A casa mais icônica da Trajano está de volta: reinauguração do Wonka já tem data marcada

Ieda Godoy, proprietária da casa, promete mudanças: "Quem entrar vai ver um outro bar”

A noite curitibana ganhou o bilhete premiado: a casa mais icônica da rua Trajano Reis reabre as portas em 6 de janeiro. O Wonka brindou por 12 anos a cidade com uma mistura que revela a essência de sua idealizadora, Ieda Godoy: diversão, música, dança e cultura na dose certa. Isso fica, ou melhor, volta, conforme ela nos contou. Contudo, tem muito mais esperando pelo público neste retorno tão aguardado.

“Fiquei olhando para o que deu certo e resolvi repetir os dias todos [terças com poesia; nas quartas o samba; quintas de jazz; sextas e sábados com DJs, para a pista pegar fogo no porão]. A poesia, tem que ter, porque meus projetos sempre têm a cultura envolvida, a arte envolvida fortemente. No Wonka, havia muito espaço para fazer tudo o que eu desejava e os outros bares não permitiam”, ela explica. Ieda continua à frente do Mãe — Café, Bar, Restô, e do Café Mafalda. 

Entre as fórmulas que deram certo, retorna também Will Porfirio, gerente da casa por cinco anos antes do encerramento. Segundo Ieda, existe uma forte sinergia entre os dois: “Foi a primeira pessoa em que pensei, as nossas ideias fluem. E não é por concordar com tudo, é por discordar inclusive, mas a gente consegue evoluir.” Will se apaixonou pelo Wonka já no primeiro encontro. A mistura entre música alternativa com programação diferenciada a cada noite, junto com intervenções artísticas, como a do coletivo Mucha Tinta e uma instalação sinestésica de Marcelo Scalzo, o transformaram em frequentador assíduo. Depois passou por várias funções até trabalhar na gerência.

Sobre os preparativos, a dupla afirma que estão a todo vapor. “É uma avalanche de nostalgia, expectativas e de animação. Estamos com a corda toda, das oito da manhã às dez da noite e até mais às vezes, botando as ideias pra funcionar. O Wonka vem com todo o carinho que merece”, diz o gerente.  

Não é só o passado de glórias que promete trazer ao novo bar os órfãos-do-Wonka, os quais chegaram a manter um grupo chamado “Wonkanato” no Facebook. Aos moldes do que implementou no Dizzy, ao lado de Jeff Sabbag, Ieda abrirá e fechará a casa mais cedo de terça a quinta: “O público gosta, porque vai ter uma vida no dia seguinte. A equipe agradece, porque vai trabalhar em um horário mais normal. Era algo que eu pensava independente da pandemia, mas foi reforçado durante o período, tudo está acontecendo mais cedo.” Ieda foi, inclusive, uma das cabeças no movimento Fechados pela Vida.

A decisão resultou em outras mudanças para tornar o lugar mais convidativo. Na temporada que se inicia, a cozinha será um ponto forte. Era algo que faltava no passado e empurrava a programação para um horário cada vez mais tarde, conforme a avaliação da proprietária. Os drinques elaborados virão para complementar o cardápio.

Questionada sobre qual seria a grande novidade, ela confessa: “Pegar um lugar que funcionou 12 anos, ficou cinco anos e meio parado e volta agora, pede um cuidado para que venha fresco. Essa metamorfose, que eu trago dentro de mim, é uma coisa que levo para todos os lugares. Vou trazer um Wonka repaginado, com mudanças drásticas na estrutura. Quem entrar vai ver um outro bar”.

As reformas surpreendentes sempre foram parte do bar. Fora a primeira, quando chegou ao imóvel, as mudanças sempre foram assinadas por mulheres. Desta vez, a empresária montou uma dupla de arquitetos porque não queria um Wonka muito feminino, nem muito masculino, buscava o equilíbrio do Tao. Os escolhidos para a missão foram: Claudia Vega, frequentadora do Mafalda que fez com Ieda o jardim do Dizzy e o projeto do Mãe; e Julio Linhares, que trabalha com projetos diferenciados, como construções com contêineres e materiais alternativos, além de atuar em estúdios brasileiros e internacionais de computação gráfica. Os dois nunca trabalharam juntos antes, mas o resultado foi impressionante, “as sacadas estão muito legais”, afirma Ieda. O cuidado com os detalhes deve transformar o lugar em um cenário “instagramável”. A execução da obra é de Altair Bonfim Leal e a programação visual está a cargo do escritório Duas Formigas Design

A história de uma das casas mais ecléticas de Curitiba 

Wonka nasceu de um chamado. E, por uma daquelas coisas inexplicáveis, é assim que renasce. Antes da inauguração, em 2005, a empreendedora havia visitado apenas duas vezes o bar que  ocupou o endereço anteriormente, mal sabia que ali seria o centro da efervescência noturna da Trajano. O olhar não era o de quem pretendia abrir um negócio, estava em um dos raros momentos em que conseguia passar para o outro lado balcão.  

A fase era mais calma. A trajetória de dona de bar — que iniciou no Poeta Maldito, depois veio o Dolores Nervosa, que virou Dromedário — entrou em um ritmo diferente. Os filhos pequenos e as exigências do trabalho na noite, tornavam a vida complicada. Em busca de algo mais leve, abriu o Café Mafalda, com foco na gastronomia e um horário de funcionamento menos tirano. Como quieta Ieda não sabe ficar, também produzia a Banda Denorex e festas em outros espaços. Foi quando a proprietária do imóvel a procurou com uma proposta: “Você não quer ir para lá?”  

Resolveu visitar o local, vazio há cerca de um ano. O olhar já era outro: “Do andar de cima você olhava o porão, mas me encantei ao imaginar tudo o que poderia fazer ali. O lugar me chamou fortemente.” Isso foi em março e ela inaugurou o Wonka em 21 de julho. A data coincidiu com a chegada no Brasil de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, dirigido por Tim Burton e com Johnny Depp interpretando Willy Wonka. O papel foi de Gene Wilder anteriormente, na película de 1971 que se tornou um cult do cinema (os dois filmes foram adaptados no livro infantil Charlie and the Chocolate Factory de Roald Dahl). “Era coincidência, eu nem sabia que a refilmagem estava sendo lançada. Foi auspicioso”, afirma Ieda.  

A empreendedora esclarece que jamais pensou em fazer um bar temático por considerar algo muito chato. A proposta foi, e continua sendo, inspirada em Willy Wonka: “Tem a ver com inventividade e surpresa, com instigar e também educar. Quem encontrou o Bilhete Dourado foi o Charlie, a criança mais legal, mais simples, mais humilde, que sequer podia se dar ao luxo de desejar entrar na fábrica. É uma coisa de destino, dele ser o grande merecedor.” 

Revelando-se intuitiva, supersticiosa e ao mesmo tempo estrategista, ela admite que as coisas fluem em seu caminho. Talvez a própria vontade levou Ieda mais uma vez para a casa que abrigou o bar até 2016. Novamente, o Wonka nasce de um chamado, ou melhor, renasce.

Ela confessa que criou um certo ciúmes do lugar, tanto que voltou lá pouquíssimas vezes. A relação com o local gerou um sentimento estranho. Estava tocando o Mãe e o Mafalda quando chegou a pandemia. Depois de muita espera, veio a vacina e nasceu a esperança da volta à vida como um dia já foi. O telefone toca, do outro lado da linha está o novo dono do imóvel: “Você não quer pegar o bar de volta?”

“Não pensei muito, na verdade, adorei aquele telefonema. Fechei o Wonka porque eu quis, e estou voltando porque eu quero!” Ieda ainda explica que não queria fazer outro bar, então manteve o nome. A decisão por reabrir o Wonka tem um certo ar de celebração, afinal essa mulher — que conquistou espaço em um segmento predominantemente masculino — completou 30 anos de trabalho na noite curitibana neste mês (dezembro de 2021). 

E o retorno da casa mais caleidoscópica da cidade tem tudo para ser um sucesso, inclusive muitos sinais auspiciosos. A reinauguração acontece sob a lua nova, em uma quinta-feira que coincide com o Dia de Reis. Para completar, há pouco houve o anúncio de um novo filme da Warner Bros que contará a história-antes-da-história de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e mostrará como Willy Wonka conheceu os Oompa-Loompas. 

Serviço: 

Wonka Bar

Reinauguração: 6 de janeiro, quinta-feira. Prioridade para convidados, sujeita à lotação da casa.  

Endereço: Rua Trajano Reis, 326.

Informações e reservas por WhatsApp: 41 98893-5321

Funcionamento: 

Terças, quartas e quintas: abertura às 19 horas e shows às 20 horas.

Sextas e sábados: abertura às 20 horas e pista às 22 horas. 

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