Diante da pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”, Giulia Fontoura, na época uma menina de seis anos, dava uma resposta precoce: queria ser tatuadora. Então começou aos 19 anos, na pele da melhor amiga. Hoje, com 23 e uma graduação em design, ela tira seu sustento do ofício artístico.
“Eu sonhava, mas não achava que ia acontecer”, conta ao relembrar que se inspirou em um reality show que mostrava o dia a dia de um estúdio de tatuagem nos EUA. Hoje, especialista em pontilhismo – seja em desenhos mais simples, ou no realismo que coloca na pele dos clientes –, Giulia divide seu tempo entre a tatuagem e a atuação como DJ.
O amor pelo pontilhismo, uma técnica de pintura que surgiu na França, em meados do século XIX com o movimento impressionista, veio durante o curso de design – quando teve que experimentar diferentes técnicas artísticas. Como o próprio nome sugere, o método se vale de pequenos conjuntos de pontos para criar imagens – não há traços. Na pele dos clientes, a tatuadora mescla pontos e traços de acordo com a proposta do desenho.
Criada entre artistas e professores – filha de musicista, neta de pintora e sobrinha de designer – o incentivo sempre veio de casa. Giulia não lembra, mas a mãe conta que foi aos cinco anos que a menina começou a desenhar, por uma insatisfação com as “obras” da mãe. “Fiz ela desenhar três ou quatro bichos, e diz que me revoltei, dizendo que os desenhos eram todos iguais. Me revoltei porque os desenhos dela não me satisfaziam, e comecei a fazer meus próprios desenhos”, conta a tatuadora, enquanto ri.
Com a pandemia, no entanto, Giulia interrompeu as atividades no estúdio de tatuagem. “Estou tentando pensar em jeitos de me reinventar de uma forma que não sature os outros”, diz. A tatuadora foi um dos 150 artistas contemplados pelo edital da Fundação Cultural de Curitiba que promoveu um auxílio emergencial de R$ 1.500 para artistas da cidade. Para receber o valor, Giulia mostrou seu trabalho com pontilhismo por meio de retratos, tatuagens e ilustrações – publicados em seu perfil no Instagram – e enviou um breve histórico sobre a arte. O plano, agora, é encontrar formas de continuar trabalhando, mantendo o isolamento e sem abrir mão do ofício artístico. “Gostaria de não ter que abrir mão disso para poder pagar as contas”, destaca.
Perguntada sobre como será o futuro, ela é sincera: “Não faço ideia do que te responder”, afirma. O jeito é continuar procurando. “Eu prezo muito pela minha saúde e pela saúde da minha família […] Não acho que vale a pena passar por cima das restrições para voltar a tatuar”, diz.