“CWB” – quadrinhos de adornar afetos

José Aguiar é um monstro dos quadrinhos de Curitiba e, por extensão, do Brasil e, por extensão, do planeta. É um monstro que habita debaixo de nossas camas com o braço estendido para fora convidando-nos para ler seu livro mais […]

José Aguiar é um monstro dos quadrinhos de Curitiba e, por extensão, do Brasil e, por extensão, do planeta. É um monstro que habita debaixo de nossas camas com o braço estendido para fora convidando-nos para ler seu livro mais recente – todo ano tem um álbum novo. Como um Little Nemo, de Winsor McCay, não podemos recusar nunca, porque as viagens são passeios oníricos pelas memórias desbotadas que sobrevivem nos azulejos, lambrequins e araucárias de uma Curitiba que se desloca do eterno sonho europeu para o pesadelo latino-americano.

Zé Aguiar é um monstro de docilidade. Converse com ele e tenha a sensação de estar recebendo os conselhos de um padre franciscano que conhece mais de cultura pop do que da própria Bíblia Sagrada. Zé também é um monstro de decência e convicções. Um dia falou em uma mesa de geeks que era vegetariano. Então alguém gritou que isso era coisa de “viado”. Tudo bem, eu sou viado então, respondeu com a segurança de um Jó desenhado pelo Neil Gaiman, deixando o interlocutor engasgado com seu preconceito.

Também é um monstro de prolixidade. Nem bem acabou de lançar uma antologia da sua adorável personagem Malu, o meu favorito Coisas de Adornar Paredes, Reisetagenbush – Uma Viagem Ilustrada pela Alemanha e A Infância do Brasil e agora acaba de me esticar este novo CWB, publicado nessa quarentena pela sua editora, a Quadrinhofilia. Sim, além de tudo esse monstro do desenho ainda tem uma editora.

CWB é um história de amor, no final das contas. Amor pela cidade que um dia todos conhecemos na infância e adolescência, longe da perniciosa realidade. Ao invés de catadores de papel, moradores de marquises e transeuntes caminhando mascarados, a CWB imaginaria de José Aguiar é habitada por personagens como o Zequinha das figurinhas, O Boi e outros ícones dos quadrinhos da cidade. 

Ao contrário da Nova York de Will Eisner, onde os prédios velhos e a chuva emolduram os enredos cruéis de vidas banais, a CWB de José Aguiar nos remete à uma Curitiba intocável que vive no centro de nossos afetos, sem dor, sem vazio, sem desespero, sem realidade. Conseguimos dormir melhor assim, ao menos por mais uma noite.

Para ir além

CWB

José Aguiar

Lançamento virtual: sábado, 12 de dezembro, às 17h.

Canal do YouTube: Quadrinhofilia.

Participações: Fulvio Pacheco (Gibiteca) e Belle Félix (Ed. Panini)

Sobre o/a autor/a

1 comentário em ““CWB” – quadrinhos de adornar afetos”

  1. Realmente Zé Aguiar é um gênio em artes de desenho com renome internacional!! Concordo com Benett principalmente sobre a grandeza de espírito e empatia que José leva consigo!
    Grande artista e grande pessoa!!

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