Famílias são despejadas em reintegração de fazenda do “mensalão”

Propriedade pertencia ao ex-deputado José Janene (PP) abrigava 167 moradias.

Após a reintegração de posse de 167 famílias em Londrina, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota na qual manifesta repúdio à ação e a atos de violência. A desocupação foi realizada por 275 homens da Polícia Militar, com direito a tropa de choque, cavalaria e helicóptero. A fazenda, envolvida em processo judicial, pertence a herdeiros do ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010, acusado de participação no ‘mensalão’, esquema de compra de votos no Congresso. Para os bispos, terras de “grandes devedores” deveriam servir para a promoção da reforma agrária no Brasil.

As famílias retiradas no dia 30/7 pertencem ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e estavam lá desde 2015. Elas foram abrigadas em outro assentamento (Eli Vive) mas reclamam de não ter sido avisadas da reintegração nem receber apoio ou lonas para abrigar seus pertences. Para a CNBB, é urgente a promoção da reforma agrária “como meio de paz no campo e promoção da agricultura familiar de subsistência”.

Na Fazenda Lerroville, localizada a 50 quilômetros do Centro de Londrina, foi montado o acampamento Quilombo dos Palmares, onde cada família recebia um espaço para plantar. “Esperamos que sejam revistos todos os despejos nas terras paranaenses, tendo em vista que essas famílias estão há muitos anos trabalhando, produzindo agricultura de subsistência, educando os filhos e construindo comunidade em áreas pertencentes a grandes devedores da União ou do Estado que eram tidas, anteriormente, como improdutivas”, dizem os bispos no documento. “Preocupa-nos o futuro dessas famílias, que de forma inesperada e agressiva, foram retiradas do seu espaço de convívio, trabalho e dignidade.”

Móveis e utensílios domésticos foram deixados sem abrigo. Foto: MST

Segundo a CNBB, neste momento de “polarização e intolerância, é preciso que o diálogo até a exaustão, na busca de soluções pacíficas, seja condição irrenunciável”.

O MST informou que no local os trabalhadores plantavam arroz, feijão, mandioca, batata, milho, alho, hortaliças, dentre outras culturas. Também havia criação de porcos, galinhas, bovinos e equinos, e cultivo de plantas medicinais.

O movimento recebe doações de colchões, roupas, alimentos e utensílios domésticos no Canto do MARL – Movimento dos Artistas de Rua de Londrina, localizado na Avenida Duque de Caxias, 3241, Centro.

Reintegração envolveu 275 policiais militares. Foto: MST

Janene

Líder do PP na Câmara dos Deputados, Janene foi acusado de participar do ‘mensalão’ no Congresso. O parlamentar foi uma das peças-chave da investigação e tido como pivô no esquema de compra de votos. Suspeito de receber R$ 4,1 milhões foi acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A verba ilícita teria ligação com as empresas do publicitário Marcos Valério, condenado, em 2012, a 40 anos de prisão.

Janene morreu em 2010, vítima de problemas cardíacos, antes da sentença. No entanto, em março de 2019, sua viúva, Stael Rodrigues de Lima, foi condenada no processo a sete anos e meio de prisão, em regime semiaberto. O crime: esquema milionário de lavagem de dinheiro. Outros sete denunciados pelo MPF no mesmo processo também foram condenados este ano.

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