O homem forte de Ratinho

Guto Silva comanda a Casa Civil e o processo político do governador. Leia entrevista

Desde que começou a montagem do governo, Ratinho Jr. (PSD) parecia ter algumas coisas certas. Uma delas era a presença de Guto Silva (PSD) como seu homem forte na Casa Civil.

Deputado com apenas um mandato, eleito por Pato Branco, o atual chefe da Casa Civil parece ser uma das pessoas em que Ratinho mais confia. Apostou nele para montar a equipe e negociar com deputados muito mais experientes.

Ainda é cedo para saber o resultado. Mas a dupla passou pelos dois primeiros meses sem muitos arranhões, embora seja criticada nos bastidores por supostamente não estar tendo todo o tato que os deputados esperavam (o que, traduzindo, significa dizer que os cargos estão demorando a chegar),

Em uma entrevista ao Plural nesta semana, Guto Silva falou dos planos do governo, sobre as dificuldades da função e sobre Beto Richa (PSDB), de quem foi próximo no mandato passado. Veja os principais trechos.

Como foi chegar ao Executivo e já ter de montar um governo?
O desafio é enorme. Nesse início de governo, a montagem das peças, com nomeações, é um desafio. E tem que conciliar com o dia a dia do governo. Ainda mais com o momento que estamos vivendo. O Ratinho falou muito isso, que compreende que as urnas mostraram que é preciso mudar as práticas. Aqui na Casa Civil decidimos mudar o conceito do trabalho. Não vamos atender apenas políticos. Compreendemos que precisamos dialogar diretamente com a sociedade. Temos que ter capacidade de escutar o que a sociedade quer.

Isso significa dialogar com o G7? Quem mais?
Temos que falar com o G7, mas com outros segmentos da sociedade: trabalhadores, evangélicos, igreja, universidades, conselhos de segurança…

Mas como fazer essa conversa? E o que isso representa na prática?
Vou dar um exemplo básico. A PR-323, que corta a região noroeste. Essa discussão ultrapassa o cenário político. Precisamos discutir, esmiuçar com a sociedade essa obra. Quando vai começar, qual é o modelo, quando vai terminar? Nós não acreditamos mais num governo autossuficiente que resolva todos os problemas da sociedade. Temos que construir isso junto com a população.

Como o sr. avalia o começo do governo?
Tem a pressão política dos partidos, que naturalmente querem espaços. E estamos muito preocupados com a narrativa do governo. Não tem ação solta, todas as ações estão programadas de maneira muito consistente. Não agimos por espasmos, temos um conceito. Temos um horizonte. Entendemos que a partir de abril dissipa um pouco a pressão por cargos. Depois tem a questão dos convênios. Nossa perspectiva é de que junho, julho o processo entre na sua naturalidade.

Por que uma coisa aparentemente simples, como a reforma administrativa, ainda não está concluída depois de dois meses e meio?
A reforma é extremamente complexa. Não é só o organograma, tem a questão do fluxo orçamentário, do fluxo de comando do processo.

Mas isso tudo já foi feito…
Foi feito, mas o primeiro cálculo é que a primeira reforma ia economizar R$ 9 milhões. Depois apareceu um número de R$ 10,5 milhões. Eu não posso ter números diferentes. Agora fechamos essa questão. Num segundo momento, vamos partir para a reforma da gestão indireta. E é muito complexo, existe resistência interna inclusive. E com as três etapas de reforma teremos uma economia de R$ 40 milhões por ano.

Outra coisa importante. Esse projeto não está solto. Tem a Lege, lei de eficiência dos estados. É uma lei de metas, que vai ser encaminhada nesta semana a primeira etapa. Se você não tiver metas específicas, você não tem como ter norte para o governo. Indicadores de eficiência escolar, de saúde… Porque temos a lei orçamentária que é muito vazia. Essa lei vai nos dar metas às vezes arrojadas para determinarmos nossas ações. E temos uma terceira ação que é a lei do compliance.

Qual é a diferença disso para os contratos de gestão do governo Beto Richa, que não funcionaram?
Não tem como criar um contrato de gestão com cinco técnicos numa sala e depois sair chicoteando para atingir. Tem que ser construído de baixo. E o contrato de gestão é para um mandato. A Lege quer deixar um legado mais duradouro.

O governador fala muito em nova política, mas foram nomeados pelo menos sete ex-deputados. Como explicar isso?
Estamos falando de um universo de 4 mil cargos. São 20 ou 30 indicações políticas. Desses cargos indicados como ex-deputados, muitos estão fora da Assembleia faz tempo, nem disputaram eleições. Não tinha compromisso, não foram pessoas essenciais no processo eleitoral. Mas são pessoas que às vezes vêm de uma região que têm um sombreamento, uma ausência de lideranças e podem ajudar. E são pessoas que podem contribuir com o governo. Aqui na Casa Civil precisamos dosar. Dependemos de votação na Assembleia, dependemos de harmonia com o Legislativo.

Mas isso não contraria o discurso?
Não é nada em escala, nada para acomodar todo mundo.

Na Cohapar também houve nomeações de parentes de deputados, de secretários…
Mas por ser parente de deputado, ou ser vinculado a processo político não está contaminado, não pode ser excluído. Não estamos trazendo apaniguados nem cabrestando ninguém.

O governo deu indicação de que pretende manter o processo da gestão anterior de que cada prefeito indica um deputado para representar o município. Isso não é um tipo de loteamento dos municípios/?
Essa construção tem que vir da Assembleia. Os deputados representam os municípios. E precisamos de um mínimo de critério para sobreviver. Mas essa bola está na Assembleia, estamos aguardando.

Mas isso não mantém o deputado como o famoso “despachante de luxo”?
Mas essa é a tradição, não vamos romper.

Não vai contra o discurso da nova política?
O que nós somos contra é o toma lá dá cá. Mas o princípio do processo parlamentar é esse. Não encontramos problemas de representatividade. O deputado ajuda a traduzir muito do que acontece em cada região do estado, que é imenso. O deputado ajuda a encaminhar o processo político. Mas não queremos cercear ninguém.

Provavelmente cada cidade indicará um deputado?
Esse é o modelo mais confortável. Porque, por exemplo, quando há um convênio, desde o momento em que é aprovado até ser executado, tem um trâmite. E o deputado auxilia nessa comunicação.

Essa não deveria ser justamente uma função da Casa Civil?
Não consegue. O governo é muito grande. A tradição no Brasil é do deputado ajudar a acelerar esse projeto, arranjar as liberações nos órgãos, comunicar. A lógica é essa. A ideia não é enforcamento político, como aparenta ser.

Qual é a diferença e qual é a semelhança deste governo com a gestão do Beto Richa?
São governos bem diferentes. As pessoas que permanecem às vezes são de funções muito específicas, que não tem como buscar no mercado. O que diferencia é o espírito do governador. Esse é um governo de proximidade, muito planejado, de diálogo com a Assembleia. O que converge é o status quo com que temos que conviver, com a Assembleia. Temos que ter uma convivência harmônica, mas sem perder o norte.

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