Exprèx comemora 20 anos sem festa, mas com muitas histórias

Há duas décadas o café acompanha as mudanças, histórias e acontecimentos ao redor da praça Santos Andrade

Na altura do 784, na Rua XV de Novembro, a calçada de petit-pavê apresenta uma elevação diferente. É como se uma pequena onda de concreto levasse os pés dos pedestres até a entrada do Exprèx Caffè. Ao lado da fachada histórica do Hotel O’Hara, a placa do café – em tons de amarelo e vermelho – só pode ser vista por quem transita daquele lado da rua. Há quase 20 anos, a cafeteria acompanha, de sua fachada toda envidraçada, gerações de estudantes da UFPR, apresentações no Teatro Guaíra, e manifestações na praça Santos Andrade. 

O nome é fruto de uma mistura entre francês e italiano. “Caffè”, da língua nativa da Itália, e “Exprèx” da expressão francesa “faire exprés”, algo como “fazer de propósito”. “Café feito de propósito, para alguém”, explica Roberto Takashima, um dos quatro sócios-proprietários da cafeteria. A data precisa de abertura é um mistério, perdeu-se na memória dos donos. “Foi dia 9 ou 8”, relata ao confirmar que novembro foi o mês de fundação.

“Vinte anos atrás, café não era o que é hoje”, diz Roberto. Ele relembra que o modelo de cafeteria, com mesas e cadeiras, em 1999, ainda era algo desconhecido para o público curitibano. “Quando a gente abriu, ninguém entendia muito bem: ‘Como assim, um café?’. Todo mundo dizia que era uma lanchonete”, comenta. 

Foto de 1999 mostra como o Exprèx mudou pouco ao longo dos anos

A ideia, e o conceito, vieram de fora do país – uma história que se mescla com a vida dos donos do lugar. Foi no Japão, na década de 1990, que Maringá, Curitiba e Porto Alegre, convergiram. De ascendência japonesa, o curitibano Roberto conheceu a esposa, a maringaense Simoni Yamaguty. Com o namoro, entraram em cena o cunhado, Julio Yamaguty e sua esposa, Cristina – gaúcha, de Porto Alegre. 

Depois de seis anos do outro lado do mundo, Roberto acabou trazendo toda a família para a capital paranaense. A ideia era, na volta ao Brasil, abrir um negócio. A princípio, o café foi apenas uma oportunidade – uma nova forma de consumir café. Hoje, o Exprèx se tornou a vida da família: cada qual responsável por um setor do empreendimento. Simoni é a barista, além de ministrar cursos; Cristina fica na parte de alimentos, Julio no financeiro; e Roberto – seguindo sua formação – com a parte de T.I. e comunicação. Não raro, é possível esbarrar com algum deles atrás do balcão.

O que começou como uma oportunidade de negócio acabou ganhando alma com o passar dos anos: “A gente se encontrou na cafeteria”, conta Roberto – os olhos correndo pelo salão. Foram nas histórias, para além do balcão, e na busca contínua por melhorias, que a família encontrou o propósito, o “faire exprès”. “Hoje acho que [o Exprès] é a nossa vida. Se você for ver, 20 anos… É a nossa história”, conta.

Quando questionado sobre clientes assíduos, ao longo dos anos, a resposta é simples: “Muitos morreram”, diz ao tentar lembrar de nomes e rostos. A verdade é que muita gente já passou pelo Exprèx, e até mesmo viveu partes de sua história ali. “Vi gente entrando na Federal, se conhecendo, casando – fui ao casamento! Vi o nascimento dos filhos deles e hoje são separados. Vi todo o processo, do começo ao fim”, relembra. 

Foto do ano de inauguração, em 1999.

Ao longo das duas décadas em que o Exprèx ocupa o mesmo ponto, em frente à Santos Andrade, as mudanças no conceito já foram muitas: de cafeteria, inicialmente inovadora, passando por confeitaria, restaurante e até bar. O local já chegou a abrir às 6h, e funcionar até à 1h da manhã. “Recebíamos a boêmia curitibana”, relembra Roberto enquanto aponta o exaustor, instalado no teto do estabelecimento em razão da clientela fumante que frequentava o lugar. Com o tempo, os sócios optaram por um novo modelo: priorizando refeições e eliminando os cigarros.

Antes de ser descoberto, o escritor Dalton Trevisan também foi freguês assíduo do lugar. “Agora desapareceu, uma pena!”, lamenta Roberto. Ficaram apenas as histórias: o proprietário ri ao lembrar das brincadeiras que Dalton, quase sempre acompanhado de um amigo, fazia no estabelecimento. “Ele gostava de pedir coisas diferentes. Chegava e dizia ‘quero bolinho de fubá mimoso’, e eu dizia ‘não tenho isso’. A gente ia lá e comprava, ele chegava no outro dia e tinha. Se ele quer, eu vou trazer!”, conta. 

Atualmente, a cafeteria funciona apenas durante a semana, e oferece cafés especiais, doces, salgados, e opções para o almoço. Tudo com um toque dos administradores: “Só não fazemos os pães de queijo”, conta. Das tortas, aos salgados, cafés e ao cardápio do almoço, todos os itens são receita da casa. Uma das chaves para a longevidade do lugar. 

Além do cuidado, é também a perseverança e a série de adaptações que mantém o Exprèx funcionando. “Acho que se tivesse começado esse negócio com 50, não teria a energia”, comenta Roberto. A princípio, não vai haver festa. Talvez uma promoção, um desconto ou algum brinde. “Nada programado ainda”, avisa o sócio. O que não falta, no entanto, são as histórias que já se passaram atrás da fachada envidraçada do café, e a vontade de mantê-lo funcionando. “Daqui alguns anos, não sei… depende muito da economia, vamos ver. […] Por nós, com certeza a gente continuaria”, finaliza. 

Serviço

Exprèx Caffè
Onde: Rua XV de Novembro, 784 (Centro)
Quando: de segunda a sexta, das 9h às 21h
O espaço oferece opções de cafés especiais, confeitaria, salgados, pratos à la carte e buffet no almoço.

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