O dia em que o ministério de Bolsonaro foi destruído no Congresso

A dúvida passou a ser sobre a longevidade não de um ministro, mas do próprio presidente

Desde que Jair Bolsonaro (PSL-RJ) foi ao Twitter comemorar o exílio de Jean Wyllys (PSol-RJ), que saiu do país ameaçado de morte, os críticos do presidente se vingam sempre que podem. Usam para espezinhá-lo a mesma expressão que ele usou daquela vez. “Grande dia!”, dizem os desafetos de Bolsonaro.

Os dias bons para quem é desafeto do presidente têm sido muitos. Não se passam muitas horas sem que um ministro diga o que não deve, sem que o Congresso humilhe o Executivo ou sem que se descubram novas maracutaias governistas. Esta terça, para os anti-bolsonaristas, no entanto, foi um dia particularmente bom. Um dia realmente grande.

Os ministros de Bolsonaro se confrontaram com o Congresso para tentar dar conta de explicar o inexplicável ou aprovar o que não tem como ser aprovado. E, claro, não deu certo.

Paulo Guedes, da Economia, deu as caras no Senado depois de dar o bolo, no dia anterior, na Câmara. Tentou consertar as bobagens que seu patrão fez ao comprar briga com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Tentou contornar a falta de tato de Sergio Moro (Lava Jato-PR), que incomoda deputados na madrugada para cobrar que seu pacote anticrime seja aprovado a qualquer custo. Não funcionou.

No fim do dia, o jovem Felipe Francischini (PSL-PR), presidente da CCJ, que assumiu prevendo aprovar na comissão a Reforma da Previdência ainda em março, teve de postergar sua estimativa de novo. Já havia jogado para 3 de abril. Depois, 10. Agora, com sorte, fala no dia 17.

Guedes, por sua vez, desacostumado com o mundo da política, saiu desanimado e disse que, se for assim, não brinca. Chegou a cogitar renúncia. Com o detalhe de que ele é o grande fiador do governo para o mercado. Sem Guedes, sem reformas, Bolsonaro passa a ser visto pelos banqueiros e congêneres como um mero troglodita que não lhes serve de grande coisa.

Por sua vez, o homem da educação, o pouco educado Ricardo Vélez, compareceu à Câmara para uma audiência que se transformou em cinco horas de tortura. Vélez não sabia números, não conhecia os programas do ministério nem tinha propostas para apresentar. Levou um sabão de uma deputada que disse nunca ter ouvido alguém tão despreparado e respondeu, como seu patrão que não cabe a ministro saber tudo. (Afinal, se o presidente não sabe, o ministro também não, quem é que sabe de algo nesse governo?)

Vélez se saiu ainda pior do que Guedes. O economista falou em renunciar. Vélez teve que se esforçar para sair do Congresso ainda no cargo. Disse que não renunciava e que só entregava o cargo quando Bolsonaro pedisse. “Falta muito?”, perguntou um gaiato. Parece que não falta.

A dúvida passou a ser sobre a longevidade não de um ministro, mas do próprio presidente. Sem o menor tato para negociar e cercado de militares (que não são políticos), de lavajatistas (acostumados a prender, mas não a debater), e sem ministros que saibam articular, Bolsonaro parece ter demorado três meses para virar o que Dilma virou em cinco anos: um forte candidato a ser expelido do cargo.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima