Mulheres da política lotam Teatro da Reitoria para comemorar a resistência

Diva Guimnarães e Manuela D'Ávila atraíram centenas de pessoas

Os 700 lugares do Teatro da Reitoria da Universidade Federal do Paraná não deram conta do público majoritariamente de mulheres que compareceu para acompanhar um evento do Instituto de Política Por.De.Para Mulheres nesta segunda-feira (11).

A programação começou com o lançamento dos dois volumes de artigos do encontro de pesquisa do grupo e do livro Revolução Laura, da ex-deputada federal e ex-candidata à vice-presidência Manuela D’Ávila. Mas se transformou em seguida numa celebração da resistência.

O tom da noite foi dado por Diva Guimarães, professora negra que ganhou os holofotes ao falar sobre racismo na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 2017. Aplaudida de pé ao entrar no teatro, Diva reagiu erguendo o braço em gesto de luta, apesar da dificuldade em se locomover. No palco, Diva foi convidada a falar como resiste. Respondeu longamente, mas começou com uma frase simples e curta que resumiu muito: sou mulher e sou negra.

Diva foi muito aplaudida durante toda sua fala, que destacou o papel da mãe dela e da educação em sua vida de luta. Ela lembrou que a mãe foi proibida de frequentar a igreja porque orientava as pessoas mais pobres a votar e, por isso, foi considerada comunista. Por isso, quando Diva nasceu, não pôde ser batizada. Só aos quatro anos, quando a família mudou de cidade, a menina foi levada para receber o batismo. “Mas aí não podiam batizar porque Diva não era nome de santo. Então me tornei Diva do Espírito Santo”, contou.

Também no palco, a ex-candidata a vice-presidente, Manuela D’Ávila comemorou as mulheres com filhos na plateia. “Gosto muito, mesmo com o chorinho, porque é mais um espaço que tomamos. Quando me questionam porque reivindico a maternidade, digo, eu não reivindico, eu existo”, declarou, sob aplausos. A maternidade e a política são justamente os temas do livro da ex-parlamentar lançado no evento.

Ainda na abertura do evento, a professora de Direito da UFPR e uma das criadoras do grupo de pesquisa que deu origem ao Instituto, Eneida Desiree Salgado, comemorou a presença massiva de mulheres no curso de verão de iniciação a política e no teatro. “O sonho que sonhei agora é o sonho de muitas”, declarou.

Ela lembrou que é de se comemorar a existência desses espaços em que as mulheres falam de política, já que a mulher não tem “o futebolzinho democrático do fim de semana e seu tempo livre é tomado por inúmeras responsabilidades”. O próprio evento, destacou, era uma ocupação pela mulheres do espaço público para falar de política.

No palco, antes mesmo das debatedoras da noite começaram a falar, foram lembradas a vereadora carioca Marielle Franco – assassinada em 2018; a paisagista Elaine Caparroz – que foi espancada por um homem por quatro horas; e Isabela Miranda – queimada viva pelo namorado após ser estuprada, além de inúmeras outras mulheres vítimas de violência de gênero. Mas as falas também comemoraram a grande mobilização das mulheres em eventos e em manifestações como a Marcha das Mulheres.

“Não é gratuito isso, porque sempre que o sistema colapsa, quem é mais prejudicada? Quem é que usa mais os serviços públicos que estão sendo reduzidos?”, questionou Manuela. A ex-parlamentar atribuiu ao discurso misógino do presidente, Jair Bolsonaro, o que chamou de janeiro vermelho, com o grande número de feminicídios registrados. E alertou: “atentem que o projeto do ministro da Justiça, o conterrâneo de vocês, Sergio Moro, volta a justificar o crime de defesa da honra”. A fala dela coincidiu com o ataque de Bolsonaro a uma jornalista usando informações falsas, que aconteceu no domingo, via Twitter.

A noite terminou com aplausos entusiasmados da plateia. E um convite ao público para que participe do próximo Encontro de Pesquisa Por/De/Sobre Mulheres, que acontece nos dias 18 e 19 de junho.

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