Campanha para Câmara de Curitiba vai parar na Polícia Federal

Cabos eleitorais e representante sindicais trocam acusações sobre injúria eleitoral, censura e agressão física

Nesta terça-feira (10), as campanhas dos vereadores Serginho do Posto (DEM), Julieta Reis (DEM) e Toninho da Farmácia (DEM) se envolveram em uma briga com o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac). O episódio, que teve relatos de abuso verbal, injúria eleitoral, nepotismo e até agressão física, passou pela Central de Flagrantes, no 8° Distrito Policial de Curitiba, e acabou na Polícia Federal.

Tudo começou com um carro de som que circulava pelo bairro Cajuru, reduto eleitoral de Serginho do Posto, fazendo denúncias contra os candidatos. O veículo, contratado pelo Sismmac, foi abordado por cabos-eleitorais das campanhas dos filiados ao partido Democratas. Segundo o sindicato, eles exigiam que o áudio fosse interrompido, pois falavam sobre processos de nepotismo e compra de votos. O motorista, contratado e não filiado ao sindicato, sofreu abuso verbal, foi empurrado e teve as chaves do carro tomadas à força de sua mão.

Nesse momento, a Guarda Municipal (GM) chegou ao local e encaminhou todos para o 8º Distrito Policial. Wagner Rodrigues Batista, diretor do Sismmac, conta que foi até a unidade assim que soube do ocorrido. “Quando cheguei, vi que todos os vereadores citados também foram até a delegacia. Me falaram que eles iriam prestar queixas contra o carro de som e a nossa mensagem sobre o escândalo de nepotismo”, conta Batista.

Foi quando ele começou a fotografar os vereadores em frente ao distrito policial. Quando os cabos-eleitorais e assessores que os acompanhavam pediram que ele parasse, se negou por estar em um local público. “Logo depois disso, eles vieram para cima de mim. Tentaram pegar meu celular, me empurraram, começaram a me agredir realmente. Tudo isso em frente à delegacia”, afirma Batista.

O diretor do sindicato conta que teve que gritar por socorro para que os policiais parassem o grupo de cabos-eleitorais. “Eles se negaram a realizar o flagrante relacionado à agressão e a pegar meu depoimento sobre o ocorrido.”

Logo após, quando conversava com os companheiros de sindicato, Batista diz que uma pessoa se aproximou por trás e bateu em sua cabeça. “Novamente, os policiais apenas afastaram a pessoa, sem pegar nenhuma informação ou fazer uma ocorrência sobre a agressão.”

Jurisdição e boletins de ocorrência 

Batista ressalta que ainda tentou incluir no boletim de ocorrência relacionado ao carro de som as agressões na Delegacia Civil. Mas ele foi informado de que, por se tratar de um contexto eleitoral, teria que se dirigir até a Polícia Federal (PF), onde o registro foi feito.

Casos que envolvem eleições devem ser tratados pela Polícia Federal por serem consideradas ofensas contra o Estado brasileiro. Foto: Sismmac

Juliana Bertholdi, advogada especialista em Direito Eleitoral e mestranda em Direitos Humanos, Justiça e Democracia, explica que a polícia civil não pode se negar a fazer um boletim de ocorrência. “Mesmo se a agressão teve um motivo eleitoral, todas as polícias têm atribuição para fazer a prisão em flagrante. O dispositivo do flagrante autoriza isso exatamente por ser algo imediato. Depois a questão poderia ser transferida para a Polícia Federal”, avalia.

Outro ponto levantado pela advogada é que a agressão, apesar de partir de um contexto eleitoral, precisa ser investigada, assim como a motivação. “E isso poderia ser realizado antes da transferência do caso para a PF, afinal ele estava em frente a uma delegacia e tinha o direito de ser ouvido sobre o que ocorreu.”

Injúria eleitoral, censura e nepotismo

Procurada pelo Plural, a assessoria da Polícia Civil do Paraná (PCPR) diz não ter informações sobre agressões ou os fatos narrados pela diretoria do Sismmac. Também afirma que não há nenhuma queixa ou registro relacionado a agressão contra um representante do sindicato.

Sobre o ocorrido, o único boletim de ocorrência registrado na PCPR até esta terça-feira (11) é dos vereadores contra o motorista do carro de som. “A Polícia Civil do Paraná autuou um motorista de caminhão por injúria eleitoral. O homem assinou um termo circunstanciado e foi liberado”, informa em nota.

A queixa de injúria eleitoral foi feita por  Serginho do Posto, Julieta Reis e Toninho da Farmácia para que o carro de som contratado pelo Sismmac pare de circular pelos bairros de Curitiba. O áudio, que segundo o sindicato, está sofrendo uma tentativa de censura, fala sobre as investigações de nepotismo cruzado envolvendo os três vereadores na Câmara Municipal de Curitiba.

A denúncia foi feita pelo próprio Sismmac e pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sismuc) no início de setembro. Atualmente, a investigação está sob responsabilidade da Comissão de Ética da Câmara.
Procurada, a campanha do vereador Toninho da Farmácia afirmou que nenhum membro da equipe estava presente durante esses momentos de terça-feira. Já as campanhas de Julieta Reis e Serginho do Posto não responderam aos questionamentos do Plural até a finalização desta reportagem.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Campanha para Câmara de Curitiba vai parar na Polícia Federal”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima