Livro diz que absolvição de Bolsonaro no Exército se baseou em farsa

Um espectro ronda o início da carreira política de Jair Bolsonaro (PSL). Militar por formação, o atual presidente deixou o Exército precocemente, apenas com a patente de capitão, depois de enfrentar um julgamento ruidoso no Superior Tribunal Militar (STM). Bolsonaro […]

Um espectro ronda o início da carreira política de Jair Bolsonaro (PSL). Militar por formação, o atual presidente deixou o Exército precocemente, apenas com a patente de capitão, depois de enfrentar um julgamento ruidoso no Superior Tribunal Militar (STM).

Bolsonaro foi acusado de planejar explodir bombas em vários pontos do Rio de Janeiro para protestar contra os baixos salários dos quartéis. Acabou absolvido por 9 a 4, mas deixou as Forças Armadas logo depois, ao se eleger vereador.

Agora, um livro publicado pela Todavia ajuda a esclarecer o caso. Luiz Maklouf de Carvalho, repórter do Estadão, foi aos arquivos da Justiça Militar e voltou com cinco horas de gravação do STM que ajudam a entender como e porquê os ministros votaram pela absolvição de alguém sobre quem pesava uma acusação tão grave.

A conclusão mais importante do jornalista é de que Bolsonaro foi absolvido com base em uma falsa premissa. Os ministros se convenceram (talvez por questão de conveniência) de que havia um “empate” nos laudos grafológicos do caso: dois apontavam sem sombra de dúvidas que Bolsonaro desenhara os croquis que previam a colocação das bombas, enquanto outros dois eram inconclusivos.

O livro mostra que não foi assim que as coisas se passaram. Os croquis foram analisados em quatro momentos, é verdade. Mas não houve empate. Apenas o primeiro laudo restou inconclusivo, e por um motivo técnico: à época os peritos não contavam com o original do desenho, e apenas com a reprodução de Veja, o que segundo eles não permitiu uma análise perfeita.

O segundo laudo também começou por se apresentar inconclusivo. No entanto, depois de um complemento, teve seu resultado modificado: os peritos chegaram à afirmação de que sim, Bolsonaro, era o autor dos desenhos. O último laudo também chegou à mesma conclusão.

Para absolver o militar das penas, que podiam incluir sua exclusão das Forças Armadas, o STM usou as duas fases do segundo laudo como se fossem estudos diferentes: um inconclusivo, o outro conclusivo. Uma farsa, diz Maklouf.

Bolsonaro, à época, já havia publicado um artigo em Veja reclamando doa salários. Na segunda interação com a revista, chamou a repórter Cassia MAria para visitá-lo e conversar com mais um oficial. Na ocasião, a esposa de um deles revelou o plano das bombas.

Bolsonaro confirmou a ideia. Segundo ele, tratava-se de um susto apenas, que tomaria o cuidado de não machucar ninguém, mas que chamaria a atenção para a insatisfação dos quartéis.

O plano jamais chegou a ser executado. Acabou sendo revelado pela repórter, que ao ver a gravidade da situação deixou de lado o acordo de confidencialidade que havia feito com as fontes.

Maklouf desconfia que o STM fez uma espécie de acordo com Bolsonaro, que já havia sido condenado em instância inferior. Caso ele se autoexcluísse do Exército, o assunto seria abafado. De fato, meses depois, eleito vereador, ele sairia do quartel e entraria para a política.

O livro, breve e cheio de documentos, é de leitura rápida e interessante. Para os tempos atuais, é quase obrigatório.

Serviço: “O cadete e o capitão”. Luiz Maklouf de Carvalho. Editora Todavia. R$ 54,90. Ebook a R$ 32,90.

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