“Curitiba não pode viver do passado”, diz Letícia Lanz

Candidata do PSOL foi a décima primeira entrevistada pelo Plural

A candidata Leticia Lanz (PSOL) afirmou, em entrevista ao Plural na última sexta-feira (23), que o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), priorizou os empresários do transporte coletivo a pequenos negócios que faliram durante a pandemia. Para ela, a cidade tem sido administrada de forma a priorizar o lucro das corporações e não em função das necessidades das pessoas. “Ele me pega R$ 200 milhões para colocar nas empresas de transporte e salvá-las. Salvar de quê?”, ressaltou Leticia.

Na entrevista, a candidata falou sobre a sua carreira política, chances do PSOL nas eleições e também abordou suas propostas para temas como crise hídrica, licitação do transporte coletivo, terceirização das UPAS, educação e valorização dos professores. Além disso, a representante do PSOL avaliou a gestão Greca no combate à pandemia, listou o que faria de diferente e o que ainda pode ser feito para frear uma expansão ainda maior da Covid-19 em 2021.

Leticia Lanz é a primeira candidata transgênero que vai concorrer ao Executivo na história de Curitiba. Lanz é psicanalista, mestre em Sociologia, economista e atuou por 30 anos como Consultora Empresarial na área de Planejamento, Recursos Humanos e Formação Gerencial.

Em conversa com o jornalista Rogerio Galindo, a candidata destacou que, se eleita, fará um mandato baseado em Solidariedade, Sustentabilidade e Justiça Social. Leticia Lanz defende que seja implementada uma “economia do cuidado” em Curitiba.

Por que entrar para a política?

Vida militante eu sempre tive. Quem nasce transgênero nunca tem sossego, milita a vida inteira. No PSOL eu entrei em 2013, a convite de um amigo e em 2014 disputei pedagogicamente, taticamente, a representação na Câmara Federal.

No início deste ano, fui procurada pelo diretório municipal – eu que sou uma ativista irreverente, independente, crítica, tudo que você pensar – e fui convidada com a proposta de participar das eleições como candidata a vereadora. E eu disse que não, que não queria. Mas eles não desistiram e disseram: “Que tal se fosse como candidata a prefeita?” Eu ri muito na hora.

Depois eu disse: olha eu sou uma pessoa tão preparada para isso, mas tão preparada… Porque eu passei 30 anos como consultora empresarial viajando por esse país, trabalhando em empresas públicas, privadas, Prefeitura, tudo que você imaginar.

Mas neste país, onde a incompetência virou galardão, do riso eu tomei consciência de que é um momento pesado, muito difícil da vida nacional e que a gente tem que trazer uma mensagem, tem que trazer uma visão crítica, tem que dizer para as pessoas que elas estão erradas. Caso contrário, a gente vai descer cada vez mais e este país está despencando.

A senhora falou em uma candidatura pedagógica. Eleitoralmente, até onde é possível chegar?

As limitações eleitorais nesse país são um plano para manter sempre partidos como o PSOL fora do páreo em cidades como Curitiba. Você estava dizendo antes da entrevista dizer que o prefeito consegue manter um índice muito elevado [de aprovação]. Isso mostra a falta de consciência dessa população extremamente reacionária.

O prefeito gastou o dinheiro todo que a cidade tem para asfaltar e para apadrinhar empresas de transporte urbano, sendo que as nossas calçadas estão terríveis para a pessoa caminhar. Nas periferias, negócios próprios estão desaparecendo porque as vezes falta R$ 15, R$ 20 mil reais. E ele ainda manda cobrar os impostos atrasados. É uma falta de sensibilidade total com o que seja organizar e administrar uma cidade em função da população e não em função do capital financeiro, das corporações e pelo interesse puramente paisagístico da cidade. Ele é um grande decorador, mas está faltando muito para ser prefeito.

Agora, com 15 segundos para poder falar, no máximo uma entrevista como essa que estou tendo com você, como é que eu vou conversar com as pessoas? Como é que elas vão saber o que eu penso, quem eu sou, o que eu posso fazer e o que eu deixo de fazer? As poucas aparições que eu tive, eu tive um retorno de “ah você é brava, guerreira”.

Se não for guerreira, uma pessoa transgênero não sobrevive nem neste país e nem em lugar nenhum desse planeta. Sabe, não só guerreira como preparada. Agora, como chega lá?

A missão do partido hoje é eleger vereadores?

Não só isso. Mas eu quero te dizer que o PSOL é o único partido hoje no país que se importa realmente com o que ocorre com o povo brasileiro. Basta dizer que essa ajuda de R$ 600 foi praticamente empurrada, goela abaixo do governo, pelos representantes do PSOL na Câmara. O PSOL está sempre votando a favor dos interesses do povo brasileiro, um partido que não renunciou em momento nenhum a defender o povo, que tem uma reputação ilibada, com gente jovem.

É uma meninada com muita vontade de fazer sabe, então se juntar com experiência o resultado é magnífico, mas as chances são limitadas. Nós, como você disse, não temos um representante na Câmara e, também, ela é toda mapeada, ela é toda vendida. Então como um representante chega lá? Meu grande objetivo é eleger o máximo possível de vereadores para fazer uma oposição forte e respeitável na Câmara Municipal. Para que qualquer que seja o prefeito, seja impedido de continuar fazendo besteira com o orçamento público.

Agora, talento e condições de chegar tanto eu quanto a minha vice temos, basta que o povo vote em nós, acredite em uma mensagem. Porque quando eu digo por exemplo que quero fazer um governo baseado Solidariedade, Sustentabilidade e Justiça Social, há quem me escreva dizendo que eu estou sendo muito genérica.

Já pensou o que é a solidariedade? Ai sinceramente não dá pra conversar. Se a pessoa não sabe o que é sustentabilidade até hoje, num mundo que está indo ribanceira abaixo por causa de sustentabilidade, por exploração demasiada do meio ambiente, por uma crise hídrica que já dura dois anos e a tendência é durar 30.

O que eu vou dizer para essa pessoa? Que o importante é decorar as praças, asfaltar as ruas, privilegiar os cargos, deixar com que nós continuemos a ter emissões de poluentes no ar, planejar a cidade do centro para periferia para transportar massas de trabalhadores de manhã pro centro e que saem do centro para periferia? Isso é uma escravidão.

As pessoas estão sujeitas e não têm como sair. As pessoas me perguntam: o que você quer fazer com o sistema de transporte? Eu digo: acabar com isso! Não faz sentido você patrocinar empresas de transporte que querem sim que as pessoas fiquem cada vez mais distantes. Nós temos que pensar em uma cidade planejada da periferia para o centro, é fortalecer primeiro todas as regiões periféricas, que no caso de Curitiba são muitos vivas!

Elas têm estrutura própria, só não têm apoio! Porque se a administração municipal decide por um lado por exemplo que cidades não podem mais funcionar pelo centro, elas vão se deslocar para a periferia. Então o poder municipal tem a pena na mão, por que não faz isso? Não faz por que não quer. Porque continuar patrocinando um sistema de transporte doido e ainda vêm candidatos que apresentam para aumentar esse sistema, você tem que diminuir!

A prefeita de Paris, que se elegeu pela segunda vez, a proposta dela vencedora foi a cidade em 15 minutos, onde você chega em qualquer lugar até em 15 minutos, de bicicleta. Nós aqui estamos falando em metrô, isso é solução do século 19. Uma cidade em que hoje nós praticamente temos todo o trabalho executado a distância, toda a educação está sendo feita a distância.

Vamos planejar uma cidade para que as pessoas estejam próximas de onde vivem, próximas de onde trabalham, próximas do hospital, próximas da escola, próximas de agrovilas que produzam alimento porque a segurança alimentar é cada vez mais fundamental.

Justamente no próximo mandato vai ser feito a licitação para renovar o contrato com as atuais concessionárias ou substituí-las por outras. O que a senhora como prefeita faria em relação a isso? De fato acabar com as concessões ou outra solução?

É claro que quando você fala isso, não pode ser feito de sopetão porque outra coisa que se faz é que o político se defina como especialista em tudo. A primeira parcela que tem que ser ouvida é a população, através de suas representações oficiais, tal como organizações não oficiais, as associações de bairro, os síndicos dos prédios. Essas pessoas precisam ser ouvidas.

Mas não só ouvidas para trazer opinião não, nós precisamos da opinião dos especialistas. Pessoas que dedicaram a vida a estudar determinado tema e sabem perfeitamente equacionar demandas. Mas elas não são muito apropriadas para decidir o que deve ser feito. Então um modelo de transporte tem que ser coordenado com o resto.

Eu não posso pensar em um sistema de transporte em uma política urbana que vai do centro para o bairro. Se isso for continuar, o sistema de transporte é esse que está ai, ele tem mais é que ser ampliado. Cada vez mais a especulação imobiliária joga os trabalhadores para mais longe e a população de rua é cada vez maior.

O desemprego é um fato real e as pessoas que estão desempregadas não vão encontrar colocação nos antigos postos de trabalho que foram tomados pela tecnologia e pela inteligência artificial. Onde é que nós reposicionaremos essas pessoas? Por outro lado, os prédios de escritório estão desaparecendo, porque a pandemia mostrou que o trabalho em casa está muito mais proveitoso além de rentável para as empresas.

É outra cidade que tem que ser pensada, é preciso que haja robustez nas escolhas. Eu sempre digo que uma cidade pode ser administrada de dois jeitos: em função das pessoas ou em função do lucro das corporações. A opção aqui é pelo lucro das corporações, que levam o prefeito a autorizar a redução de 20% no leite das crianças para que as corporações que o atendem não tenham prejuízo, tenham lucro. Isso é um absurdo! O que é mais importante, alimentar a criança ou manter o lucro?

Ele me pega R$ 200 milhões para colocar nas empresas de transporte e salvá-las. Salvar de quê? Agora deixa negócios prósperos de serviços, pequenos negócios na periferia morrerem. Ele também não pensa em usar os imóveis para promover uma nova ocupação da cidade porque o centro está virando uma cidade fantasma. Isso está ocorrendo em todas as cidades do mundo, não é só aqui não.

Se não vai virar uma cracolândia, inclusive perigoso de você transitar em determinado horário. A Constituição Brasileira já supõe que isso seja feito, mas é preciso que haja decisão da administração para resolver os problemas da população e não das corporações.

A ocupação de móveis vazios seria a principal política para resolver a questão da moradia? Que outros planos a gente poderia ter aqui em Curitiba para urbanizar favelas?

A urbanização de favelas em Curitiba já mostrou ser um trabalho bastante eficiente. Você se lembra da Vila Pinto, de como ela se transformou em um bairro que hoje é respeitável. Ninguém diz que aquilo foi uma favela. As ruas foram abertas, houve a vinda de escolas, de serviços públicos, essa é uma política pública que não pode ser interrompida nunca, porque essas ocupações de espaços não acontecem por acaso.

Elas acontecem porque há movimentos das pessoas que perdem renda, ou não têm renda, precisam de moradia, então elas acabam ocupando esses espaços. No passado, havia essa política de ocupação, agora ninguém fala mais, por exemplo em usar o artigo V da Constituição que assegura que o imóvel tem uso social e tem toda uma legislação que favorece. Mas tem que ter iniciativa da Prefeitura para que isso aconteça.

Existe a propriedade, existe o direito de propriedade, mas eu quero que a Prefeitura olhe todos os imóveis que estão fechados e veja que ela tem a lei do lado dela para fazer o que deve ser feito. Nós temos milhares de imóveis fechados e as pessoas precisando de ocupação, que precisa ser planejava, não pode ser feita assim, chegar e chutar o pau da barraca.

É um absurdo a ideia que as pessoas têm do que o socialismo seja. Isso é falta de planejamento é idiotice. Você tem que ter uma administração municipal que levante o problema, que discuta o problema com a população. Política é antes de mais nada a arte da negociação. Me perguntaram: “Se você fosse prefeita você ia conversar com essas pessoas ai?”, presidente, governador. Ai eu falo que conversar eu converso com meus amigos, com eles a gente tem que negociar.

A função de um prefeito não é ter amigos nos outros níveis de governo. Você tem que negociar em nome da municipalidade que você representa. Amigo eu saio para tomar cerveja, quando acabar o Covid nós vamos celebrar. Mas ali não é questão de amizade, é questão de negociação. E uma cidade do porte de Curitiba tem cacife para negociar sim. Ela talvez seja mais importante como cidade do que o estado do Paraná.

É impressionante isso, eu sou originária de Minas e Belo Horizonte é uma cidade que diante do estado tem pouca expressão, raramente você consegue eleger um deputado estadual. Ao contrário de Curitiba que sempre teve mais expressão do que no Paraná. É muito mais ativa no estado, tem uma tradição de formação ética e cultural. Então, ela tem peso para negociar sim, é botar as cartas na mesa e negociar o que precisa ser negociado.

O que a senhora acha da gestão que o prefeito Rafael Greca da Covid? O que faria de diferente?

O que eu faria de diferente dele? Tudo. Porque ele nunca fez opção por administrar para o povo, para as necessidades da população. A opção dele é para embelezar a rua e defender os interesses das corporações. Então o prefeito ficou nesse abre e fecha, dai no final do ano quer abrir as escolas que não têm condições sanitárias nem em situações normais. O cara não pensa!

Ele não pensa porque ele não referência das necessidades de uma população, a referência não é essa, se fosse, eu diria olha as praças estão maravilhosas, os asfaltos tão novinhos mas as calçadas estão um lixo! Ser ortopedista em Curitiba é um grande negócio, porque andar a pé aqui é um perigo! A minha companheira passou dois anos fazendo fisioterapia, mas o cara gasta para asfaltar rua.

Na boa, asfalto é legal mas eu não posso estimular a circulação de veículos. Essa é a lógica proposta por quem tem cabeça nesse planeta. Nós temos uma crise hídrica de dois anos e você vai ali na represa de Piraquara, que precisava de quatro pessoas da minha altura para poder medir a profundidade, e hoje ela tá na lama. Nós estamos tomando água de lama porque não tem água.

O prefeito fez o que a respeito disso, junto com a Sanepar? Porque a loucura foi também privatizar a água. Na época que eu estudava economia a água era um bem livre, hoje não. Detonou um bem da maior importância porque virou uma commodity. Ninguém lembrou que haveria uma crise hídrica. Há mais de 20 anos que os cientistas vêm prevenindo.

O máximo que faz é colocar essas bobagens escritas de economize água e use máscara. A pandemia exigiu uma postura totalmente inovadora dos prefeitos das grandes cidades do mundo por ser uma situação inteiramente inovadora. Então, essa era uma das razões de eu ter convocado o prefeito para debater comigo na Bandeirantes, mas ele não ligou. Mas eu queria saber o que ele pretende fazer na cidade depois da pandemia.

Tem gente que acredita em Papai Noel e acredita que ainda vai voltar a normalidade, não vai não. A vacina vai nos livrar dessa “gripezinha” como eles diziam, vai nos livrar como todo ano nos obrigam a tomar contra a H1N1, mas não vai livrar a cidade das feridas, das cicatrizes que vieram todas à tona.

Você vê a questão da educação. Eu escuto notícias na televisão de que uma escola na periferia foi assaltada, roubaram três computadores e uma televisão, provavelmente todo o estoque de computadores que uma escola tem. Então, você vê que a educação está toda errada, porque os meninos passam o tempo inteiro em joguinho no celular. A educação remota é uma realidade, nós temos que pensar como nós vamos produzir o convívio dessas crianças, que têm que tem socializadas.

Repensar a educação em termos da tecnologia, que alivia o custo, mas que gera problemas para as famílias também. O fato de eu deixar na escola alivia pra mim que tenho que cuidar dos filhos porque o estado não contribui para nada em termos de cuidar dos filhos só, é obrigação dos pais.

A senhora falou da crise hídrica, o que o prefeito pode fazer em termos de meio ambiente para não deixar chegar nesse momento que a gente está?

R: Olha, a essa altura vai ser difícil fazer alguma coisa, então se tem alguém prometendo isso dai é doido. É só ver o nível dos reservatórios e o aporte de água que ta chegando neles, eu fui pessoalmente ver. Se você passou pela região também já viu como está. Como é que nessa altura eu vou modificar, por exemplo, o fluxo dos cursos de rio que teoricamente poderiam abastecer ali.

Isso era uma coisa para ter sido pensada a mais tempo, porque uma obra dessa quanto tempo vai levar? Quanto dinheiro vai gastar? Temos que pensar cada vez melhor em um sistema de racionamento, que é burro também porque não ouve o povo e muito menos os especialistas. A maioria das pessoas confiava que haveria abastecimento, mas não tem caixa da água em casa.

Por outro lado, você tem prédios que tem grandes reservas de água e que continuam a receber água ali. Tem que ser pensado em algo que se baseie na necessidade das pessoas. Por isso que eu disse que aquele termo solidariedade é você compreender que não está sozinho no mundo.

Esse é o objetivo do socialismo, o povo acha que socialismo é comer criancinha. Socialismo é o contrário de individualismo, é o contrário de neoliberalismo, em que as pessoas querem ficar livres para fazer o que quiserem desde que ganhem dinheiro. Agora quando elas quebram, elas vão para o estado pedir socorro como aconteceu na pandemia. Empresas que adoram o empreendedorismo, andar sozinhas, mas quando vinham no vermelho vão pedir ajuda.

O lucro é privatizar, as pessoas precisam entender que solidariedade é ter a compreensão de que o outro existe. Nesse barco chamado Titanic, um a gente se defende, cuida uns dos outros dentro da perspectiva da economia ou a gente afunda todo mundo junto dentro da pespectiva da economia de mercado.

A economia de cuidado é praticamente feminina, feminista porque ela é praticada pelas mulheres que sequer entram no cálculo do PIB. Cuidam de menino, amamentam, fazem comida, limpam a casa, os homens não se interessam por isso. Faz parte do processo de educação também. Não educam a pessoa para gente, educam para ser macho é isso que acontece.

Nós precisamos pensar em uma economia do cuidado baseada em solidariedade, nas necessidades que existem na cidade, não posso fechar os olhos para isso e fingir que não existem. Cuidado virou commodity, se você não pode cuidar de você vai pagar alguém para fazer isso. Você paga uma empregada que vem da periferia, que deixa de cuidar da casa dela para cuidar de você.

Então, isso tem que ser olhado porque tudo virou razão para ter lucro e tem coisas que não são razão para ter lucro. O grande lucro da economia de cuidado é o bem-estar das pessoas, das necessidades dela, se nós esquecermos disso é melhor esquecer da civilização.

Uma das políticas que a atual gestão tem tido é a da terceirização das Upas. Da para retomar essas unidades?

R: Com vontade política faz até chover, mas sem vontade política você faz uma bobagem dessa. Saúde não é privatizável, saúde não é commodity, saúde é cuidado da população como é que eu vou privatizar isso para virar objeto de lucro? A mas não funciona direito, não funciona porque não ministram direito.

Então fica daquele jeito de que a administração pública não funciona, essa que é a conversa de que quem quer que privatize. Agora quando privatizam que o preço vai lá em cima, como o Felipe Neto que lá nos Estados Unidos viu que uma consulta para ele ou alguém da família dele custou R$ 17 mil, quem é que pode pagar isso? A saúde pode ser reduzida a uma commodity. Se não sabe administrar deixa para quem sabe.

Eu administrei muita coisa complicada e não é assim, ao invés de jogar água suja e guardar o menino eles jogam a água suja com o menino fora, não é assim, tá errado! Bota gente competente para fiscalizar, bota as pessoas, a população para fiscalizar o serviço. Eu te digo que aqui em Curitiba ainda funciona super bem, nós temos provavelmente as melhores UPAS do país.

Eu frequento essas UPAS e fico encantada com a atenção que eles tem com uma pessoa da terceira idade que sou eu, como eu sou bem recebida, como sou bem atendida, no plano de saúde não sou tão bem atendida. Faz sentido privatizar para que? Porque não quer cuidar né. “A porque fica caro”, o que fica caro? Isso não é discutido com a população.

Faz um pano de baixo dos panos e leva para uma Câmara que não tem oposição e aprova! Daqui a pouco ta igual ao Rio, onde também se faz essa bobagem. Privatizar tudo é estado mínimo e em qualquer lugar do mundo não dá pra ter estado mínimo, nem nos Estados Unidos nem na Rússia, nem em lugar nenhum, o estado não pode ser mínimo.

Tem que ter um cérebro mínimo para entender que o estado tem que ser forte. Ai vem essa conversa agora da vacina, quando a pessoa não tem noção de coletividade, o que o Neoliberalismo fez? Transformou todo mundo em empreendedor, bando de egoísta. Se você tiver herança, renda, alguns prosperam. Mas o menino que tiver só uma bicicleta como vai prosperar?

Precisamos de um país forte, que proteja seu povo, que defenda os interesses da população, é isso que nós precisamos. Agora em nome de vender soja para a China que eles odeiam, transformam o país em um sonjal, porque do Brasil até o Uruguai para a divisa com a Venezuela virou só plantação de soja para vender para a China. Pararam de plantar soja porque é um consumidor de água, é quase um porta água.

Agoa a vacina não pode porque é chinesa, agora você vende a soja pra eles e você paga o triplo para comparar as bugigangas que eles produzem.

Um último tema importante para a gente tratar, com a pandemia foram seis mil crianças tiradas da escola privada porque os pais não tinham como pagar. No ano que vem vai ter que arranjar lugar para essa criançada sentar em sala de aula, como faz com essa sobrecarga? Principalmente no ensino fundamental.

R: É mais uma coisa que tinha que ter sido pensada a mais tempo, porque a educação há muito tempo já mostrou que precisava de mais tecnologia, de mais inteligência artificial para poder produzir as inteligências naturais, mas nada disso foi feito. Eu dei o exemplo da escola que foi roubada e o patrimônio dela era de apenas três computadores em pleno século XXI.

Então o que aconteceu, os privilegiados que estão em escola privada ainda, estão tendo aula diariamente usando a internet e o ensino a distância. Por sinal aulas de péssima qualidade porque o professor não foi preparado para fazer isso. Cobram do professor algo que ele nunca teve um treinamento para fazer porque a estrutura de poder do capital também quer manter essa educação do jeito que ela é.

O professor é mal pago, não tem preparo e foi obrigado a entrar na Internet. Mas quem que consegue acessar essa Internet? Quem tem dinheiro para pagar uma Internet de qualidade.

Então pensar educação não é pensar pra onde que vai esses alunos que vão fatalmente chegar. São seis mil hoje, mas eu te digo que esse número vai aumentar muito ainda. Não é colocar eles lpa, mas é planejar uma educação onde as pessoas possam fazer isso que nós estamos fazendo aqui.

Ao pensar em uma escola, temos que pensar que esses alunos estão encaminhando para o futuro e o futuro está aqui nessa tecnologia, na inteligência artificial. O povo acha que não. “Ah, vamos fazer mais escola.” Para o século 21 a ideia é outra.

A pandemia colocou todas essas feridas a descoberto e o administrador municipal vai ter que olhar isso querendo ou não. Ele é louco de continuar se não vai ter uma perspectiva para resolver. A realidade é outra e não vai poder ser reposta com a mesma conversa fiada que veio até agora. A necessidade das pessoas cresceu assustadoramente, a responsabilidade do Estado cresceu assustadoramente. Se as pessoas não conseguirem colocação quem vai colocar dinheiro para elas? A renda social tem que ser pensada.

Vai ter que ser pensado um outro modelo de educação que eventualmente reduza os custos e melhore o salário do professor, a formação do professor, o aperfeiçoamento, porque ele é um herói. A saúde é a mesma coisa, então é um repensar amplo e total. Há 50 anos, Curitiba teve o melhor projeto urbano do Brasil, mas esse projeto ficou velho e os tempos são outros. Nada foi feito desde então.

Vamos nos transformar em um museu a céu aberto se não houver uma perspectiva arrojada, corajosa do que deve ser feito.

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