Lições de moral com o escritor Valter Hugo Mãe

Novo livro do autor português trata das coisas que podem dar sentido à vida

“As mais belas coisas do mundo”, o novo livro do português Valter Hugo Mãe, tem pelo menos duas coisas importantes em comum com “O paraíso são os outros”, um livro que ele publicou cinco anos atrás: os dois são ilustrados por Nino Cais e ambos procuram dizer algo sobre o sentido da vida (ou sobre o que pode dar sentido à vida).

No caso do livro antigo, a narradora é uma menina que conta tudo o que aprendeu sobre o amor. São textos curtos intercalados com fotos antigas de casais em trajes de casamento. Pois a menina fala desse amor que forma casais de homens com mulheres, de mulheres com mulheres e de homens com homens (no finzinho, ela considera o amor de pais, filhos, amigos e familiares, mas o principal ali é o que chamam de “amor romântico”). “O paraíso são os outros” defende a ideia de que a solidão “é uma perda de sentido que faz pouca coisa valer a pena”, de que “a nossa felicidade depende de alguém”.

No livro novo, que também é narrado por uma criança, as ilustrações de Nino Cais mostram detalhes de plantas, insetos e obras de arte. Faz sentido porque o menino que conta a história fala sobre o que seu avô lhe ensinou a respeito da vida. “O meu avô sempre dizia que o melhor da vida haveria de ser ainda um mistério e que o importante era seguir procurando. Estar vivo é procurar, explicava.”

Segundo “As mais belas coisas do mundo”, o sentido da vida está em verbos como procurar, aprender, cuidar e prestar atenção.

Ilustração de Nino Cais para o livro “As mais belas coisas do mundo”.

A certa altura, o avô quer saber do neto quais seriam as mais belas coisas do mundo. O menino responde com uma lista, dizendo que elas poderiam ser os filhotes de cão, alguns gatos, o fim do sol (que deve ser o mesmo que “entardecer”, em português de Portugal), o verão inteiro, a cara das mulheres e “o quadro pintado pendurado na sala, perfeitinho, mesmo que as árvores inclinassem um bocado tortas”.

A reação do avô é perguntar para o menino “se não haviam de ser a amizade, o amor, a honestidade e a generosidade, o ser-se fiel, educado, o ter-se respeito por cada pessoa”. Li e reli o livro (que é pequenininho e convida a várias leituras) e não consegui me desvencilhar da sensação que Valter Hugo Mãe, assim como o avô da história, está dando um monte de lições de moral. E algumas bem comuns. (Ou talvez eu esteja sendo espírito de porco.)

As frases de efeito são tantas que elas acabam anulando umas as outras. Toda página de texto tem uma máxima: “O que sentem as pessoas é quase sempre mascarado”; “Quem não acredita não está preparado para ser melhor do que já é”; “No verdadeiro amor tudo é para sempre vivo”… É como uma lista de aforismos não muito originais.

Porém, como se trata de um texto escrito por Valter Hugo Mãe, ainda existem momentos lindos, como quando o menino entende, após a morte do avô, que “fazer-lhe justiça era acreditar que, um dia, alguém poderia reconhecer a sua influência em mim”.

Serviço

“As mais belas coisas do mundo”, de Valter Hugo Mãe. Biblioteca Azul, 48 páginas, R$ 49,90.

O autor participa da Feira Internacional do Livro, em Foz do Iguaçu, no dia 5 de setembro, às 20h, numa conversa mediada pelo escritor José Castello.

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