Nanette e o humor que dói no peito

Despedindo-se de sua carreira como comediante, Hannah Gadsby leva o público do riso ao choro com temáticas sensíveis

Quando a comediante australiana Hannah Gadsby sobe ao palco da Sydney Opera House, ainda não há muitas pistas sobre o que seu show – intitulado “Nanette” – falará. As duas linhas de sinopse, da própria Netflix, não dizem muito: “Ela vai abandonar a comédia, mas não sem antes jogar os holofotes sobre as sociedades tóxicas e a autodepreciação”. E se fazer um stand up para anunciar o fim de sua carreira como comediante pode parecer paradoxal, espere até você chegar ao fim da pouco mais de uma hora de show. 

Hannah é uma mulher com uma imagem fora dos padrões de feminilidade: os cabelos curtos revelam as orelhas sem brincos; enquanto o blazer azul marinho revela pouco a forma dos seios. Graduada em artes, e trabalhando com comédia há mais de uma década, Hannah nos leva do riso ao choro em uma montanha-russa de sensações. 

Sua matéria-prima é a tensão, e a comediante consegue domá-la à sua própria vontade como poucos. Não só a tensão do público, que se vê diante de punch lines surpreendentes, e inovadores, a cada piada, mas também a tensão dos temas que Hannah decide abordar. Questões de gênero e sexualidade, história da arte, comédia enquanto forma de expressão, e – claro – a violência por trás de cada um desses itens.

É a própria vivência de Hannah – enquanto uma mulher lésbica, nascida na Tasmânia nos anos 70 – que norteia o roteiro de “Nanette”. “Eu preciso contar minha história do jeito certo”, diz. Ao longo do show, a comediante inverte papéis, desconstrói situações do dia a dia, conecta a plateia pelo riso – para logo depois acertar em cheio o peito de quem a assiste, fazer colocações dolorosas.

Sobre o que fala “Nanette”? Entre o riso e o choro, os espectadores podem descobrir que – assim como em uma piada – a resposta pode ser surpreendente.

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