Focada na democratização do acesso à saúde, startup de Curitiba é premiada na Alemanha

Criada em 2017, a Hilab desenvolveu um laboratório de exames portátil usado em 5 mil pontos do país, de clínicas e postos do SUS

Uma startup criada em Curitiba com foco na humanização de exames clínicos e procedimentos médicos acaba de ser reconhecida no iF Design Award 2022, uma das principais premiações de design do mundo. No mercado há cinco anos, a Hilab desenvolveu um laboratório portátil capaz de fazer 40 exames de sangue e no dia 16 de maio será a única empresa brasileira a ganhar o selo Gold Award do iF Design, em Berlim, na Alemanha.

O pequeno laboratório, chamado Hilab, está presente em cerca de 5 mil estabelecimentos, entre hospitais, clínicas, consultórios e postos do SUS, em aproximadamente 1,5 mil cidades brasileiras. Ele permite a realização de exames com uma gota de sangue, que é misturada a reagentes. O aparelho lê os dados e os encaminha para uma equipe de biomédicos da própria Hilab. O resultado é enviado por e-mail ou por aplicativo para o paciente em até 30 minutos. 

A semente da Hilab foi plantada em 2004, quando Marcus Figueredo e Sérgio Rogal estudavam Engenharia da Computação na PUC-PR e criaram a primeira sociedade para desenvolver um software de telemedicina. Eles venderam a empresa em 2009 e abriram outro negócio, que durou até 2015. O salto, conta Figueredo, foi quando eles resolveram cuidar de toda a cadeia, ao invés de somente vender o produto.

“Foi uma evolução nossa dentro do mercado. Quando a gente começou, tinha a cabeça de estudante de engenharia, de fazer o software e vender”, conta Marcus Figueredo, CEO da Hilab. “À medida em que fomos colocando softwares no mercado, percebemos coisas que incomodavam a gente. Tentamos criar produtos humanizados e percebemos que essa humanização não passava só por ter um design bonito, mas tinha que resolver o problema do acesso das pessoas à saúde.”

O foco, diz Figueredo, foi levar o Hilab ao maior número possível de usuários. “Se a gente vendesse, correria o risco de virar um produto gourmetizado. A ideia era causar um impacto maior e tomamos uma decisão complexa, no sentido de não vender o produto, mas de virar uma empresa de saúde.” 

“Hoje tem o Hilab em clínicas de luxo, mas também tem em farmácias populares e postos do SUS. Temos feito exames em aldeias indígenas e comunidades quilombolas. Quem está vendendo acaba vendendo para quem tem mais dinheiro, um laboratório tem mais opções.”

Marcus Figueredo, CEO da Hilab.
O Hilab tem 13 centímetros e faz 40 exames. Foto: divulgação/Hilab.

Expansão

A maior expansão veio em 2020, primeiro ano da pandemia do novo coronavírus. A Hilab crescia em média 30% ao mês desde 2017, mas em 2020 aumentou 50 vezes de tamanho. Naquele ano, a empresa foi avaliada em R$ 300 milhões. Atualmente tem mais de 400 colaboradores.

Para Marcus Figueredo, o crescimento em meio à pandemia comprovou a tese de que o país não tinha laboratórios em número suficiente. “Agora faz sentido dizer que o país não tinha laboratórios suficientes, mas em 2019 havia um discurso contrário. Quando acabaram os leitos de UTI houve tumulto, nos laboratórios aconteceu a mesma coisa.”

A Hilab fornece os equipamentos, a tecnologia e o treinamento necessário para clínicas, hospitais e consultórios, que podem ampliar a oferta de exames. “Os equipamentos são pouco maiores que uma caneca e a gente consegue transformar qualquer lugar em uma estação para fazer exames de sangue. Como a análise é remota, só precisa ter na ponta um profissional de saúde.”

No caso do SUS, os contratos são feitos por meio de licitações ou parcerias público-privadas. “Para quem vive em uma grande cidade e tem plano de saúde fazer exames é um pouco chato, mas em lugares mais remotos as pessoas ficam sem os exames. A gente mostrou um jeito fácil de fazer isso em qualquer lugar e equipar os profissionais de saúde. Hoje, 70% das decisões médicas são influenciadas por exames laboratoriais”, afirma Figueredo.

A empresa participou da Missão Kayapó, do governo federal, para levar a telemedicina a áreas remotas como aldeias indígenas da região Norte do país, e da ação Favela sem Corona na Rocinha, com a realização de testes em moradores da comunidade. A Hilab também foi parceira do Instituto Butantan no desenvolvimento da Plataforma Tainá, utilizada para centralização e gestão dos dados epidemiológicos e de vacinação na pandemia do coronavírus.

Atualmente o Hilab está sendo testado em outros países da América Latina e em Portugal. “Está sendo testado na fase piloto em farmácias e clínicas. A ideia é mostrar que a solução é global”, diz Figueredo. “Na escala em que a gente está fazendo não existe no mundo. Uma mesma máquina que faz exame de colesterol e HIV é algo novo.” A empresa também desenvolveu o Hilab Molecular, para exames moleculares. Apresentado ao mercado em 2021, ele fornece os resultados em até 40 minutos.

Vale do Pinhão

Em 2019 e 2021, a Hilab participou do programa Tecnoparque da prefeitura de Curitiba, que oferece redução de 5% para 2% do ISS a empresas de base tecnológica que investem em pesquisa para criação de novos produtos e geração de empregos. Desde 2018, segundo a prefeitura, a desoneração soma R$ 210 milhões. Neste ano, o iF Design Award contou com 28 projetos brasileiros reconhecidos pela instituição, participação de 57 países e 10.700 inscrições.

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