“Repúdio é o caramba!”: fala machista de deputado repercute e eleva tensão na Assembleia

Homero Marchese, alvo de nota de repúdio por declaração misógina, ataca gestão da Assembleia por criar cargos demais

O posicionamento do deputado estadual Homero Marchese (Republicanos) desfavorável à criação de uma bancada feminina na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) repercutiu e pesou o clima da sessão da Casa desta quarta-feira (27). O parlamentar, que afirmou que “há poucas deputadas porque as mulheres quiseram assim”, atacou uma nota de repúdio publicada pela Comissão Executiva contra a fala e disse, ao assumir o púlpito, que era preciso acabar com “conversa mole”.

“Sei muito bem qual a minha missão, sei quais as minhas garantias constitucionais. Meu partido pediu desculpas, eu não peco desculpas por nada, não falei nada de errado”, falou em tom elevado. “Parem de mimimi, parem com essa conversa mole”.

Para se desviar do tema, ele usou parte de seu tempo em contra-ataque ao projeto de lei da própria Assembleia que prevê contratar 121 novos comissionados para a Casa. Disse que a medida beneficiaria em maior escala quem hoje distribui esses cargos, num recado direto aos membros da mesa diretora, que inflamaram de vez.

“Eu, no exercício do meu mandato parlamentar, vejo meu nome numa notinha em que Assembleia repudia as falas. Repudia é o caramba! Não tem que repudiar coisa nenhuma”.

As colocações do deputado vieram depois de um pedido de desculpas feito pelo próprio partido dele, o Republicanos. E foram seguidas de outros posicionamentos que elevaram a tensão da sessão, já conturbada pelo ataque “anticorporativista” contra os membros da Comissão Executiva.

“A Casa não pode ser reduzida a essas pautas pequeno burguesas do MBL. Desculpe, já foi o tempo. Lá em São Paulo, o Mamãe Falei foi para o espaço”, respondeu o deputado Luiz Claudio Romanelli, primeiro-secretário do legislativo. O presidente da Mesa, Ademar Traiano (PSD), também quebrou o rito da sessão para condenar o posicionamento de Marchese e o acusou de “usar a mídia para fazer acusações infundadas”, referindo-se ao tema dos cargos comissionados.

Na nota publicada nesta terça no site da Assembleia, a direção da Casa defendeu a proposta da bancada feminina e classificou o discurso do deputado contra a iniciativa como “retrógrado, machista e misógino”, uma demonstração de “profundo desconhecimento e indiferença frente às dificuldades e barreiras impostas às mulheres na sociedade brasileira”.

Bancada feminina

O pronunciamento de Marchese foi na sessão desta terça-feira (26) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde passou por debate a iniciativa, elaborada pelas deputadas Mara Lima – correligionária de Marchese –, Cristina Silvestri e Mabel Canto, ambas do PSDB, Luciana Rafagnin (PT) e Maria Victória (PP), e também por outros seis parlamentares.  

O texto muda o Regimento Interno da Assembleia para estabelecer garantias de que ao menos 30% da composição da mesa diretora seja ocupada por eleitas do gênero feminino, independente de partidos ou blocos aos quais estejam vinculadas.

A essência do projeto é ser mais um recurso para garantir a voz das mulheres dentro do parlamento, e segue o exemplo de uma discussão que se arrasta desde 2006 no Congresso Federal. Em Brasília, a proposta da deputada Luiza Erundina que pede a representação proporcional de cada sexo na composição das mesas e comissões do legislativo federal se arrasta desde 2006. Já aprovada na Câmara, travou no Senado, onde dos 81 parlamentares, apenas 13 são mulheres.

“A gente não pode concordar com falas assim porque elas desabonam todo esse trabalho que a gente tem feito, de inclusão das mulheres”, respaldou a deputada Mabel Canto.

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1 comentário em ““Repúdio é o caramba!”: fala machista de deputado repercute e eleva tensão na Assembleia”

  1. Caro deputado que tal Vossa Excelência analisar de forma crítica a nossa história. Infelizmente na sua fala (talvez sem sua intenção), ressoam de forma clara resquícios de um passado patriarcal, misógino e que tem sido marcado pela violência moral, física e psíquica em relação às mulheres. Seria muito digno que Vossa Excelência se retratasse, admitindo que foi vítima de um machismo estrutural que infelizmente continua arraigado em nossa sociedade. Resumindo: “Falei besteira! Desculpem!”. Precisamos de mais mulheres na política. O Brasil só será efetivamente democrático quando o peso demográfico das mulheres se refletir em todas as esferas da vida nacional.

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