Cresce o número de policiais em grupos bolsonaristas radicais nas redes sociais

Informação foi revelada em estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)

Um estudo divulgado nesta quinta-feira (2) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) acende um alerta sobre a radicalização das forças de segurança pública no Brasil. O estudo, divulgado nas vésperas das manifestações bolsonaristas do dia 7 de setembro, mostra um salto na participação de policiais civis e militares em ambientes radicais. 

A cooptação de profissionais da segurança pública pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para uma tentativa de ruptura institucional foi tema de uma reunião entre 24 governadores na semana passada. A temperatura da crise tem aumentado, assim como a apreensão entre políticos em Brasília. Dentre as ameaças feitas por apoiadores de Bolsonaro e que circulam nos bastidores da política está a de uma possível invasão de manifestantes ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Embora, nos bastidores, seja dado como certo que as Forças Armadas não embarcariam em uma aventura golpista, a situação das polícias militares não é tão cristalina. 

O estudo do FBSP mostra que há motivos para preocupação. A presença de profissionais das forças de segurança em redes bolsonaristas no digital aumentou 27% entre 2020 e 2021. Já a base dos membros de segurança pública que interagem nas redes sociais em ambientes bolsonaristas radicais subiu 24%.

O estudo considerou redes bolsonaristas aquelas com participação expressiva de seguidores de páginas relacionadas a políticos de direita mas que, não obstante o discurso radical, estão dentro da institucionalidade do jogo político partidário. Já os grupos radicais são aqueles que contam com participação expressiva de seguidores de páginas declaradas fãs e militantes do presidente Jair Bolsonaro e sua visão de mundo, independentemente do jogo político e das instituições. 

Os dados referentes a 2021 mostram que 21% dos profissionais de segurança pública do Brasil interagem em grupos radicais e 17% em grupos bolsonaristas “moderados”. 

O número de oficiais da Polícia Militar (PM) em grupos radicais subiu 35% de um ano para o outro. Em 2020, eram 17%. Já em 2021, são 23%. Outros 21% dos oficiais interagem em grupos “moderados” – um aumento de 17% em relação a 2020. 

Além disso, 30% dos praças da PM interagem em grupos radicais – 20% a mais do que em 2020. Outros 21% interagem em grupos bolsonaristas “moderados” – aumento de 31% em relação ao ano passado. 

A participação de investigadores, peritos e escrivães da Polícia Civil nesses ambientes virtuais também cresceu. Houve um crescimento de 100% nos grupos “moderados” – agora são 12% dos profissionais. Nos grupos radicais, o percentual passou de 4% para 7%. Já o número de delegados da Polícia Civil em grupos bolsonaristas caiu de 2020 para 2021. Eram 7% no ano passado e, agora, 2%. 

O número de delegados da Polícia Federal em grupos bolsonaristas, porém, subiu. Eram 12% em 2020 e agora são 13% – 5% deles em grupos radicais. Em relação aos agentes da PF, o crescimento foi ainda maior. Em 2020, 7% dos agentes interagiam em grupos “moderados”. Em 2021, são 11% – um aumento de 57%. Já o número de agentes em grupos radicais cresceu 50%, de 6% em 2020 para 9% neste ano. 

O estudo analisou 651 usuários no Facebook e Instagram com cargos em instituições de Polícias, garantindo um nível de confiança de 95% e 3% de margem de erro. Os dados foram extraídos de Portais da Transparência. Os dados de redes coletados foram: atividades dos usuários, interesses relacionados, principais figuras de influência nas redes, participação em ambientes de política e religião. 

Na semana passada, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) determinou o afastamento do chefe do Comando de Policiamento do Interior-7 da PM, coronel Aleksander Lacerda, que vinha convocando manifestações contra os poderes Legislativo e Judiciário. 

“Creiam, amigos governadores, isso que está acontecendo em São Paulo pode acontecer também nos seus estados, fiquem atentos. Temos uma inteligência da Polícia Civil que indica claramente o crescimento desse movimento autoritário para criar limitações, restrições e emparedamento de governadores e prefeitos que defendem a democracia”, disse Doria em reunião do Fórum de governadores na segunda-feira (23). 

Flávio Dino (PSB), governador do Maranhão, elogiou a atitude Doria e comparou os movimentos para os atos com o mesmo cenário político de 1964, ano do golpe militar. “Esse clima que se avizinha para o 7 de Setembro não se insere na democracia. Pessoas armadas na rua é motim”, disse. 

Estimativas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) dão conta de que haveria no Brasil de 120 a 140 mil PMs radicalizados ideologicamente. 

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