A beleza dos corpos nus

Fotos de nudez servem ao mesmo tempo como arte, terapia e mensagem política

Esta publicação faz parte do Festival de Jornalismo Literário, organizado em parceria pelo Plural e faculdades de jornalismo de Curitiba e Ponta Grossa. Giovana Defreitas é aluna da Universidade Positivo.

ATENÇÃO: ESTA REPORTAGEM CONTÉM FOTOS DE NUDEZ.

A primeira fotografia com nudez da história é mais antiga que a Primeira Guerra Mundial. Veio antes da Lei Áurea, da corrida do ouro na Califórnia, da publicação de “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, nos Estados Unidos, e antes mesmo do nascimento de Oscar Wilde, na Irlanda. 

Em 1840, Pedro II assumiu o trono do Brasil, o saxofone foi inventado, Tchaikovsky nasceu e Paganini morreu. O Grande Tornado Natchez matou 317 pessoas no Mississippi, a Nova Zelândia foi declarada colônia britânica, Guilherme II se tornou rei dos Países Baixos, e Hippolyte Bayard tirou a primeira foto de um corpo nu da história

“Autorretrato de um Homem Afogado”, por Hippolyte Bayard, 1840

A obra, intitulada “Autorretrato de um Homem Afogado”, não é apenas o primeiro nude shoot da história, mas também a primeira foto encenada registrada. Nela, o próprio fotógrafo francês aparece nu, posando como morto num cenário construído. A imagem é o registro de um protesto amargo: Bayard havia, um ano antes, desenvolvido uma técnica própria que aperfeiçoava o processo de revelação de fotos em positivo. O fotógrafo foi convencido a não tornar pública sua invenção, em benefício ao daguerreótipo (método de revelação desenvolvido por Louis Daguerre, consideravelmente mais complicado do que o de Bayard). 

Em nome da fama do daguerreótipo, Bayard acabou por recolher-se em sua criação. A longo prazo, isso lhe custou o título de inventor da fotografia, mas, na época, o francês estava magoado pela falta de reconhecimento do governo e, é claro, pela falta de lucro. Para expressar seu desagrado, ele tirou a famosa foto do “homem afogado”. No verso, complementando a obra e dando a ela o toque final de sua grandiosidade, escreveu um recado: 

“O cadáver que você vê aqui é de M. Bayard, inventor do processo que acaba de lhe ser mostrado. Até onde sei, este infatigável experimentador esteve ocupado por aproximadamente três anos com sua descoberta. O governo, que foi generoso apenas com o Monsieur Daguerre, disse que não podia fazer nada pelo Monsieur Bayard, e o pobre coitado afogou-se. Oh, os caprichos da vida humana…! …Ele está no necrotério há vários dias, e ninguém o reconheceu ou reivindicou. Senhoras e senhores, é melhor que passem adiante por medo de ofenderem seu olfato, pois como podem observar, o rosto e as mãos do cavalheiro começam a se decompor.”

O protesto rendeu a Hippolyte Bayard mais fama do que o desenvolvimento de sua técnica de revelação fotográfica. Hoje em dia, um processo muito parecido com o seu é usado em Polaroids. Além da importância científica de Bayard, seu autorretrato só teve a somar na arte, abrindo as portas para a exploração da possibilidade de contar histórias através de imagens montadas. 

Por muito tempo do século XIX, as fotografias de nudez foram usadas por pintores como referência para seus quadros, substituindo os modelos vivos. As mulheres que posavam para as fotos eram, geralmente, prostitutas, porque pessoas consideradas “direitas” se recusavam a expor sua nudez. Se hoje a sociedade ainda se espanta com o corpo nu, não é difícil imaginar como o cenário era ainda mais conservador 100 anos atrás.

Os nude photoshoots eram restritos, mais focados em dispor referências para pinturas ou conteúdo de pesquisa (como registros de tribos e povos, cuja nudez era apenas parte de sua cultura e/ou dia-a-dia, e não objeto de curiosidade ou repulsa). Isso mudou com o movimento pictorialista, em 1890, que buscava dar à fotografia a mesma relevância cultural das outras formas de arte. As fotografias artísticas ganharam muito mais espaço com o Pictorialismo, principalmente na França, Inglaterra e Estados Unidos. 

O período entre as Guerras Mundiais, de 1918 a 1939, é até hoje considerado um dos mais ricos para a história da fotografia. O crescimento da exploração da nudez em fotos foi abruptamente interrompido com a Segunda Guerra Mundial, e só retomou sua caminhada anos mais tarde. Mesmo assim, a importância das duas décadas que a precederam é extraordinária. 

Um grande marco dessa época são os ensaios de Alfred Stieglitz e Georgia O’Keeffe. O casal de artistas é responsável pela primeira exibição explícita de fotografia de nu. Em 1918, o fotógrafo e a artista plástica passaram a morar juntos e, a partir daí e por muitos anos seguintes, Stieglitz fez incontáveis registros de O’Keeffe. Embora muitas das fotos fossem retratos, casualidades, ou as conhecidas imagens das mãos da artista, os trabalhos que mais chamaram a atenção não foram esses. 

“Georgia O’Keeffe Torso n° 11”, por Alfred Stieglitz

“Georgia O’Keeffe – mãos e seios”, por Alfred Stieglitz

A polêmica sempre atrai olhares. “Nada melhor que uma multidão para atrair uma multidão”, fala o famoso ditado. Da parceria de Stieglitz e O’Keeffe, as fotografias de maior fama foram as que mostravam detalhes do corpo da artista, posando com pouca ou nenhuma roupa. As imagens expressam presença, vulnerabilidade, coragem e, especialmente, inovação. Nunca antes tinha-se visto uma exposição de fotos íntimas como aquelas, explorando de forma tão artística e pessoal todos os espaços do corpo que costumamos esconder com tanto zelo e pudor. A partir daí, a arte da fotografia de nu só teve a ganhar. 


Terapêutica. É assim que Francisco Jarrin enxerga a fotografia de nudez.

O fotógrafo equatoriano mora atualmente em Buenos Aires, na Argentina, mas roda o mundo ao realizar seus vários projetos. Jarrin é autor de diversos trabalhos que trazem o nu como elemento de destaque; Fetish Colors, Intimacy, Lost Island, Roots — estas são apenas algumas de suas coleções relacionadas ao assunto. 

Segundo o fotógrafo, explorar o nu o fez perceber a si próprio de uma forma diferente. “A nudez me ajudou a entender o corpo como algo belo”, disse ele. “Os trabalhos que faço fotografando a nudez envolvem emoções e são, no geral, pensados como uma questão pessoal ou relevante. Eu não faço fotografia de nu pela moda.

Foto de Francisco Jarrin.

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Jarrin admira a forma como as pessoas fotografadas em sessões de nudez são afetadas pela situação. “Elas decidem liberar seus corpos, se abrir e compartilhar o mais íntimo delas.” Mesmo que todo o seu trabalho tenha um cunho artístico, há sempre uma intenção por trás das fotos: incentivar questionamentos. 

O fotógrafo pretende sempre contribuir para causas, ou para situações conjunturais complexas que o rodeiam. “Eu defino o que faço com base na funcionalidade do que faço.” Sobre os nude photoshoots, ressalta: “É importante se sentir bem e em paz absoluta, o que fará com que tornemos nossos corpos uma forma de poder e liberação.” 

Por Francisco Jarrin.

Cim Ek é uma fotógrafa de Gotemburgo, na Suécia, e se apresenta como uma “apaixonada por corpos, emoções, sexualidade, e expressão autêntica.” 

Cim cresceu em um ambiente familiar que sempre desmistificou a nudez, como parte de sua cultura. Não havia pudor, e não havia necessidade de esconderem seus corpos — estando na sauna, no banheiro, em casa: a nudez sempre foi natural. “Quando eu estava em frente ao espelho, passando maquiagem ou me arrumando, meu avô me dizia: Cim, lembre-se, você está no máximo da sua beleza quando está nua. Sou muito grata por essa perspectiva ter existido em mim e ao meu redor, quando estava crescendo, e gostaria que mais pessoas entendessem isso.” 

Desde pequena, sua visão sobre a nudez é muito mais orgânica do que conservadora. “Nascemos nus, é algo muito natural. É quase ridículo que seja uma coisa a se discutir.” Este ponto de vista é claramente refletido em seu trabalho. A fotógrafa enxerga a beleza dos corpos em seu estado mais puro, e transmite isso através da arte. 

A nudez é muito valorizada em sua vida e em suas fotos e, segundo Cim, vai muito além do físico. “Quando tiramos nossas roupas, tiramos muitas coisas. Estamos deixando máscaras, papéis, identidades que temos.” Ela explica que, basicamente, tudo o que colocamos em nossos corpos é uma afirmação. O que quer que usemos, por qualquer motivo — se livrar disso é como se livrar de uma camada. 

Ao fotografar alguém que está se despindo, ela enxerga a importância disso para a própria pessoa, que pode, de acordo com ela, pôr qualquer intenção no item que escolhe remover, e se questionar: o que estou removendo com isso? Além disso, inseguranças também são diretamente afetadas. “Eu ocupo espaço demais, eu não gosto da minha barriga, há algo de errado com o meu cabelo — o que quer que seja, você deixa isso para trás junto com suas roupas. É estar nu em muitos níveis.” 

Por Cim Ek

Cim afirma ser aficionada por autenticidade, e diz enxergar isso com fascínio quanto à sua arte. Seu objetivo é obter o mais verdadeiro das pessoas. “Realmente capturar o sentido cru, o sentido nu em cada camada de um humano, despindo-se, com o que quer que venha junto (seja isso emocional, sexual, envergonhado, irritado) — quanto mais crueza e autenticidade, mais beleza temos.”

“Sou muito convencida de que sentimos quando alguém é realmente autêntico. Prestamos mais atenção, somos tocados, nossos corações podem se abrir quando alguém está compartilhando sua experiência crua, seja em emoção, tristeza, luto, alegria, animação. (…) É isso o que podemos presentear uns aos outros, e é o que estou inspirada a capturar, o máximo que puder, em meu coração.”

A nudez é erotizada. Não importa quantos anos já se passaram desde a primeira pintura, desde a primeira escultura ou fotografia: enxergar o corpo nu como instrumento sexual ainda é parte da sociedade. “Nossos corpos precisam ser dessexualizados”, disse a fotógrafa. “Temos tantas ressalvas, e até mesmo vergonha — limitações com nossos corpos, porque pensamos que eles são apenas objetos de sexo.”

Em suas palavras, muitas partes de nossos corpos são negligenciadas, e é ridículo categorizar diferentes partes deles como mais ou menos sexuais. “Tenho praticado tantra há anos, e sei que nossos corpos são, basicamente, órgãos de prazer. Nossa pele é tão deleitável, e nossas mãos têm quase a mesma quantidade de terminações nervosas que nossos lábios ou vulvas. É uma concepção ilusória, e não quero dizer que nossos corpos não são sexuais, porque eles são! E são incríveis. São órgãos de prazer, mas isso não é tudo.”

Cim falou sobre como algumas partes femininas são sexualizadas, quando as mesmas partes masculinas não são — como mamilos, por exemplo (mas o problema se estende a tantos detalhes que seria preciso escrever um texto para isso). Ela trabalha, em sua maioria, com mulheres, e expressou um desejo: amor próprio para todas as mulheres no mundo. 

Por Cim Ek

Os movimentos de liberdade corporal, feminismo e positividade sexual têm crescido cada vez mais. A fotógrafa comentou que, com isso, temos visto corpos diferentes, idades diferentes, formatos e etnias diferentes, mas, mesmo assim, a normatividade dos corpos desenhados pela mídia ainda é maioria. “Eu amaria ver mais corpos sem edição no mundo, não por qualquer visão política, mas porque eles são lindos pra caralho.”

Cim Ek sente que tem uma missão: levar as pessoas em uma jornada de volta para elas mesmas. “Capturar seu brilho, sua essência, e mostrar isso para o mundo. Eu quero que o mundo se apaixone por todos. A beleza de nossos corpos é grande parte da minha missão.”  


Há mais ou menos 6 anos Felipe Miranda começou a fazer fotos que mostram seu corpo. Massoterapeuta e produtor musical, Felipe comentou que a maior parte do preconceito que já sofreu por publicar-se nu na internet veio de amigos homens — tá feio, tira isso, muito “puto”. Além disso, também já lidou com quem acredite que os ensaios podem não se adequar ao seu trabalho. “Há pessoas dizendo que atrapalha, que não posso ser sensual e ousado nas fotos sem afetar meus clientes ou minha vida profissional.”

Para o produtor, fazer fotografias com nudez impulsionou não apenas a forma como se enxerga por fora, mas também por dentro. “A autoestima melhorou — comecei a me aceitar mais e a me achar bonito, de bem com a vida e comigo mesmo.” Ele costuma fazer os ensaios sozinho, mas afirmou já ter tido experiências positivas ao tirar fotos com amigos e amigas. 

Felipe lamenta a forma como a nudez é, quase que instantaneamente, relacionada a sexo. Assim como Cim Ek, ele reforça: “nascemos nus, é a natureza.” Além disso, falou também sobre a linha que difere as fotografias artísticas e sensuais — não sabe definir com exatidão, por ser uma separação, segundo ele, muito sutil. “Até porque a nudez sensual também é artística.”

Felipe Miranda

Sabrina Vega é psicóloga especialista em sexualidade, e explicou um pouco sobre a forma como a mídia e a representatividade de diferentes corpos podem afetar a autoestima e a saúde mental.

“A autoimagem é formada a partir de como enxergamos nós mesmos. Geralmente, a autoimagem surge a partir de um conjunto de crenças que adotamos como verdade, mas não necessariamente corresponde ao que é real — pode estar associada às nossas aprendizagens, aos modelos de pessoas que temos na nossa vida e à cultura.  Por exemplo: podemos acreditar que nosso corpo é feio, mas isso não significa que seja verdade. A superexposição de apenas um determinado tipo de corpo pelos meios de comunicação pode gerar crenças superficiais sobre o próprio corpo, assim como preocupações e insegurança quanto à própria aparência e a avaliação/julgamento das outras pessoas.

Já a autoestima diz respeito ao aspecto avaliativo de si, os sentimentos e os comportamentos que direcionamos a nós mesmos. Ela pode ser construída a partir dos comentários externos e da interpretação pessoal dessas informações. Se aprendemos, através das informações que consumimos pela mídia, que apenas esses corpos que atendem ao “padrão de beleza” são os que devemos valorizar e desejar, isso se torna um objetivo a ser alcançado, pois caso contrário, o valor que depositamos em nós mesmos é diminuído.

De todo modo, a gente precisa sempre lembrar que a mídia está diretamente ligada ao mercado e ao capitalismo. O padrão de beleza é fruto de uma ideologia do dinheiro — parte-se de uma imagem idealizada, em nome da qual precisamos adquirir produtos, pois só assim estaremos mais perto dessa idealização. Por isso o padrão de beleza é sempre inalcançável; nos faz consumir cada vez mais produtos de beleza, procedimentos estéticos, alimentos, remédios, etc, pois temos a impressão de que a aparência física é responsável pela felicidade e sucesso, formando uma ilusão de que para conquistar o bem-estar é necessário se enquadrar no padrão de beleza. A mídia e as propagandas têm um peso tão grande na nossa vida que não percebemos o quanto somos afetados por isso, e a busca por esse modelo ideal de beleza, que só é possível para uma parcela muito pequena da população, deixa um imenso grupo de insatisfeitos e desconfortáveis com o próprio corpo e, consequentemente, com uma autoestima baixa.

É a autoestima um dos principais fatores que estimulam o indivíduo para o sucesso ou fracasso de suas atividades, pois a maneira como nos sentimos em relação a nós mesmos influencia todos os aspectos da nossa vida. Dessa forma, a baixa autoestima ou uma avaliação negativa do corpo pode sim estar associada aos transtornos psicológicos. Desde ansiedade, depressão, até transtornos alimentares e dificuldades de relacionamentos. Afinal, se uma pessoa não consegue ver valor, ou deposita pouco valor em quem ela é, colocará sempre em dúvida seu potencial, não se achando capaz de alcançar seus ideais, acreditando que é inferior aos demais e sentindo insegurança e medo de fracassar. Isso pode ser muito angustiante, gerando exclusão, desvalorização e infelicidade.

No geral, tudo o que é retratado na mídia exerce uma grande influência nas pessoas e nos valores da sociedade. Definitivamente a representação de corpos diferentes — corpos reais — pode facilitar o processo da pessoa na construção da sua autoimagem e autoaceitação. Vemos um movimento, principalmente na internet, de uma reivindicação pela mudança desse padrão de beleza “tradicional”. Isso é muito importante: gera reflexão e acolhimento entre as pessoas.

De certa forma, aprendemos a sempre odiar nosso corpo, mas poder ver que existem corpos muito diferentes pode fazer com que a gente aprenda a nos valorizar na diferença e não necessariamente na similaridade. As pessoas com maior autoestima costumam se aceitar mesmo com imperfeições e têm mais facilidade em se relacionar com os outros, sentem-se bem-vindas pelos seus grupos, conhecem seus pontos fortes e fracos.

Assim sendo, acredito que a consciência crítica é imprescindível, pois as pessoas precisam ser incentivadas a refletir sobre as razões pelas quais a mídia valoriza certos padrões de beleza e por quê tantas pessoas não conseguem alcançá-lo. Além de perceber que existem diversos tipos de corpos, de gostos, de personalidades e que cada um pode ter seu espaço abrindo a possibilidade de respeitar as condições dos outros e consequentemente, melhorar as possibilidades de relacionamentos entre as pessoas.” 


Amy Quinzel cresceu em uma família conservadora. Hoje, aos 25 anos, a estudante de psicologia entende que isso fez com que sempre fosse privada de conhecer seu próprio corpo. Segundo ela, ver mulheres se desconstruindo na internet e mostrando suas belezas naturais foi uma grande motivação para que passasse a se libertar também. 

Amy disse ter visto os ensaios como uma forma de se conhecer e explorar o lado mais sensual, e que fazer as fotos causou grande mudança em sua autoestima. “Fui descobrindo que sou uma mulher sexy, linda, e que não preciso ser perfeita para ser perfeita”. Ela comentou que sempre foi insegura com seu corpo, por não estar nos padrões impostos pela mídia, mas essa ideia foi desarmada com o tempo. “O perfeito está em cada detalhe único que possuímos.”

Mesmo que já tenha sido muito criticada, direta ou indiretamente, Amy não deixou de lado o caminho que vem traçando — já foi chamada, inclusive, de garota de programa, vadia, prostituta: “Como se essas palavras fossem ofensivas!” O uso desses termos como pejorativos para a mulher apenas reforça a estrutura machista da sociedade na qual vivemos. 

Amy Quinzel, por Studio 2sete2

Os julgamentos aconteceram, mas não a pararam. “Admito que algumas pessoas conseguiram me atingir num primeiro momento, mas depois de refletir, percebo que se alguém tem algum problema comigo o problema está na pessoa, e não em mim. Não há nada de errado em mostrar meu corpo. É apenas um corpo. Todos temos um.”

Amy Quinzel, por Pruner Neto

Amy afirmou já ter se sentido prejudicada pela sexualização extrema do corpo feminino. Foi por isso, inclusive, que acabou apagando de sua conta no Instagram algumas das fotos mais explícitas que havia publicado. “Infelizmente alguns homens me olhavam apenas como um corpo a ser objetificado, e muitas vezes acreditavam que eu fazia os ensaios para satisfazê-los.” Mesmo com isso, não deixou-se afetar demais. “Sempre tento tirar o lado bom de situações ruins, então levei tudo como aprendizado.”

A estudante acredita que o principal, antes de trabalhar a aparência, é trabalhar o interior, e falou sobre como a psicoterapia a ajudou a entender os motivos de suas travas. “Muitas mulheres, assim como eu, têm essa insegurança quanto a se mostrar, por medo de julgamentos. Vivemos em uma sociedade que dita padrões de beleza, e essa pressão é ainda maior em cima de nós. (…) Somos lindas, e a beleza não está em um padrão — ela está em cada detalhe que temos, e somos maravilhosas. Únicas.”


Para mim, sempre foi uma arte e um hobbieLola Carolina, de 22 anos, tem essa visão sobre os ensaios com nudez e sensualidade. Ela é modelo alternativa e trabalha como camgirl, e comentou que desde quando começou sua vida sexual gosta de fazer e enviar fotos nua — às vezes, tirava um dia só para fotografias. 

Assim como Amy e Felipe, Lola sentiu que fazer ensaios mostrando seu corpo ajudou-na a ter uma visão mais positiva de si própria. “Acho que quando você tem a oportunidade de se ver pelos olhos de outra pessoa (nesse caso, de quem fotografa) e ver como é bonita, a autoestima e a confiança melhoram na hora.” 

“A pornografia tem muitos lados positivos.” Um dos exemplos de Lola é a situação de 2020: poder trabalhar de casa, sem ter problemas por conta da pandemia do coronavírus. Mesmo assim, ela destaca dois pontos muito difíceis de lidar: a exposição e o preconceito. 

A modelo vende fotos e vídeos sensuais na internet, e sofre bastante repressão por isso, todos os dias — inclusive por parte de conhecidos e familiares. Você quer matar sua mãe! Arrume um trabalho digno! Isso é dinheiro fácil! Estes são apenas alguns dos tipos de preconceito com os quais Lola lida diariamente. 

A família de seu parceiro reprova e, segundo ela, diz atrocidades a respeito de seu relacionamento — a modelo não se deixa abalar por isso. “Me sinto apoiada pelo meu marido, que é minha família e única pessoa que importa.” Ela relatou, também, o desconforto com algumas amizades masculinas. “Tenho que me conter em demonstrar qualquer tipo de afeto.” 

Ambas as fotos de Lola Carolina, arquivo pessoal

Mesmo com as adversidades, Lola Carolina não perde a confiança em seu trabalho. Ela se sente empoderada — é senhora de seu próprio negócio, e não deixa que preconceitos ou julgamentos a tirem de seu caminho. “Sou uma empresária, dona da minha casa e do meu corpo.


Até 2013, Dani Antunes fotografava de tudo — gestantes, famílias, casamentos, crianças, qualquer coisa que aparecesse — e não era feliz. Sua primeira intenção era trabalhar com a fotografia de moda, mas acabou deixando essa ideia para trás. Dani é hoje conhecida por ser a fotógrafa de mulheres reais, fazendo ensaios de diversos tipos com mulheres de qualquer idade, tamanho, forma, etnia, estilo. “Foi esse tipo de fotografia que me encontrou, e não o contrário.” Ela contou:   

Um dia, a irmã de uma cliente perguntou se eu fazia ensaio feminino. Eu disse que sim, fazia — fotografava de tudo! Já tinha feito alguns ensaios femininos antes de abrir estúdio, em 2012. Ela disse que precisava de foto porque ia participar de um concurso de miss plus size, em Santa Catarina. Fiquei um pouco cabreira, receosa. Como que eu vou fotografar uma mulher gorda?! Eu ainda não era feminista. Até um ponto, a gente enxerga a fotografia como a mídia mostra pra gente. Como fiz curso de Moda, eu imaginava fotografar modelos (nos padrões). A moda plus size não era difundida. Topei, foi um desafio pra mim. Estava ali começando minha desconstrução.

A modelo vestia manequim 54. Nas fotos, aparecia usando maiô, roupas curtas, vestidos de festa. O ensaio foi publicado e, nas palavras da fotógrafa, foi uma loucura na cidade. “Cidade pequena, Criciúma. Saiu no jornal, fizeram reportagem e tudo o mais, e comecei a receber muitos pedidos de orçamento daquele tipo de foto. Foi aí que eu percebi que esse era um público que não estava sendo atendido: mulheres que não têm perfil de modelo de agência.” 

Com os pedidos, Dani passou a trabalhar exclusivamente com esse tipo de ensaio em 2013. De qualquer forma, se incomodava com a quantidade de PhotoShop e que suas clientes pediam — por isso, a partir de 2015, começou a diminuir o uso de edição nas fotos, até parar quase que por completo. “Não sou digna de mudar o corpo ou a característica de alguém. (…) 99% das minhas fotos não têm nenhum tipo de retoque.” Agora, o único tratamento que faz nas imagens são pequenos detalhes técnicos, que não alteram em nada a figura, o corpo ou as particularidades de cada mulher. 

Ambas as fotos por Dani Antunes

A fotógrafa explicou: quando começou a trabalhar com isso, seu foco era o dinheiro. Acontece que as coisas tomaram proporções muito maiores, e muito diferentes das originais. “Fui recebendo feedback de clientes que realmente mudaram a forma de se olhar, e hoje o objetivo do meu trabalho, além de ser minha fonte de renda, é ver a transformação em cada cliente que passa por aqui.”

Dani Antunes oferece vários tipos de ensaios: casuais, temáticos, específicos para datas comemorativas, sensuais, com nudez, entre outros. Sobre os últimos, ela afirmou: a sexualização da nudez é uma merda! “Só é sexualizada pra gente, que é mulher. Os homens podem andar sem camisa à vontade, o tempo todo, que nada acontece. A gente botou uma blusa que marca um pouquinho o peito, meu Deus!, estamos ofendendo a quinta geração do papa. É foda, pois a nudez devia ser tida como algo natural — porque é!” 

Foto por Dani Antunes

Ela disse crer que os projetos de fotógrafas que trabalham a autoestima, assim como ela, têm sido de grande relevância para que as mulheres possam se enxergar de forma mais carinhosa e se verem como realmente são, em vez de se compararem a outras pessoas. “Acho isso muito importante, muito empoderador.”

Dani já recebeu muitas críticas por explorar a sensualidade como algo empoderador. “Quem tem que decidir o que é empoderamento ou não é a pessoa que está sendo fotografada! Se pra ela mostrar a bunda é empoderador, beleza: cada uma tem o direito de se empoderar com aquilo que lhe cabe.”


Juliana Marques é digital influencer, estudante de psicologia e modelo, e concorda com Lola Carolina: sua visão de si próprio muda quando você se permite enxergar pelos olhos de outras pessoas. 

Juliana passou a publicar suas fotos na Internet com o objetivo de inspirar outras mulheres a se sentirem bem com suas aparências, independentemente dos estereótipos impostos nos quais se encaixam ou não. “Corpos são diferentes e são bonitos, mesmo sendo grandes, pequenos ou fora dos padrões.” 

A modelo, de qualquer forma,  não vê apenas com negatividade o tipo de padrão que a mídia desenha. “Eu acho lindo — o que acho errado é querer dizer que só isso é bonito. Essa é uma mentira das grandes. (…) Tenho 1,36 m de quadril, 104 cm de cintura, visto manequim 48, e sou linda também!” 

Juliana Marques, divulgação.

Perguntei a Juliana se ela já havia se sentido machucada pelas imposições de padrões e exigências. “Minha vida toda! Com parceiros, família, amigos… comecei a me amar, e tudo isso virou um detalhe.” 

Ela fez seu primeiro ensaio quando participou de um concurso de beleza, e ali passou a se ver não apenas por seu próprio ponto de vista, mas da forma como outros a olhavam. “Me senti uma mulher diferente, vi que sou linda!” Percebendo nas fotos o reflexo de toda uma vida, entendeu que outras pessoas precisavam sentir sua força também. 

Juliana comentou sobre como a luta contra a gordofobia é recente. Ela disse que a mídia é sua melhor fonte de interação, mas ainda está longe de ser hospitaleira e saudável para pessoas de diferentes formas e aparências.

Segundo ela, o amor próprio é de suma importância para que os preconceitos alheios não surtam efeito. “Quando você pratica isso, percebe o que é realmente bom pra você, não tenta discutir e nem provar nada, só segue seu caminho sendo feliz. Não é fácil! Mas é a melhor forma de se cuidar.”


Ana Carolina Orsini é nutricionista desde 2014, e trabalha com foco em transtornos alimentares desde 2018. Conversei com ela a respeito da representação midiática dos corpos, objetivos irreais de estética, autoestima e saúde. 

Como a mídia e as ideias irreais de corpos afetam a saúde física das pessoas? 

As ideias irreais de corpos propagadas pela mídia podem impactar negativamente o comportamento alimentar das pessoas. Estudos mostram que a simples exposição de pessoas a fotos de modelos com um corpo padrão é gatilho para distúrbios de imagem corporal, e contribuem para que uma pessoa desenvolva atitudes de um comer transtornado, ou até transtornos alimentares. 

Além disso, pessoas que não se encaixam dentro de um “corpo padrão” (acredito que seja a grande maioria delas) internalizam crenças de que seu corpo é errado, e isso as desencoraja a seguir um estilo de vida mais saudável, com alimentação adequada e exercícios físicos. Esse fato é evidenciado pela crescente onda de estudos científicos sobre o estigma do peso, que indicam que indivíduos classificados com sobrepeso e obesidade têm níveis de estresse mais elevados, e isso desencadeia processos obesogênicos, aumentando o risco de compulsão alimentar, diabetes, depressão e inclusive diminui a motivação para atividade física e para uma alimentação equilibrada. 

Comer transtornado significa ter alguns comportamentos relacionados a sintomas de transtornos alimentares, mas não se configura como um transtorno alimentar. Por exemplo: atividades compensatórias inapropriadas com a intenção de perda de peso (como jejum ou exercícios físicos em excesso), culpa ao comer ou muito medo de engordar. 

De que forma o ativismo pela positividade e aceitação pode inspirar pessoas a mudarem seus hábitos no dia a dia (alimentação, cuidados, etc)? 

Essas coisas podem inspirar pessoas a mudarem seus hábitos no dia a dia pelo simples fato de elas se sentirem acolhidas e seguras para promover mudanças efetivas no seu estilo de vida. 

Além disso, o ativismo é importante para quebrar algumas crenças relacionadas ao estereótipo de corpos gordos, como por exemplo o fato desses corpos serem automaticamente associados a pessoas que não possuem um estilo de vida saudável, são sedentárias e “sem força de vontade”, sendo que na maioria das vezes isso não é verdade. O ganho de peso é multifatorial e pode estar associado a diversos outros fatores, como: genética, distúrbios hormonais, classe social, qualidade do sono, uso de medicamentos, saúde mental, além de vivermos em ambientes com fácil acesso a alimentos ultraprocessados e porções enormes (hoje em dia, alimentos ultraprocessados são vendidos em postos, farmácias, e recebemos todos os dias cupons de descontos para utilizarmos em aplicativos de delivery), aumentando o consumo de alimentos ao longo do dia. 

Quais seus principais objetivos com sua profissão e as ideias que procura transmitir? 

Minha missão como nutricionista é promover uma alimentação verdadeiramente saudável, livre de culpa, de restrições sem necessidades, do julgamento de alimentos entre bons e ruins e de comportamentos disfuncionais. Para isso, procuro desmistificar crenças sobre alimentação e peso, tidas como senso comum pela população, sempre me baseando em evidências científicas de qualidade.

Como a imagem do “corpo padrão” tem mudado ao longo dos anos? Que diferenças você mais sentiu na sua profissão? 

Ao longo dos anos, o corpo padrão muda muito! Isso pode ser observado através das principais musas ao longo dos anos, por exemplo, nos anos 1990-2000 ter um corpo extremamente magro e sem curvas era o almejado. Hoje em dia, muitas mulheres desejam ter um corpo mais curvilíneo, parecido com os das Kardashians, por exemplo. Isso também pode ser observado nos corpos de super-heróis de filmes de ficção, que mudaram ao longo dos anos. Se pegarmos uma foto do Super-Homem nos filmes dos anos 1970, vemos que ele era bem menos musculoso do que o Super-Homem retratado nos dias atuais — o que mostra que homens também sofrem com pressões estéticas

A profissão Nutricionista sempre foi erroneamente associada a emagrecimento e estética, ao invés de saúde (que é o objetivo principal dessa profissão). Muitos pacientes nos enxergam como profissionais milagrosos de emagrecimento, e que sabem exatamente fazer orientações a fim de eliminar gorduras especificamente localizadas, mas isso não existe. Nos dias de hoje, a maioria das pessoas ainda procura nutricionista para alcançar objetivos estéticos, ao invés de estarem preocupados em melhorar sua saúde física e mental. 

O que te inspirou a seguir o caminho “anti-dieta, desmistificando crenças”? 

Quando me formei, abordagens como a da nutrição comportamental ainda eram pouco difundidas no Brasil. Como eu não me identificava com a abordagem tradicional da nutrição (que era muito voltada para emagrecimento, e em classificar alimentos como saudáveis e não-saudáveis), não tive vontade de atender em consultório quando recém-formada, então trabalhei por alguns anos na área de marketing. Com a popularização de abordagens mais inclusivas, sem estigma do peso e anti-dietas, meus olhos brilharam, e investi em estudos nessa área (fiz aprimoramento em transtornos alimentares e um curso sobre comer intuitivo) para poder ser defensora e ativista com propriedade nesses assuntos. 

O que mais me inspirou a seguir este caminho foi o fato de eu, como a grande maioria das mulheres, ter sofrido muito com minha imagem corporal, falta de autoconfiança e de autoconhecimento. 

Quais os seus maiores desafios ao seguir por este caminho? 

Mesmo com inúmeras evidências científicas de qualidade (que desde os anos 1940 mostram que dietas restritivas não funcionam, só causam danos e podem inclusive levar ao ganho de peso) muitas pessoas ainda não estão preparadas para restaurar a confiança nelas mesmas, para construírem autonomia e serem guiadas pelas regras internas do seu próprio corpo (como fome e saciedade, por exemplo), ao invés de se guiarem por regras externas impostas pela dieta (contendo horários para comer, quantidades estipuladas, sem considerar os níveis de fome e saciedade do indivíduo). 

Ainda são poucas as pessoas que entendem a questão do estigma do peso, e que a obesidade é uma doença multifatorial, e não apenas resultado da força de vontade de um indivíduo. Muitos profissionais, assim como eu, que trabalham nessa área, com uma abordagem mais inclusiva e que promovem uma nutrição mais gentil, são incompreendidos pela sociedade.


Giovana Defreitas sou eu. A fotografia entrou aos poucos na minha vida, e hoje ocupa um espaço de tanta importância que chega a ser difícil por em palavras. Antes eu tirava foto das coisas, depois das pessoas, depois de tudo o que quisesse. 

Eu era adolescente quando as câmeras frontais surgiram e, com elas, todos os filtros automáticos que já vinham com o celular. O botão de “embelezar” ficava bem ali, ao lado do foco, do valor de exposição, do brilho, timer e lanterna. E eu, é claro, utilizava de todos os recursos do tal botão. Olhos maiores, queixo menor, pele mais lisa e aveludada — tudo o que o embelezamento artificial prometia. 

Levei muito tempo pra compreender que, na verdade, nada disso significava mais beleza. É foda entender que você não precisa se mudar da cabeça aos pés pra ser belo, mas, além de foda, é necessário. Não posso mentir: lido com 1001 inseguranças em relação à minha aparência. Às vezes é o nariz, às vezes são as coxas, os braços, a bunda, o sorriso — infelizmente, a autocrítica é muito enraizada. O ódio que nutrimos sobre nós mesmos é tão naturalizado que quase acreditamos que é mesmo natural. 

A questão é que, mesmo tendo inseguranças, eu sinto que cada vez mais consigo superá-las. A fotografia me fez entender que não preciso me esconder. Personagens das séries, protagonistas dos filmes, cantoras nas premiações e modelos nas revistas: cresci num mundo onde todos esses espaços eram ocupados por meninas e mulheres dentro de padrões de beleza impostos e alimentados pela mídia. Magras, narizes delicados, lábios carnudos, olhos claros, cílios longos, unhas compridas, pernas finas — absolutamente nada de errado com qualquer uma dessas características, fora o fato de que são vistas como a única forma de ser bonito. 

Como a fotografia me ajudou a me aceitar e me amar? O primeiro passo foi ver fotos de outras pessoas. Aos poucos, na internet, muitas mulheres passaram a se libertar das amarras midiáticas e terem coragem de aparecer, mesmo que seus corpos não estivessem dentro dos padrões. E eu amei! Passei a admirá-las por darem a cara a tapa, por peitarem as imposições, por terem a força de se abrir. Por algum tempo, isso foi tudo — admiração. De repente, percebi: eu podia ser uma dessas mulheres. 

Fazer fotos de mim mesma tornou-se parte de quem eu sou. Entendi que, assim como aquelas mulheres fortes, eu podia me aceitar do meu jeitinho. Me conheci mais, conheci mais do meu corpo e dos meus próprios pensamentos, e passei a trabalhar no amor que sentia por mim mesma. 

Demorei um pouco, mas resolvi começar a postar algumas das fotos. Antes eu era cheia de medos e inseguranças sobre a exposição, mas um dia cheguei à conclusão que me libertou: bom, foda-se. 

Eu posso fazer fotos do meu corpo pela arte, ou pela minha autoestima, ou porque combina com uma música legal, porque me sinto bonita,  estilosa, gostosa pra caralho. Todos nós temos esse direito, e é uma pena que não sejamos encorajados a explorá-lo. 

Da minha primeira foto de lingerie até agora, já ouvi vários comentários desagradáveis — você parecia alguém cheia de conteúdo, agora posta esse tipo de coisa. Acho desnecessário se mostrar desse jeito. Antes sua conta era tão legal, o que aconteceu? Dá preguiça de explicar, eu sei, mas é importante: o que aconteceu foi que, através da fotografia, eu aprendi que posso ser cada vez mais eu

Sou extremamente grata a todos que lutam por esta causa. Fotógrafas e fotógrafos, modelos, marcas de roupa, profissionais da saúde, e muitos outros: é impossível agradecer o suficiente. Com a fotografia eu pude explorar meu corpo, minha nudez, minha sensualidade e minha personalidade. A cada dia, sinto mais coragem e mais vontade de viver na minha própria pele. 

Giovana Defreitas, foto por Ana Michaelsen

Sobre o/a autor/a

4 comentários em “A beleza dos corpos nus”

  1. Isso fede a “feminismo” liberal. Glorificando a exploração e objetificação dos corpos das mulheres, reforçando os ideais do patriarcado. Não há arte, há apenas material masturbatório para machos utilizarem. Apreciar o corpo humano e principalmente a figura feminina, tão demonizada e estigmagizada através da história, é algo que não pode ser feito através de “trabalhos” (exploração) como camming e imagens que reforcem nossa condição de objetos em uma sociedade machocêntrica. A beleza dos corpos nus está em nossa natureza como seres humanos e não como pedaços de carne, vestidos de meia arrastão e em poses pornográficas, irreais e nada naturais. A beleza dos corpos nus, principalmente do corpo feminino, está nas imperfeições da pele, está nas estrias e celulite que tanto querem que escondamos, está nos pêlos que toda mulher tem e precisa esconder dos olhares alheios, está nas nossas espinhas, rugas e linhas de expressão, está no estado natural humano. Não há poder em ser objeto, não há poder em se fazer aceitar a categoria de segunda classe na sociedade como empoderadora.

    Mas afinal, há como esperar um artigo que de fato seja sobre a beleza dos corpos nus de tal autora? Uma mulher sem consciência de classe, que acredita que há liberdade em reivindicar o termo “puta” como seu? Esse artigo e a pessoa que o escreveu descrevem perfeitamente a situação em que nós, mulheres, nos encontramos: completamente alienadas e engolindo nossa própria opressão sem pensar, sem criticar e sem ousar questionar.

    A beleza humana reside na naturalidade, não na performance.

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