O presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano (PSDB), decidiu que a primeira votação da reforma previdenciária proposta pelo governador Ratinho Jr. (PSD) acontecerá na Ópera de Arame. É a mesma estratégia usada por Rafael Greca (DEM) e pelos vereadores em 2017, para fugir da população revoltada, na época, com o pacote de ajuste fiscal.
A sessão será fechada, sem a presença da população. Só a imprensa credenciada poderá entrar na Ópera de Arame, além dos deputados e dos servidores da Assembleia envolvidos com a sessão. O policiamento na região da Ópera já é forte.
A votação deve acontecer na tarde desta quarta-feira (4), depois de um dia tumultuado na Assembleia. Nesta terça (3), a sessão foi encerrada mais cedo depois que servidores protestando contra a reforma forçaram a entrada, passaram pelo forte esquema de segurança armado pela PM e tomaram o prédio da Assembleia.
O dia terminou com dois feridos, uso de balas de borracha, spray de pimenta e com os deputados esvaziando o plenário às pressas. À noite, Traiano conseguiu uma liminar para desocupar a Assembleia, inclusive usando força policial, mas a medida não chegou a ser cumprida até o momento.
A reforma de Ratinho inclui o estabelecimento de idades mínimas para aposentadoria (65 anos para homens e 62 para mulheres) e o aumento da contribuição mensal dos servidores de 11% para 14%. Nesta terça, algumas medidas amenizaram o pacote, que mesmo assim continua sendo muito criticado pelos sindicatos.
Em coletiva na manhã desta quarta, Traiano usou a ocupação do prédio da Assembleia como pretexto não só para a votação na Ópera como também para outra decisão igualmente polêmica: votar a PEC da Reforma integralmente hoje, desrespeitando a exigência constitucional de interstício de cinco sessões entre cada uma das três votações.
Vários setores, como educação e agentes penitenciários, já declararam greve contra a reforma do governo. Ratinho, por sua vez, diz que está meramente alinhando o estado com as medidas tomadas por Jair Bolsonaro (PSL) em relação ao funcionalismo federal. O governador diz haver um déficit anual de R$ 5,4 bilhões nas contas da previdência estadual, número questionado pela oposição e pelos sindicatos.
A decisão de Traiano foi duramente criticada pelos sindicatos. “É um golpe contra a nossa constituição, contra a população e contra os servidores. O autoritarismo do governo e de seus aliados não tem limites e não iremos nos calar”, afirmou Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato, que representa professores e servidores da educação.