (Seed-PR) preferiu não se manifestar sobre os protestos.

Vacinação de educadores no Paraná

No começo deste mês, o Governo do Paraná priorizou 32 mil doses de vacina contra a Covid-19 para profissionais da edução do estado. Segundo o órgão, no entanto, o número corresponde a apenas 14% dos trabalhadores da educação previstos no Plano Estadual de Vacinação, estimado em 223.167 pessoas. O dado leva em consideração profissionais das rede pública (estadual e municipal), privada e da assistência social. Educadores e assistentes ligados apenas à Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed) são cerca de 90 mil.

Em Curitiba, a partir desta segunda-feira (24), são vacinados com a primeira dose profissionais da Educação Básica com 50 anos completos ou mais. Estão na lista, professores e trabalhadores da Educação Básica (creches, CMEIs, pré-escolas, ensino fundamental, ensino médio, ensino profissionalizante e Educação de Jovens e Adultos), das Redes Pública e Particular de Ensino. 

Colaborou: Maria Cecília Zarpelon

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7 comentários em “A luta dos professores contra a volta às aulas presenciais no Paraná”

  1. Sou a favor da vacina urgente para todos . Inclusive a classe de professores , todos literalmente. Mais vejo tb muitos professores dando atestados ,isso pq é aulas on line . Como que fica os alunos em fase de aprendizado ? Nao tem aulas on line na maioria dos dias da semana e não tem aula presencial . Aí fica difícil também.

  2. Izaira Rodrigues de Andrade

    Sou professora e favorável à volta aulas, mas penso que só no segundo semestre, em julho. Agora a situação está crítica em muitos municípios. As nossas crianças e adolescentes estão ávidos por um convívio social com colegas e professores. As crianças já passaram muito tempo longe da escola. Penso que podemos voltar no segunda quinzena de julho ou início de agosto. Eu já tomei a primeira dose da vacina.

    1. Deem graças a Deus que tomaram primeira dose, pq nós comerciantes não tomamos e tivemos que voltar em peso e apavorados…

      Nós comerciantes não podemmos fazer greve, pq o Municipio e Estado não pagará nossas contas e vai faltar na mesa.

      Nos comerciantes temos que levar nossos filhos que não podem ir para escola para dentro do comércio, pois são vulneráveis e não podem ficar em casa sozinhos, são crianças…

      Pq vcs querem a vacina de vcs?? E nós pais? E nós comerciantes? E nossos filhos? Proteger só vcs?

  3. Interessante tudo isso. Mais ainda é a diferença com que professores da rede estadual/municipal e particular são tratados. A vacinação dos profissionais da educação começou, mas a passos lentos… enquanto isso, rede particular funciona…e pública não…qual o motivo disso? Por que dessa diferença?

    1. Se eu responder o que penso será ofensivo demais, então só vou fazer mais um questionamento.
      Porque será essa distinção de publica e privada se todas as vidas importam.
      Um dos motivos é que o dinheiro cai no final do mês, se não caísse estavam esperneando para ir trabalhar.

  4. RONALD JOSE MAGALHAES

    Isso é desumano: voltar às aulas sem vacina! E os profissionais da rede particular, inclusive, que , pressionados, já voltaram, continuam se contaminando de maneira acelerada. Estamos sofrendo muito com pessoa muito próxima que está internada. Talvez a quinta da mesma escola que contraiu o vírus. E parece que os paranenses só têm o Plural pra afrontar as três instâncias de Poder insensíveis, incompetentes, ideologicamente alinhados com a neo barbárie capitalista.

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