Já vá escolhendo seu voto útil para 2022

O PT não derrotará Bolsonaro, mas irá enfraquecer alternativas mais viáveis da esquerda, diz Vinicius Figueiredo

Apesar de temerárias, projeções em política são inevitáveis. É natural ponderarmos sobre como será o amanhã com base nos elementos à mão. E isso, mesmo sendo raro acertar o alvo.  Quem, há um ano atrás, imaginaria que a presidência da república do país seria ocupada por um Capitão reformado que, ao declarar seu voto pelo impeachment, derramou elogios a um contumaz torturador?

Nos últimos dias, Bolsonaro lançou uma série de despautérios aloprados, da sugestão de prender Glenn Greenwald a grosserias inimagináveis ao presidente da OAB. Conseguiu com isso estabelecer marco inédito na falta de compostura requerida pelo cargo. A liturgia foi para o beleléu. Há mais de uma hipótese circulando para explicar o recrudescimento. Do meu lado, apostaria em duas razões, que, combinadas, podem lançar alguma luz sobre o horizonte de 2022.

A primeira razão é simples: Bolsonaro realmente crê nas coisas que andou dizendo. A segunda é a de que pode estar querendo pagar para ver seus 30 % de apoio do eleitorado se mantêm de pé, apesar de tudo o que diz e faz – incluindo aí o novo penteado.

No caso de os 30% permanecem cativos, bastará acrecentar uns 15% para ter garantido lugar no segundo turno em 2022.

Esses 15% viriam de alguma recuperação econômica até lá. O maior obstáculo para desentravar o investimento (público e privado) caiu com a aprovação da reforma da previdência. Medidas adicionais nesta direção, como liberações oportunas do FGTS, privatizações, etc., não carecem do apoio de ¾ do congresso. A equipe econômica poderá lançar mão delas conforme lhe aprouver, isto é, quando a ocasião e o momento exigirem.

Quem seria um adversário competitivo, neste cenário de 30% de bolsonarismo de raiz com mais uns 15% de apoio oriundos de recuperação econômica, ainda que momentânea, no ano de eleição? O PT deve permanecer a principal força na esquerda brasileira pelos próximos anos.

De outro lado, quatro anos é pouco para esfriar o antipetismo que incendiou corações e mentes recentemente. Embora seja difícil imaginá-lo derrotando Bolsonaro em 2022, o PT certamente irá enfraquecer alternativas mais viáveis no espectro da esquerda e da centro-esquerda. O que ocorreu com Ciro Gomes em 2018 tende a se repetir com ele ou um similar nas próximas eleições.

Nesse quadro, sobrarão os candidatos com algum apelo a quem elegeu Bolsonaro em 2018, do bolsomínion de raiz até quem enrubesceu com o culto da desmedida que marcou esses últimos dez dias. Rodrigo Maia, o verdadeiro pai da aprovação reforma da previdência, e João Dória, que consumou a virada do PSDB à direita, ou quem sabe Luciano Huck, que anda cercando, podem entrar na disputa com chances.

É claro que essa projeção, como tantas outras, pode estar redondamente enganada. Mas se não estiver, já pensou  para quem você vai pedir voto útil em 2022?

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