Retrospectiva 2019: Greca, o rei do asfalto

Hoje há mais cavaletes sobre asfalto em Curitiba do que Salões Marly. Para não ver a publicidade da prefeitura é preciso ficar em casa fechado, com a tevê desligada e sem acessar a Internet

Rafael Greca (DEM) teve vários problemas de saúde nos últimos anos. Desde sua posse co9mo prefeito de Curitiba, em 2017, esteve três vezes internado – duas delas às pressas – fez cirurgias, passou pela UTI. Embora não estejam associadas a isso, o prefeito também desenvolveu duas obsessões: uma por asfalto, outra por propaganda.

Curitiba sempre teve uma capacidade de endividamento alta – e Greca decidiu lançar mão disso para mandar colocar asfalto, segundo ele, em mais de 300 ruas da cidade. Curitiba tem mais de 8 mil ruas, por isso talvez nem todo mundo tenha percebido (as ruas beneficiadas são menos de 5% do total). Por isso, de olho na reeleição, Greca encheu a cidade de propaganda de suas obras.

Hoje há mais cavaletes sobre asfalto em Curitiba do que Salões Marly, farmácias Nissei ou restaurantes da rede Durski. Para não ver a publicidade da prefeitura é preciso ficar em casa fechado, com a tevê desligada e sem acessar a Internet. Claro que isso tem seu preço. Só entre 2017 e 2019, Greca torrou R$ 7,4 milhões em publicidade de asfalto.

É evidente que Greca trabalha com pesquisas internas e deve saber que a conversa está agradando a seu eleitor (embora em alguns bairros, pelo menos, a buraqueira continue a mesma de sempre). Afinal, em 10 meses Greca disputa a reeleição e deve estar atento ao que dizem os eleitores.

Se está a todo custo (literalmente) de olho no voto dos motoristas, o prefeito parece não estar nem aí para a opinião que os servidores públicos têm dele. Só neste ano, foram várias maldades.

  • Aprovou a ampliação do uso de PSS na prefeitura.
  • Fez aprovar a contratação de gente sem concurso para os CMEIs.
  • Mandou extinguir 2 mil cargos.
  • Enviou para a Câmara revisão dos salários sem contar o congelamento dos anos anteriores.
  • Coibiu a atuação dos sindicatos.
  • Decidiu pela terceirização de mais UPAs.

A ideia, claro, é fazer caixa. Para fazer mais asfalto.

Greca vem fazendo um mandato bem menos original do que sua primeira passagem pela prefeitura, nos anos 90, faria prever. Não há uma grande obra, uma ideia genial, um insight. O governo se resume a tirar dos servidores, baratear serviços e tentar ter um dinheirinho para obras no bairro.

O transporte coletivo continua sendo o principal problema do prefeito, junto com o atendimento de saúde. Para tentar amenizar uma das passagens mais caras do país, Greca fez com Ratinho a mesma aliança que já fizera com Lerner e Requião: pôs-se debaixo da asa do governante e conseguiu pelo menos uma benesse importante, o subsídio do ônibus.

Na prática, isso garante que a passagem não suba no ano eleitoral. E embora os avanços (como o bilhete temporal) sejam tímidos, a extinção gradual dos cobradores deve dar algum fôlego para o sistema – embora Greca, assim como seus antecessores, não dê conta de reverter a queda de passageiros.

Isso não quer dizer que Ratinho vá apoiar o projeto da reeleição. Parece mais provável que o governador fique com Ney Leprevost (PSD) ou Francischini (PSL). No fundo, Ratinho parece querer ter os três favoritos a seu lado.

Para Greca, o apoio seria fundamental. A eleição não vai ser fácil, e aos 63 anos, com o histórico recente de saúde, ele parece ser um alvo fácil de ataques (inclusive espúrios) dos adversários. Sua campanha jura que não vai colar. A saúde dele é irritante, brincam. O homem é imorrível, dizem.

Mas no fundo, claro, há preocupação. E para disfarçar os temores, o melhor mesmo é mudar de assunto. E prometer mais um pouco de asfalto.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima