O presidente Jair Bolsonaro (PSL) decidiu que o 31 de março de 1964 deve ser comemorado. O motivo é que, naquela data, segundo a interpretação dele, o país foi salvo do comunismo. Não houve golpe, diz o capitão, e sim um movimento popular encabeçado pelo Exército.
Já que está disposto a reescrever a História do Brasil, achamos que o presidente pode aproveitar e mandar que os quartéis celebrem outros momentos durante o regime militar, tão apreciado por Bolsonaro, em que o Exército e as demais instituições da Revolução impediram o comunismo, ainda que em estágios embrionários, de ir adiante.
Seguem abaixo algumas possíveis datas comemorativas para o calendário do capitão:
25 de outubro
Em 1975, nessa data gloriosa, agentes do revolucionário DOI-CODI, em São Paulo, impediram que o perigoso jornalista Vladimir Herzog seguisse levando adiante a agitação comunista que imperava na TV Cultura de São Paulo.
17 de janeiro
Em 1976, no mesmo local em que Herzog havia tido seu fim, segundo os gloriosos redentores da Pátria suicidando-se enforcado com os joelhos no chão, o operário Manoel Fiel Filho, mais um perigoso agente de Moscou foi impedido de fazer a revolução comunista pelos revolucionários do DOI.
28 de março
Em 1968, um ano especialmente digno de celebrações, o estudante Edson Luís foi assassinado pela Polícia Militar por dar início à tomada do poder pelo trotskismo ao protestar contra o preço da comida.
21 (ou 22) de janeiro
Neste intervalo de 48 horas, os redentores da Pátria deram cabo de mais uma nascente ameaça ao país ao fazerem com que sumisse da Terra o ex-deputado Rubens Paiva. Para não se vangloriar de mais este feito, os modestos salvadores da democracia fingiram que nada havia ocorrido.
14 de junho
Nesta data, em 1971, para acabar com a possibilidade de que o jovem Stuart Angel implantasse o comunismo no Brasil, agentes da Redentora, em nome da Pátria, puseram sua boca no cano de escape de um carro ligado, o tipo de ação que deve dar arrepios de prazer no capitão que tanto aprecia Ustra e seus seguidores.