Galápagos vende 1,3 milhão de jogos de tabuleiro em dois anos

Sucesso da empresa brasileira é o fato de jogos de tabuleiro terem se tornado um estilo de vida durante a pandemia

Não era de se esperar que, em meio a tantas opções de jogos eletrônicos, os jogos de tabuleiro voltassem com tudo. Mas foi o que aconteceu. A pandemia chegou e, com o ela, o isolamento social. Atividades que poderiam ser feitas em casa e em família ganharam espaço na rotina dos brasileiros.

Segundo a Euromonitor International, provedora mundial de informação de negócios globais, análise de mercado e informações de consumo, o setor dos jogos de tabuleiro, que antes da pandemia crescia 1% ao ano, fechou 2020 com aumento de mais de 3%. 

O tempo passou e, mesmo com o alívio das restrições, os jogos de tabuleiro continuaram na mesa, e os números mostram que vieram para ficar. A indústria de jogos de tabuleiro lança cerca de 5 mil títulos por ano, e seu valor deve chegar a US$ 21,5 bilhões em 2025, segundo a empresa de pesquisas Grand View Research.

Desde 2018, a Galápagos Jogos, empresa especializada em produtos do gênero, cresceu 400%. Com 700 jogos no catálogo, a Galápagos vendeu cerca de 1,3 milhão de jogos nos últimos dois anos.

Para o CEO e fundador da empresa, Yuri Fang, a expansão se deve a três fatores: “Em primeiro lugar, o crescimento vem de um mercado que ainda tem muito a conquistar, que ainda é desconhecido, tem muita gente até hoje que se encanta pela primeira vez. Tem essa característica do nosso mercado, de ele ainda não ser bem maduro. Não posso deixar de fora a pandemia, quando a percepção em relação aos jogos mudou.”

Antes, os jogos de tabuleiro concorriam com outras formas de entretenimento, como ir para a praia, ao bar ou ao cinema. Durante a pandemia, com o isolamento, a interação familiar virou uma necessidade. “O que fazer em casa, trancado, e com pessoas de idades diferentes, com interesses diferentes? Como equilibrar isso em uma atividade em que todo mundo participe? De verdade, acredito que os jogos de tabuleiro são a melhor ferramenta que você pode usar pra esse desafio de integrar pessoas que têm background diferentes”, afirma o CEO.

O terceiro motivo contextual para o sucesso da Galápagos é o fato de o jogo de tabuleiro ter entrado como um elemento de estilo de vida no dia a dia das pessoas. Isso só foi possível, de acordo com Fang, por conta da evolução dos jogos, o que deu nome à empresa.

Novas experiências em jogos de tabuleiro

Os novos jogos proporcionam experiências radicalmente diferentes de clássicos como Banco Imobiliário, Jogo da Vida e War, de estilo norte-americano, que se caracterizam pelo conflito direto, alta aleatoriedade (com uso de dados, por exemplo) e eliminação de jogadores. 

Os produtos que estão fazendo sucesso são do estilo europeu, surgido na década de 1970, fruto, em parte, de uma aversão aos jogos focados no conflito direto, após as consequências da Segunda Guerra Mundial. Influenciados mais pela interação social que pelos dados, os jogos europeus proporcionam conflito indireto e muitas vezes estimulam a cooperação. Os jogadores permanecem na partida até o fim, mesmo perdendo, e as direções que a partida pode seguir são muitas.

“Eles são desenhados como uma experiência para o jogador em primeiro lugar, e isso faz com que o jogo de tabuleiro, em si, seja o elemento que vai ligar os jogadores entre si. Tem também a temática, que é envolvente. Esse crescimento no mundo inteiro só foi possível com toda essa inovação. Se fossem os mesmos jogos ainda, esse interesse não existiria”, diz Fang.

Outra diferença dos jogos modernos é que o designer é uma peça importantíssima dentro da experiência. O nome dele está escrito na caixa, as pessoas sabem de quem é a autoria e isso influencia a escolha do produto, como acontece na literatura, no cinema e na música. “Se você olhar a caixa do Monopoly, não está escrito o nome de quem criou. Essa valorização do artista faz parte da experiência dos jogos modernos”, diz o fundador da Galápagos Jogos.

Os maiores sucessos

Os jogos de tabuleiro distribuídos pela empresa que mais fazem sucesso são Dixit, Dobble e Ticket to ride. De acordo com o CEO, são três jogos icônicos e fáceis de jogar, que vão contra qualquer percepção de que o jogo de tabuleiro moderno é pra nerd, que é demorado e complicado: “O leque de opções é imenso. Você vai ter jogos que são, sim, complicados, para quem quer uma densidade maior, mas há jogos mais leves em termos de regra e complexidade que vão oferecer momentos fantásticos também.”

O início

A semente da ideia da Galápagos Jogos foi plantada na Austrália, quando Yuri Fang (CEO), Thiago Brito e Renato Sasdelli fizeram um intercâmbio e conheceram jogos de tabuleiro diferentes dos encontrados no Brasil, que proporcionavam uma experiência mais dinâmica e atual. Ao finalizar o curso de engenharia na Universidade de São Paulo (USP), já de volta, os amigos decidiram empreender e trazer jogos famosos lá fora, como o Dixit e Ticket to Ride, para o país. Abriram a empresa em 2009 e trilharam o caminho para se tornarem uma editora de jogos.

Do curso de engenharia, trouxeram a capacidade de resolver problemas. “Se eu pudesse resumir em uma frase a engenharia, seria ‘resolver problemas’. E o caminho do empreendedorismo é um caminho de muita adaptabilidade, de resolução de problemas o tempo inteiro. Essa capacidade me ajudou bastante na resiliência ao longo desses doze anos”, diz Fang.

Hoje, a empresa atua em três linhas relacionadas aos jogos de tabuleiro: edição e distribuição dos jogos da gigante mundial dos jogos de tabuleiro, Asmodee, empresa que comprou a Galápagos em 2018, e distribuição de jogos que não são feitos por ela, mas que passam pela curadoria da equipe. “A curadoria é uma parte importante do nosso trabalho. Anualmente, são lançados mais de 5 mil jogos, a gente precisa escolher com o máximo de assertividade”, afirma o CEO da Galápagos.

Há, ainda, jogos que fazem parte do portfólio, pois o grupo acredita na propriedade intelectual, a exemplo do Magic. A Galápagos os distribui, mas quem cuida do lançamento das próximas coleções é a Wizards of the Coast, a detentora dos direitos. 

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Galápagos vende 1,3 milhão de jogos de tabuleiro em dois anos”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima