A Assembleia Legislativa do Paraná dificilmente muda: ao longo dos anos, sempre se manteve como um órgão acessório do governador, que se resume a aprovar as vontades dos poderosos e a gastar uma infinidade de dinheiro para que os deputados tenham privilégios e possam se reeleger.
Em 2019, no entanto, houve uma novidade: a Assembleia ficou AINDA MAIS CARA.
Não bastavam o plenário de mármore, as fortunas de gastos em divulgação do mandato, a verba correndo solta para despesas de alimentação e hospedagem. Não bastavam os 23 assessores por gabinete (gente que nem cabe em um gabinete da Assembleia, na verdade). Não bastavam os comissionados saindo pelo ladrão na presidência e nas secretarias, nas bancadas e nos partidos.
A Assembleia quer mais. E vai ter mais.
As duas medidas que mais tiram dinheiro do contribuinte, já a partir de 2020, são a dos gastos com publicidade e a da criação de um fundo de modernização da Assembleia.
A publicidade, obviamente, é desnecessária. Você faz propaganda quando precisa concorrer com alguém. Até onde se saiba, não houve ninguém criando uma Assembleia paralela, no Pinheirinho ou em Cambará, que obrigue a Assembleia original a pedir que os eleitores mantenham sua preferência.
No poder público, gastar dinheiro com publicidade se justifica para fazer editais de licitação ou para avisar a população de algum serviço: o exemplo típico é uma campanha de vacinação.
Mas a Assembleia não presta esse tipo de serviço. Os serviços que ela presta são para o governador e o Judiciário, que sabem muito bem os caminhos para encontrar os deputados.
Mesmo assim, os deputados decidiram usar R$ 30 milhões para avisar que eles são ótimas pessoas e que você pode confiar neles para cuidar de você. A primeira propaganda a ir ao ar diz que se algo é bom pra você, a Assembleia aprova.
Devem estar falando da reforma que prejudicou a previdência. Do arrocho que levou o funcionalismo a ficar cada vez menos prestigiado e menos estimulado. Das reformas que levaram a população a cercar a Assembleia e a levar cacetadas da PM em 2015.
Na verdade, o gasto com publicidade, se formos bondosos e acreditarmos que tudo está sendo feito licitamente, tem dois usos:
- Tentar remover algumas manchas causadas pela conduta repressiva, antipopular e antidemocrática dos deputados nos últimos anos;
- Facilitar a reeleição dos atuais deputados e de seus aliados.
A Assembleia passa por uma crise iniciada em 2010, com os Diários Secretos, e que levou os deputados a pegar leve, por um tempo, nas condutas mais arrepiantes. Mas agora a impressão é de que eles acham que tudo já passou, e que é hora de liberar geral de novo.
Prova disso é a aprovação do Fundo de Modernização da Assembleia.
Desde a descoberta do escândalo dos Diários Secretos, o Legislativo devolvia milhões, dezenas de milhões de reais economizados anualmente ao Executivo.
Economizados, claro, é um eufemismo. Trata-se de dinheiro que não caiu no vertedouro sem fim. E que podia ser usado em algo útil.
Agora, não mais. Os deputados decidiram que vão manter para si a verba, para construir mais coisas com mármores e granitos, para modernizar o Legislativo.
Ora, modernização seria justamente parar com esses gastos absurdos e desnecessários. Modernizar seria reduzir a um terço os cargos por gabinete e a um quinto os gastos. Modernizar seria tornar a Assembleia um poder independente, deixando de lado o servilismo ao governo.
O que é vendido9 como modernização é, na verdade, um retrocesso. Uma volta aos tempos de Anibal Khoury e Bibinho. Não são muitas as pessoas que ganham com isso. Uns 11 milhões saem perdendo. Mas 54 saem ganhando. Ah, como saem ganhando.