O governador Ratinho Júnior (PSD) está entre os sete chefes de Executivos estaduais que não assinaram a carta aberta divulgada pelo Fórum Nacional de Governadores neste domingo (19). O documento, em defesa da Democracia, foi redigido em Brasília depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou de uma manifestação que pedia o retorno da ditadura militar e do AI-5 – decreto emitido nesse mesmo período, que restringia uma série de liberdades.
Em nota, Ratinho se manifestou por meio de sua assessoria e não mencionou o presidente. O governador destacou que o foco do Paraná está no combate à pandemia do coronavírus. Segundo ele, o governo tem buscado medidas para minimizar os impactos da crise na saúde e na economia. “Nossa obrigação, como gestores, é dar suporte ao povo brasileiro, especialmente às classes mais carentes.”
Além disso, ressaltou que o Estado não pode perder tempo com discussões políticas. “Juntos entramos nesta crise. Juntos dela sairemos. O momento é de união.”
A carta do Fórum de Governadores pedia um “diálogo democrático e desprovido de vaidades” entre todas as autoridades políticas nacionais para combater os efeitos do coronavírus. O texto defende as decisões em prol do isolamento social que foram tomadas por prefeitos e governadores para conter o avanço da Covid-19. Medidas criticadas abertamente por Bolsonaro, que defende a reabertura dos comércios e o funcionamento das atividades econômicas.
Dos 27 chefes de Executivos estaduais, 20 assinaram o documento em defesa da democracia. Além de Ratinho, ficaram de fora os governadores Romeu Zema (Minas Gerais), Wilson Lima (Amazonas), Marcos Rocha (Rondônia), Gladson Cameli (Acre), Ibaneis Rocha (Distrito Federal) e Antonio Denarium (Roraima).
Repercussão na Alep
A omissão do governador na carta aberta repercutiu entre os deputados da Assembleia Legislativa do Paraná (PR). Para Tadeu Veneri (PT), Ratinho perdeu a oportunidade de se firmar como um líder defensor da democracia. Segundo ele, o governador tenta ser amigo de Bolsonaro e da população ao mesmo tempo e não tem um discurso definido. “Presta um desserviço à população, em um momento que precisamos de líderes com posição definida”, dispara.
De acordo com o deputado Goura (PDT), as posturas e ações de Ratinho sempre estiveram ligadas as do presidente. Esse alinhamento, para Goura, faz com que não haja críticas em relação a posturas antidemocráticas de Bolsonaro. A omissão do governador mostra um interesse em “permanecer no poder em detrimento do estado democrático de direito”.
O Plural entrou em contato com o líder do governo na Alep, Hussein Bakri (PSD), mas até o fechamento dessa matéria não houve retorno. Já o deputado Luiz Claudio Romanelli (PSB), da base aliada do governo, disse que não vai comentar sobre a omissão de Ratinho na carta aberta, porém, fez críticas a Jair Bolsonaro em suas redes sociais.
Carreatas pelo AI-5
Além da participação de Bolsonaro na manifestação em Brasília, houve carreatas de apoio ao presidente e ao AI-5 em várias cidades do país. Em Curitiba, inclusive. O encontro aconteceu no Centro Cívico e pediu também pelo fim da quarenta. Os participantes carregavam bandeiras do Brasil, mas cartazes contra o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ou seja, contra o Congresso Nacional, símbolo da Democracia.
A Carta
CARTA ABERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA EM DEFESA DA DEMOCRACIA
“O Fórum Nacional de Governadores manifesta apoio ao Presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e ao Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, diante das declarações do Presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a postura dos dois líderes do parlamento brasileiro, afrontando princípios democráticos que fundamentam nossa nação.
Nesse momento em que o mundo vive uma das suas maiores crises, temos testemunhado o empenho com que os presidentes do Senado e da Câmara têm se conduzido, dedicando especial atenção às necessidades dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios brasileiros. Ambos demonstram estar cientes de que é nessas instâncias que se dá a mais dura luta contra nosso inimigo comum, o coronavírus, e onde, portanto, precisam ser concentrados os maiores esforços de socorro federativo.
Nossa ação nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios tem sido pautada pelos indicativos da ciência, por orientações de profissionais da saúde e pela experiência de países que já enfrentaram etapas mais duras da pandemia, buscando, neste caso, evitar escolhas malsucedidas e seguir as exitosas.
Não julgamos haver conflitos inconciliáveis entre a salvaguarda da saúde da população e a proteção da economia nacional, ainda que os momentos para agir mais diretamente em defesa de uma e de outra possam ser distintos.
Consideramos fundamental superar nossas eventuais diferenças através do esforço do diálogo democrático e desprovido de vaidades.
A saúde e a vida do povo brasileiro devem estar muito acima de interesses políticos, em especial nesse momento de crise.“
Brasília, 18 de abril de 2020
RENAN FILHO – Governador do Estado de Alagoas
WALDEZ GÓES – Governador do Estado do Amapá
RUI COSTA – Governador do Estado da Bahia
CAMILO SANTANA – Governador do Estado do Ceará
RENATO CASAGRANDE – Governador do Estado do Espírito Santo
RONALDO CAIADO – Governador do Estado de Goiás
FLÁVIO DINO – Governador do Estado do Maranhão
MAURO MENDES – Governador do Estado de Mato Grosso
REINALDO AZAMBUJA – Governador do Estado de Mato Grosso do Sul
HELDER BARBALHO – Governador do Estado do Pará
JOÃO AZEVÊDO – Governador do Estado da Paraíba
PAULO CÂMARA – Governador do Estado de Pernambuco
WELLINGTON DIAS – Governador do Estado do Piauí
WILSON WITZEL – Governador do Estado do Rio de Janeiro
FÁTIMA BEZERRA – Governadora do Estado do Rio Grande do Norte
EDUARDO LEITE – Governador do Estado do Rio Grande do Sul
CARLOS MOISÉS – Governador do Estado de Santa Catarina
JOÃO DORIA – Governador do Estado de São Paulo
BELIVALDO CHAGAS – Governador do Estado de Sergipe
MAURO CARLESSE – Governador do Estado do Tocantins